As fraudes por e-mail continuam a crescer em Portugal e, cada vez mais, assumem formas engenhosas para manipular os cidadãos. Uma das mais recentes envolve a utilização de falsas notificações de infrações rodoviárias com o objetivo de obter pagamentos indevidos ou de roubar informações pessoais sensíveis. Trata-se de um esquema que joga com o medo e a urgência, explorando a confiança que os portugueses depositam nas entidades públicas.
O novo esquema: falsas multas de 120 euros
Circulam mensagens fraudulentas que imitam notificações oficiais sobre alegadas infrações ao Código da Estrada. Numa destas comunicações, observada pelo Notícias ao Minuto, o remetente apresenta-se como “Autenticação Gov”, tentando imitar a aplicação oficial do Estado que dá acesso a serviços digitais.
No corpo da mensagem, é exigido o pagamento de uma coima de 120 euros, supostamente aplicada em território português, com um prazo de 30 dias para pagamento. Para reforçar a manipulação psicológica, é fornecida uma ligação para um alegado “Gabinete de Contraordenações”, acompanhada da ameaça de custos adicionais e até de ações legais em caso de incumprimento.
A assinatura é outro sinal inequívoco de fraude: “Serviço de contraordenações – República Portuguesa”. Importa sublinhar que esta entidade não existe.
Como identificar uma fraude digital deste tipo
Apesar de parecer convincente à primeira vista, um olhar atento permite detetar os sinais de fraude:
- Domínio de e-mail suspeito: após o “@” surgem extensões ou domínios que não pertencem a organismos oficiais portugueses. No caso observado, o domínio tinha origem na Suíça.
- Erros linguísticos: expressões como “Prezado(a) Senhor(a)”, de uso pouco comum no português europeu, revelam uma provável adaptação automática ou cópia de modelos usados noutros países.
- Entidades fictícias: não existe nenhum “Serviço de contraordenações” em Portugal. A autoridade responsável é a ANSR – Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.
- Tonalidade ameaçadora: prazos curtos, ameaças de custos adicionais e de processos legais são formas de coação emocional para induzir ao erro.
O que dizem as entidades oficiais
Contactada pelo Auto ao Minuto, a ANSR não respondeu em tempo útil sobre este caso específico. Contudo, no seu site, a entidade deixa recomendações claras: as notificações relativas a infrações rodoviárias são sempre enviadas por correio físico e nunca por e-mail.
Também a DECO PROteste reforça a importância de desconfiar de mensagens suspeitas. As fontes oficiais utilizam sempre domínios próprios do Governo, nunca endereços genéricos. O apelo à urgência, links duvidosos ou ficheiros anexados devem ser encarados como sinais imediatos de alerta.
Como se proteger contra o phishing
Estes esquemas, conhecidos como phishing, procuram enganar as vítimas para recolher informações bancárias, palavras-passe ou para instalar programas maliciosos. Para se proteger, é essencial:
- Não clicar em hiperligações de e-mails suspeitos.
- Nunca efetuar pagamentos através de links recebidos por e-mail.
- Verificar o remetente, confirmando se o domínio corresponde a um organismo oficial.
- Consultar diretamente a ANSR ou outras autoridades competentes, em caso de dúvida.
O impacto emocional das fraudes digitais
Mais do que a perda de dinheiro, estes esquemas provocam ansiedade, medo e desconfiança. A urgência transmitida nas mensagens apela à reação impulsiva, apanhando de surpresa cidadãos que, por receio de represálias legais, acabam por ceder à pressão. É um ataque psicológico que não deve ser subestimado.


Como denunciar fraudes digitais em Portugal
A melhor forma de combater este tipo de fraude é não só evitá-la, mas também denunciá-la. Em Portugal, os cidadãos podem recorrer a vários canais oficiais:
- Polícia Judiciária (PJ): responsável pela investigação de crimes informáticos. Pode ser apresentada queixa em qualquer diretoria ou unidade local da PJ.
- GNR ou PSP: qualquer esquadra ou posto pode receber denúncias, que depois são encaminhadas para a unidade competente.
- Linha Internet Segura (800 21 90 90): serviço gratuito e confidencial de apoio e aconselhamento em situações de fraude ou abuso online.
- Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS): disponibiliza orientações de prevenção e pode encaminhar situações de cibercrime.
- Portal Queixa: embora não seja oficial, é uma ferramenta útil para partilhar experiências e alertar outros cidadãos.
Guardar o e-mail fraudulento, sem clicar nos links, e apresentá-lo como prova pode ser crucial para apoiar as investigações.
Conclusão: vigilância é a melhor defesa
As fraudes por e-mail estão a tornar-se cada vez mais sofisticadas e, por isso, exigem atenção redobrada, refere o Notícias ao Minuto. Reconhecer os sinais, manter a calma e confirmar sempre a autenticidade das comunicações são passos fundamentais para não cair na armadilha dos cibercriminosos.
Em caso de dúvida, procure sempre confirmar junto da ANSR ou recorrer ao Portal das Finanças para verificar se existe alguma infração em seu nome. Lembre-se: a autenticidade é sempre física no que toca a notificações oficiais de trânsito. Denunciar é também proteger outros cidadãos do mesmo engano.
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