À primeira vista, pode parecer uma cena de postal: o mar azul a perder de vista, a areia dourada e uma linha de espuma branca a desenhar a orla da praia. Mas nem sempre aquilo que parece natural é inofensivo. A espuma que se acumula à beira-mar pode esconder uma realidade perturbadora — em certos casos, é um aviso visível de poluição ou até um perigo silencioso para a saúde de quem frequenta a praia.
Quando a espuma é apenas um fenómeno natural
De acordo com especialistas, a espuma natural forma-se quando a força das ondas agita partículas orgânicas em decomposição — algas, plâncton e pequenos fragmentos de plantas marinhas.
O resultado é uma espuma leve e passageira, inofensiva para o ser humano e até parte do equilíbrio natural do ecossistema.
Este fenómeno é comum em várias praias do mundo, e em Portugal não é exceção. Porém, a sua presença não deve ser confundida com ausência de risco: há sinais visíveis que podem indicar quando esta espuma já não é obra apenas da natureza.
A espuma que revela poluição
Em muitos casos, a espuma persistente é provocada pela entrada de substâncias poluentes no mar — resíduos industriais, químicos agrícolas, esgotos domésticos ou até detergentes que chegam às águas através dos rios.
Quando estas substâncias entram em contacto com a água, alteram a sua tensão superficial, permitindo que as bolhas permaneçam mais tempo e se acumulem em grandes quantidades.
A diferença salta à vista: a espuma adquire um aspeto mais denso, pegajoso, por vezes com cores invulgares ou cheiros fortes e desagradáveis, semelhantes a detergente, óleo ou esgoto.
Esta alteração é muito mais do que estética — é um claro indício de contaminação, com riscos sérios para o meio marinho e para a saúde pública.
O perigo escondido das “marés vermelhas”
Um dos cenários mais preocupantes ocorre com as chamadas “marés vermelhas”, resultantes da proliferação excessiva de certas algas tóxicas. Apesar do nome, a água nem sempre assume tons vermelhos — pode também adquirir tonalidades castanhas, verdes ou douradas.
Estas algas libertam toxinas poderosas capazes de matar peixes, envenenar moluscos e crustáceos, e provocar reações alérgicas ou dificuldades respiratórias em banhistas que entrem em contacto com a água ou inalem os compostos transportados pelo vento. Mais grave ainda é o risco associado ao consumo de marisco contaminado por estas toxinas, que pode originar intoxicações alimentares graves, com sintomas que vão de náuseas e vómitos a problemas neurológicos sérios.
Como reconhecer espuma perigosa
Nem sempre é fácil distinguir a espuma natural da espuma tóxica, mas existem sinais de alerta que não devem ser ignorados:
- Cheiro anormal: odor intenso, químico, semelhante a detergente, combustível ou esgoto.
- Aspeto estranho: cores diferentes do branco habitual, podendo surgir amarelada, acastanhada, acinzentada ou até esverdeada.
- Textura suspeita: espuma densa, oleosa ou pegajosa, que não desaparece rapidamente com o vento ou a maré.
- Resíduos visíveis: lixo, plásticos ou matérias estranhas presos na espuma.
Perante estes sinais, o mais sensato é manter distância e reportar a situação às autoridades.
Porque é que o risco aumenta no verão
O verão, estação de praias cheias, é também o período em que as águas costeiras enfrentam maior pressão. O turismo, a navegação marítima e a intensificação de descargas poluentes contribuem para a contaminação.
A isto junta-se o aumento da temperatura da água, que favorece o florescimento de algas nocivas. Também as chuvas fortes, típicas de final de estação, arrastam fertilizantes e químicos agrícolas dos campos para os rios, que acabam inevitavelmente por desaguar no mar.
Tudo isto cria um terreno fértil para que a espuma suspeita apareça precisamente na altura em que mais procuramos o mar para descanso e lazer.
O que fazer em caso de contacto com espuma suspeita
Se encontrar espuma com sinais de poluição:
- Evite entrar no mar nessa zona.
- Informe a capitania do porto ou a câmara municipal, para que possam ser feitas análises e colocado aviso público.
- Se houver contacto acidental, lave-se de imediato com água limpa e evite tocar nos olhos, boca ou nariz.
- Caso surjam sintomas como irritações na pele, dificuldade em respirar ou mal-estar, procure assistência médica de imediato.
Conclusão: na praia, a beleza pode esconder riscos invisíveis
Nem toda a espuma do mar é perigosa — muitas vezes, é apenas parte da vida marinha que se manifesta de forma natural, explica o Postal do Algarve. Mas quando apresenta cores estranhas, cheiros fortes ou textura persistente, pode estar a sinalizar uma ameaça real.
Na praia, como na vida, os detalhes contam. E a diferença entre um mergulho tranquilo e um risco para a saúde pode estar precisamente naquela espuma que, à primeira vista, parecia inofensiva.
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