Egas Moniz é o único português a receber o Nobel na área da ciência. Saiba qual foi a descoberta que lhe valeu o alto galardão.
Egas Moniz é um herói nacional. Conheça mais sobre o português que alcançou diversos feitos na área da medicina, mas que foi galardoado com um Nobel por uma intervenção cirúrgica polémica.
Sendo um homem com diversas qualidades, intervindo de diferentes formas no mundo, Egas Moniz permaneceu uma figura algo obscura. Fique a conhecer um pouco mais sobre uma das personalidades médicas mais fascinantes do século XX.
Egas Moniz: a descoberta que valeu o primeiro Nobel português!
Egas Moniz, uma breve biografia
A pessoa
António Caetano de Abreu Freire de Resende Egas Moniz é o nome completo do único Nobel português na área da ciência.
Nasceu em Avanca, freguesia do concelho de Estarreja, mais precisamente na “Casa do Marinheiro” (que hoje é a Casa-Museu Egas Moniz). Foi no dia 29 de novembro de 1874 que Egas Moniz veio ao mundo, enriquecendo o quotidiano de uma família da aristocracia rural.
Formou-se na Universidade de Coimbra, tendo-se tornado numa pessoa com uma pluralidade de aptidões notável pois, tendo sido uma figura ímpar e incontornável da Neurologia e da Neurocirurgia, o seu espírito de missão e empenho levou-o a explorar diversas áreas.
Além de um notável médico, neurocirurgião, cientista, Egas Moniz também foi um professor catedrático, orador, conferencista. O Nobel português foi ainda político e estadista de renome internacional. Egas Moniz foi ainda biógrafo, escritor e colecionador de arte, tendo legado ao nosso país grande parte do património que reuniu.
No dia 13 de dezembro de 1955, Egas Moniz, que tinha 81 anos, faleceu repentinamente. Encontrava-se na sua casa, em Lisboa, tendo posteriormente sido sepultado na sua terra Natal.
A obra
Egas Moniz exerceu vários cargos em hospitais, assumindo diferentes responsabilidades noutras entidades ligadas à saúde.
Egas Moniz também viu na política uma forma de intervir na construção do mundo, tendo exercido o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, num contexto político em que a presidência se encontrava ao cargo de Sidónio Pais.
Tendo escrito a tese sobre “A vida sexual”, que se tornou num “best-seller”, Egas Moniz deixou uma bibliografia extensa, havendo mais de 300 títulos da sua autoria ou que contaram com a sua colaboração. Os seus trabalhos exploram diferentes áreas, revelando parte dos seus interesses, existindo obras ligadas à Medicina, à política e à literatura.
A descoberta que lhe valeu o prémio Nobel
Egas Moniz ganhou o Prémio Nobel da Medicina em 1949. O Prémio Nobel da Medicina foi concedido a Egas Moniz pela operação cirúrgica que ele realizou ao cérebro.
Egas Moniz realizou a operação em vários doentes e, segundo a sua investigação, esta operação permitia aliviar, substancialmente, os sintomas mais agudos de doença mental. Esta operação era realizada em doentes com graves perturbações mentais. Este procedimento revelou-se uma opção para estas pessoas, pois a medicina nada oferecia como modo de aliviar o seu sofrimento.
A descoberta foi recebida com entusiasmo por certos meios clínicos da época. Esta intervenção, que ficou conhecida pelo “leucotomia pré-frontal”, consistia na realização de um corte nos lóbulos pré-frontais do cérebro. Este procedimento veio a dar origem à “lobotomia”.
O momento
Foi no dia 27 de outubro de 1949 que Egas Moniz soube que tinha recebido o Nobel da Medicina. A intervenção “leucotomia pré-frontal” foi o mote. Esta intervenção cirúrgica ao cérebro permitiu que o seu trabalho tivesse outro impacto.
No telegrama que recebeu de Estocolmo os professores do Karolinska Institute informaram Egas Moniz que tinha sido decidido que o Prémio Nobel da Fisiologia e da Medicina tinha sido atribuído a Egas Moniz e ao fisiologista suíço Walter Rudolf Hess.
Intervenção abandonada
No entanto, este procedimento que deu o Nobel a Egas Moniz foi, posteriormente, abandonado e substituído por medicamentos (psicofármacos), pois tratava-se de uma prática invasiva e que causava danos irreversíveis.
No entanto, apesar da intervenção (“leucotomia pré-frontal”) ser, atualmente, considerada totalmente obsoleta e inaceitável pelos padrões clínicos em vigor, ainda hoje é considerada um importante passo que levou ao progresso da saúde mental.
Polémica
A leucotomia representou uma esperança num contexto histórico em que não existiam medicamentos eficazes que fizessem o tratamento das desordens psiquiátricas. Frequentemente, os doentes acabavam fechados em asilos e até eram colocados em jaulas. O trabalho de Egas Moniz é, por isso, meritório, existindo uma obra extensa para lá da “leucotomia pré-frontal”, intervenção que lhe deu o Nobel, mas que hoje é vista com um certo embaraço…
Embora o trabalho de Egas Moniz tenha recebido o apoio de neurocientistas importantes da época, a intervenção encontra-se associada a um procedimento cirúrgico mais profundo, de prestígio duvidoso, a lobotomia.
Lobotomia
O neurologista Walter Freeman (dos Estados Unidos da América) revelou-se um fervoroso adepto da “leucotomia pré-frontal”, mas levou a intervenção a outro patamar. Walter Freeman tornou a técnica em algo horrível.
Ele recorria apenas a anestesia local, inserindo um picador de gelo pelos olhos dos pacientes e, com um martelo, destruía os lobos frontais de forma indiscriminada. Por isso, a sua intervenção foi batizada de lobotomia (pelo corte dos lobos), um procedimento distinto da leucotomia do médico português que visava o corte da matéria branca.
Tendo começado a fazer este procedimento na década de 30 do século passado, Freeman operou cerca de 20 mil pacientes até ao ano em que o Nobel foi atribuído a Egas Moniz (1949).
A violência do procedimento era tão atroz que chegou até a fazer com que cirurgiões reputados vomitassem ou desmaiassem ao assistir às suas intervenções cirúrgicas. Este método revelou-se uma solução útil e barata para lidar com doentes mentais mais agressivos ou com prisioneiros, pois a maioria das pessoas ficava inofensiva, completamente apática.
A lobotomia servia como uma espécie de colete-de-forças invisível. Permitia lidar com os doentes com maior facilidade, mas os seus efeitos eram irreversíveis. A partir de 1952, reconheceu-se que a lobotomia estava longe de ser uma cura e foi abandonada, pois finalmente começavam a surgir medicamentos que serviam como tratamento para as desordens psiquiátricas.
Outras contribuições científicas
Existem duas contribuições científicas fundamentais na obra de Egas Moniz, uma delas é a angiografia. A angiografia é uma técnica que permite visualizar os vasos cerebrais.
A psicocirurgia foi outro contributo, tendo sido este o primeiro tratamento cirúrgico para determinadas doenças psiquiátricas.
Herói nacional
Egas Moniz tornou-se num símbolo de excelência e numa referência em Portugal, pois tinha sido a primeira vez que um Prémio Nobel tinha sido atribuído a um português. Mas não foi um prémio inteiramente inesperado, pois o nome do português já tinha sido proposto quatro vezes.
Egas Moniz foi proposto em 1928, 1933, 1937 e 1944. O alto galardão ajudou a que Egas Moniz se tornasse num herói nacional. Até hoje nunca mais tivemos um Prémio Nobel na área da ciência, pois José Saramago recebeu um Nobel, mas da Literatura (algo que também muito nos honra!)…
Curiosidades
Entre as pessoas famosas que foram doentes de Egas Moniz, encontram-se nomes tão emblemáticos como Fernando Pessoa ou Mário de Sá-Carneiro.
Egas Moniz foi atingido a tiro por um paciente seu, num momento em já se encontrava em idade madura.
Realizou um duelo com Norton de Matos, pessoa com quem mais tarde se viria a reconciliar. José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos foi um famoso general, tendo também sido um político português importante.
A arte
Existe uma Estátua do Prof. Egas Moniz, feita em bronze, na entrada da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Existe um retrato do Prof. Egas Moniz (1932), realizado pelo famoso artista português José Malhoa. Atualmente, este retrato pode ser encontrado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, Portugal.
Casa-Museu Egas Moniz
Para saber um pouco mais sobre uma das figuras portuguesas mais fascinantes do século XX, pode sempre realizar uma visita à Casa-Museu Egas Moniz.
A casa que o viu nascer reúne uma vasta série de curiosidades irresistíveis acerca desta personalidade apaixonante.
Informação útil
Morada: Rua Prof. Doutor Egas Moniz, 3860 078 Avanca.
Localização GPS: N 40º 48’ 22.0” | W 8º 35’ 21.2”.
Horários
De terça a sexta 9h-12h00 / 13h30-16h30
Sábados e domingos 14h00-17h00
O espaço encerra às segundas e feriados.
Preçário
Ingresso tem o custo de 2€
Sendo gratuito para portadores do cartão-jovem, para estudantes e para professores, desde que se encontrem devidamente identificados
Para que sejam realizadas visitas guiadas, deve existir marcação prévia e os grupos serem reduzidos (até 6 pessoas).
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