Viajar de avião é, para muitos, um momento de entusiasmo, marcado por reencontros, férias e descobertas. No entanto, por trás do glamour das viagens aéreas, há um inimigo silencioso que afeta milhões de passageiros em todo o mundo: a dor de ouvidos provocada pelas mudanças de pressão.
Não estamos a falar de atrasos, bagagens extraviadas ou lugares apertados — trata-se de um desconforto físico que, segundo especialistas em aviação e estudos recentes, está entre as principais queixas dos passageiros.
De acordo com um estudo citado pelo jornal espanhol La Razón, 60% dos espanhóis já sentiram dor de ouvido durante um voo. Em mais de metade dos casos, o incómodo desapareceu sozinho, mas 6% precisaram de assistência médica por persistência da dor.
Porque é que os ouvidos sofrem no ar?
Os aviões viajam, em média, a 10.000 metros de altitude, onde o oxigénio é rarefeito e a pressão atmosférica é muito baixa. Para evitar o mal da altitude e outros riscos fisiológicos, a cabine é pressurizada para simular uma altitude mais confortável, equivalente a cerca de 2.500 metros.
O desafio surge nas fases de descolagem e aterragem. Nesses momentos, a pressão da cabine muda rapidamente e as trompas de Eustáquio — canais que ligam o ouvido médio à parte de trás da garganta — precisam de se abrir para equilibrar essa pressão.
Se este mecanismo não funciona a tempo, ocorre um desequilíbrio entre a pressão interna e externa do tímpano, provocando dor, sensação de ouvido tapado e, por vezes, zumbidos ou vertigens.
Otalgia barotraumática: o nome técnico
A ciência tem um nome para esta dor: otalgia barotraumática. É mais frequente em passageiros com constipações, rinite, sinusite ou alergias, já que estas condições dificultam a abertura da tuba auditiva.
Além do desconforto temporário, casos mais graves podem levar a pequenas lesões no tímpano. Felizmente, estas situações são raras, mas mostram a importância de prevenir o problema.
Como prevenir a dor de ouvidos no avião
Especialistas como Juan Ignacio Martínez, diretor dos Aural Hearing Centers, recomendam medidas simples, mas eficazes:
- Bocejar ou engolir repetidamente na descolagem e aterragem.
- Mascar pastilha elástica para estimular o movimento da trompa de Eustáquio.
- Evitar voar com congestão nasal.
- Se inevitável, utilizar descongestionante nasal 30 minutos antes do voo.
- Não dormir durante a descida, quando a mudança de pressão é mais acentuada.
- Utilizar protetores auriculares de pressão progressiva, que regulam a entrada de ar de forma gradual.
- Para bebés e crianças pequenas, oferecer chupeta ou biberão, pois o movimento de sucção ajuda a equilibrar a pressão.
Passageiros com aparelhos auditivos
A maioria dos passageiros que usa aparelhos auditivos pode manter o dispositivo ligado durante todo o voo, sem risco para o ouvido. No entanto, recomenda-se:
- Transportar baterias suplentes ou carregadores, pois alterações de temperatura e pressão podem reduzir a autonomia.
- Ajustar o volume de forma gradual, já que pequenas mudanças de pressão podem afetar a perceção sonora.
Quando a dor não passa
Se a dor persistir por mais de 48 horas após o voo, ou se houver sintomas como perda auditiva temporária, vertigens ou secreção no ouvido, é fundamental procurar um médico otorrinolaringologista.
Ignorar estes sinais pode levar a complicações, como infeções ou danos no tímpano.
Conclusão: viajar sem desconforto é possível
A dor de ouvidos no avião é um problema comum, mas não inevitável. Com alguns cuidados simples e atenção redobrada, é possível minimizar ou até eliminar este incómodo, transformando a experiência de voo em algo mais agradável e livre de dores.
Viajar deve ser sinónimo de prazer, e não de desconforto físico, afirma o Postal do Algarve. Ao conhecer as causas e as formas de prevenção, cada passageiro pode tornar a sua viagem mais tranquila — e os seus ouvidos vão agradecer.