Conheça melhor o doce fálico de São Gonçalo que marca presença nas Romarias de Amarante e é popularmente conhecido por “quilhõezinhos de S. Gonçalo”.
Há vários destinos em Portugal que se tornam perfeitos para uma escapadinha. Muitos desses locais portugueses apresentam Portugal no seu máximo esplendor. Apresentam uma beleza natural deslumbrante e diversas atrações (pontes, castelos, igrejas, entre outros). Há ainda destinos que, além dessas caraterísticas, destacam-se por revelar petiscos gastronómicos ou doces (tradicionais ou conventuais).
Amarante é um desses destinos, porque tem um doce controverso. Conheça melhor os doces fálicos que marcam presença nas Romarias de Amarante e são popularmente conhecidos por “quilhõezinhos de S. Gonçalo”.
O doce fálico de São Gonçalo: a origem e a receita secreta
Localização
O doce em questão é vendido em Amarante. Trata-se de um nome que está associado a um santo e tem um formato polémico…
Se fordes ao S. Gonçalo
Trazei-me um S. Gonçalinho.
Se não puderdes co’ele grande,
Trazei-me um pequenininho!
Nomes
Há uma forma de adoçar a boca em Amarante que tem um formato obsceno. Este doce amarantino é conhecido por vários nomes, como “colhõezinhos de S.Gonçalo”, “quilhõezinhos de S. Gonçalo”, “Colhões de São Gonçalo”, “Caralhinhos”. O vocábulo que mais se popularizou foi Colhões de São Gonçalo ou Caralhinhos.
Ora, como o nome indica, trata-se de um doce com o formato de um falo. Por isso, tratá-lo como doce fálico é o modo mais educado de designar este doce. O Doce Fálico tornou-se bastante popular e é procurado pela maioria das pessoas que visita Amarante.
Formato
Desta forma, o doce fálico tem esse formato peculiar. Deram-lhe os diversos nomes polémicos acima referidos. Ora, trata-se de uma ousadia herege que revela muito do espírito das pessoas de Amarante. No entanto, este doce tem muito que se lhe diga. Conheça a sua origem…
História
A origem deste doce polémico não está relacionada com o passado recente da região. Não se trata de uma brincadeirinha de mau gosto das pastelarias de Amarante. A origem do doce também não está no culto a São Gonçalo, que é muito estimado na região.
Para se chegar à verdadeira justificação, devemos ir ainda mais longe. Este é um doce com uma história muito antiga. Por isso, é necessário recuar a um tempo mais brumoso. O doce tem um passado pré-Cristão. Há uma influência deste tempo que acabaria por ser usado na devoção amarantina ao seu padroeiro.
Apesar de se entender que conjugar um doce com o nome colhões e o formato de um falo a um nome ligado à religião (São Gonçalo) não é um gesto nobre, que revele grande catolicismo.
Por isso, este doce está ligado à controvérsia e à polémica. Ao longo do tempo, não faltaram autoridades maiores a insurgirem-se contra essa heresia do povo, nomeadamente a Igreja, em primeiro lugar, e o Estado Novo, em segundo.
São Gonçalo é hoje um nome bastante ligado a Amarante, o casamenteiro das “encalhadas”. A verdade é que há muito a conhecer sobre Gonçalo. Tratava-se de um beato. A atribuição de santo não surgiu da Igreja; veio do povo!
São Gonçalo não é santo. Para a Igreja Católica, o homem é considerado beato, Beato Gonçalo de Amarante. No entanto, para a população, Gonçalo é santo e a devoção por ele não é menor, seja qual for a denominação utilizada. O túmulo, no qual se acredita estar o seu corpo sepultado, pode ser visitado na capela-mor do mosteiro.
São Gonçalo morreu a 10 de janeiro de 1259 (embora o ano seja incerto) na sua singela cabana de orações. Gonçalo foi sepultado nesse local, onde se construiu um grande mosteiro em homenagem à sua alma. Apesar de não ter sido oficialmente canonizado pela Igreja Católica, São Gonçalo é tido como santo pela população, sendo venerado pelo povo como um santo.
Gonçalo ficou conhecido pelos casamentos que ajudou a realizar. É essa história que torna Gonçalo numa personalidade reconhecida em Amarante. Esse histórico de casamentos foi fundamental para que Gonçalo fosse associado ao doce.
Ao ajudar em muitas histórias de amor, Gonçalo gozou do respeito da comunidade. O povo passou a usar Gonçalo ligando-o a antigos ritos ligados à fecundidade. A fama de casamenteiro de Gonçalo (aconteceu o mesmo com Santo António) veio mesmo a calhar, proporcionou a oportunidade de fundir o pagão com o cristianismo que, entretanto, se tinha institucionalizado.
E até as velhas rezam a São Gonçalo:
“São Gonçalo de Amarante
Casamenteiro das velhas
Porque não casais as novas
Que mal vos fizeram elas?
São Gonçalo de Amarante
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que vós sabeis”
Feitos associados ao santo
Gonçalo ficou assim ligado a prestações religiosas antigas e está associado a um culto à fecundidade da terra. Este homem singular até salva velhinhas da viuvez, ajudando-as a casar novamente já numa idade avançada.
Gonçalo ajudou ainda os homens a resolver o seu problema de impotência. Os homens rezavam a São Gonçalo a pedir solução para esse problema. As mulheres solteiras também roçavam os seus corpos no túmulo do santo. Desta forma, arranjavam marido.
As pessoas começaram a honrar São Gonçalo com o falo, um símbolo tão antigo quanto a existência humana. Em Amarante, é feito com a originalidade da doçaria tradicional, sendo um doce apelidado de caralhinhos / colhões / quilhõezinhos de São Gonçalo.
Evento
Os pénis de açúcar eram cozinhados como uma espécie de oferenda ao santo. Ele é celebrado duas vezes ao ano, no mês de junho, e a outra a 10 de janeiro, data da morte do santo.
Tradições
S. Gonçalo tem honras de Padroeiro de Amarante. A memória a S. Gonçalo é celebrada em duas ocasiões no ano.
A primeira acontece a 10 de janeiro, que se trata da data do seu falecimento. O outro momento da celebração acontece no primeiro fim de semana de junho, com as grandiosas festas da cidade.
No mês de junho, o sol apresenta-se na sua máxima força no hemisfério norte, a ser alvo de devoções ao brotar da Natureza, altura propícia ao amor. Tradicionalmente, os rapazes ofereciam os doces fálicos às raparigas, numa espécie de engate pouco subtil.
A massificação deste doce só se deu posteriormente, após se passar o período de censura a que o regime salazarista votou o doce. Depois desse tempo, os doces fálicos começaram a ser fabricados de forma mais industrial. Atualmente, encontramos estes doces em quase todos os cafés de rua da zona histórica de Amarante.
Curiosidade
Recentemente, num projeto que visava a divulgação da gastronomia amarantina, um enorme doce fálico foi construído, com 21 metros de comprimento!
O doce amarantino
Não existe uma receita deste doce. Há várias receitas do Doce Fálico. A culpa dessa realidade está na terra que sempre foi dada à invenção e reinvenção da doçaria regional. Através dos mosteiros, os doces eram produzidos de formas distintas. Quem o produzia guardava segredo.
Os ingredientes principais são conhecidos: açúcar (grosso e fino), farinha, manteiga e ovos fazem parte da matéria-prima. No entanto, o segredo está no tipo de massa usada. A cobertura açucarada do doce amarantino é feita no final.
Nesse momento, pincela-se primeiro com açúcar quente. Posteriormente, polvilha-se com os pós de açúcar. Há até versões que contam com recheio interior, mas nem todas o fazem.
Receita do Doce Fálico de São Gonçalo
Ingredientes
– 2 ovos
– 800 g de farinha
– 20 g de fermento para pão
– 300 ml de leite
– 7 c. de sopa de açúcar
– 3 c. de sopa de manteiga à temperatura ambiente
– 1 pitada de sal
Modo de Preparação
– Comece por colocar todos os ingredientes listados próximos de si, à disposição.
– Primeiro, reúna os ingredientes todos num alguidar (exceto a farinha).
– Em seguida, bata um pouco com a mão para os ligar.
– Depois, vá adicionando a farinha aos poucos.
– Faça-o até a massa descolar do alguidar.
Nota: pode necessitar de acrescentar um pouco mais de farinha.
– Depois, amasse um pouco até a massa descolar das mãos e do alguidar (leva 5 m).
– Posteriormente, deixe a massa a descansar.
– O descanso pode demorar cerca de 40 minutos a 1 hora (deve dobrar de volume).
– Em seguida, retire uma bola de massa.
– Posteriormente, molde no feitio de um cilindro comprido.
– Depois, faça um corte com uma faca numa das extremidades.
– Em seguida, enrole as pontas formando duas bolas, uma de cada lado.
– Posteriormente, dobre um pouco a massa na outra extremidade, apertando em baixo.
– Depois, pincele com gema de ovo.
– Em seguida, leve ao forno por cerca de 40 minutos.
Para a cobertura:
– Primeiro, coloque três colheres de sopa de açúcar em pó numa taça.
– Em seguida, coloque algumas gotas de sumo de limão para derreter o açúcar.
– Posteriormente, pincele os bolos com esta calda e deixe secar.
– Está pronto.
– Bom proveito!