Desvende os mistérios e a crueldade por trás de Diogo Alves, o infame criminoso que desafiou as autoridades e aterrorizou a população de Lisboa.
As pessoas sentem alguma atração pelos sustos. A popularidade dos filmes de terror e das notícias sobre acontecimentos macabros ajudam a defender essa ideia. O sucesso das escape room que se encontram espalhadas pelo país também espelham essa conclusão.
Ora, há figuras que viram protagonistas na sociedade pela responsabilidade de um comportamento desumano. Algumas delas fizeram coisas inenarráveis que as tornaram em figuras históricas. Uma delas criou um cenário de homicídios em série num aqueduto emblemático do país.
Diogo Alves, o galego que aterrorizou Lisboa
Um lugar na história
Segundo alguns historiadores, Diogo Alves terá atirado contra mais de 70 pessoas no Aqueduto das Águas Livres. Estes números ajudam a defender a tese de que este homem foi um dos maiores criminosos de Lisboa no século XIX. Desta forma, este “serial killer” assegurou um lugar na história pelos piores motivos.
O motivo
O modo como matava as suas vítimas levou a que Diogo Alves se tornasse conhecido como o “Pancada”. Embora não exista nenhuma relação de causa efeito que leve a este comportamento, alguns historiadores defendem que terá sido a bebida e o vício que levaram este homem a cometer assaltos grotescos. Outros indivíduos defenderam que Diogo Alves era simplesmente louco. De qualquer das formas, independentemente do motivo que o levou a fazer estes atos ignóbeis, certo é que ele ficou para a história como um dos assassinos em série mais temidos do nosso país.
O passado
A alcunha dada a Diogo Alves, o “Pancada” ficou associada a este homicida. Dado o terror causado na época, esta personalidade temível foi sendo recordada pela opinião popular. O homem responsável por um conjunto vasto de assassinatos nasceu na Galiza.
No entanto, a sua chegada ao nosso país terá sido realizada ainda na sua juventude, tendo ficado na capital portuguesa, Lisboa.
A vida do homem
Ele começou a trabalhar como criado. Diogo Alves até chegou à posição de boleeiro. Ele ficou responsável por tratar de cavalos em diversas casas senhoriais. O cumprimento das funções serviu para ganhar a confiança dos seus patrões. O reconhecimento da sua mais-valia comprova-se pelo facto de alguns dos patrões chegarem a emprestar-lhe largas quantias.
As más influências
Ao contrário de Diogo Alves, a sua companheira não tinha boa fama. O seu nome era Gertrudes Maria. Esta mulher era conhecida como a “Parreirinha”. Ela não era vista como uma boa influência. No entanto, não foi só esta companhia a levar Diogo Alves por caminhos menos nobres. O “Pancada” também se envolveu no jogo. O mundo das apostas em corridas de cavalo fez com que acumulasse dívidas. O álcool contribuiu para o encaminhar para comportamentos menos nobres.
Ficar para a posteridade
Graça Pacheco é uma historiadora que conhece bem esta personalidade histórica. Apesar de Diogo Alves não ser português, o galego ficou guardado na memória popular entre os grandes criminosos de Portugal. Este assassino em série destaca-se como uma figura imponente no quadro das figuras mais desumanas do nosso país.
O estudo
Na tese de doutoramento de Graça Pacheco, realizada em Estudos Portugueses da NOVA FCSH, a autora destaca este assassino em série. Nesta obra, intitulada “Criminosos popularizados na narrativa de divulgação (De 1838 aos Alvores da República)” (2015), o galego é mencionado como uma figura que se destacava pelo seu método insólito.
A investigadora destaca o “véu de mistério em torno de alguns feitos particularmente escabrosos” em que se inserem os assassinatos das Águas Livres.
O método
Embora não se tenha a certeza do número de vítimas, pensa-se que Diogo Alves tenha sido responsável por cerca de 70 mortes. Acredita-se que o galego insistia num método insólito: ele assaltava os indivíduos e depois atirava-os das galerias do Aqueduto das Águas Livres.
Desta forma, sem testemunhas na área, não havia ninguém para denunciá-lo. Ora, como houve a ideia de que muitas pessoas tivessem optado por terminar a sua vida no local, o número de vítimas de “O Pancada” é incerto.
Muitas das pessoas assassinadas foram associadas a uma vaga de suicídios. No entanto, os repetidos acontecimentos levaram à desconfiança de que algo se passava.
Condenação à morte
Diego Alves foi o último indivíduo condenado à morte. Aconteceu em 1840. Desde então mais nenhuma pessoa teve esta sentença em Portugal. Contudo, não foi pelos assassinatos das Águas Livres que Diogo Alves teve esta condenação.
Embora ele seja atualmente reconhecido pelos homicídios, o motivo que levou a que cumprisse essa sentença foi um assalto. Diogo Alves assaltou casa de uma figura relevante, Pedro de Andrade, um médico. O assalto perpetrado pelo galego desembocou no massacre da família.
A investigação à cabeça
Na Escola Médico Cirúrgica de Lisboa, é possível encontrar a cabeça deste criminoso. Apesar de ter sido estudada por cientistas visando chegar a possíveis causas da sua crueldade, a verdade é que a investigação não teve frutos.
Contudo, a cabeça de Diogo Alves continua conservada, mantendo-se na Faculdade de Medicina de Lisboa até à atualidade.
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Inspiração
Diversos autores agarraram-se a criminosos tão impactantes como Diogo Alves, que fizeram surgir mitos de rua, aproveitando o lado misterioso e assustador destas figuras para criarem as suas narrativas.
Na época, houve relatos orais que foram aproveitados, conseguindo-se também incorporar outras fontes de conhecimento dos crimes para a criação das suas estórias.
Rigor pela verdade
A historiadora Graça Pacheco defende a seguinte posição: “Os autores das ficções raramente explicitaram de forma rigorosa as fontes impressas utilizadas; tão pouco referiram os instrumentos de pesquisa ou de consulta”.
Por isso, a investigadora pretende alertar para essa realidade. É fundamental saber distinguir fontes teórico-científicas e judiciais das fontes baseadas em rumores públicos.
Exemplos
Existem várias obras que apresentam esta figura. No entanto, o Diogo Alves surge como uma figura numa obra de ficção. Algumas das obras que recriaram a figura deste galego assassino em série foram “Vida, e Morte de Diogo Alves” da autoria de Francisco Leite Bastos, “Supplicio de Diogo Alves: Canto em Verso Heroico” obra escrita por António Manoel Terras e “Historia Verdadeira e Completa do Celebre Ladrão Diogo Alves” cujo autor é Francisco Silva.
Estas obras foram tidas em conta pela investigadora Graça Pacheco, pois na sua tese de doutoramento estudou a popularização de criminosos como “O Pancada”.