Estamos tão habituados a viver rodeados por cidades e freguesias familiares que raramente paramos para pensar na origem dos seus nomes. No entanto, cada nome carrega consigo um pedaço da história, por vezes entrelaçado com mitos e lendas antigas. Neste artigo, exploramos a fascinante origem dos nomes de três importantes localidades próximas do Porto: Gondomar, Rio Tinto e Valongo.
Gondomar: a marca de um rei visigodo
Situado tão perto da cidade do Porto que, recentemente, foi palco de uma troca de territórios entre os dois municípios, Gondomar tem um nome com raízes históricas profundas. Segundo a explicação oficial dada pela Câmara Municipal, a origem do nome remonta ao período visigótico, estando relacionado com um monarca dessa época.
O rei em questão chamava-se Gundemaro, e terá governado entre os anos 610 e 612. Acredita-se que foi ele quem estabeleceu um Couto na região, ou seja, um território concedido a uma ordem religiosa ou nobreza para administração própria. Com o passar dos séculos, o nome Gundemaro terá evoluído foneticamente até se transformar na designação atual: Gondomar.
Embora não existam provas documentais concretas sobre este acontecimento, a teoria é amplamente aceite e ajuda a compreender a presença visigótica na região durante os séculos VI e VII.
Rio Tinto: um rio tingido de sangue na batalha contra os mouros
Dentro do município de Gondomar, encontra-se a importante freguesia de Rio Tinto, cujo nome remete para um episódio de guerra e conquista territorial.
A origem do nome remonta ao início do século X, numa altura em que os cristãos estavam a reconquistar territórios anteriormente ocupados pelos mouros. Segundo registos históricos, o Conde Hermenegildo Guterres, governador de um vasto território entre a Galiza e Coimbra, tinha como centro de operações a cidade do Porto. No entanto, essa estabilidade foi abalada quando o califa Abdelramam III reuniu um exército para cercar o Porto, tentando recuperar a cidade para os mouros.
A resposta cristã veio por intermédio do rei Ordonho II de Leão, que partiu em auxílio do conde. O confronto foi violento e sangrento, e as tropas muçulmanas acabaram por ser perseguidas e expulsas da cidade. A última grande batalha travou-se junto a um ribeiro de águas cristalinas, onde o combate foi tão feroz que o sangue dos guerreiros tingiu as águas de vermelho. Desde então, esse curso de água passou a ser conhecido como Rio Tinto, nome que perdurou até aos dias de hoje.
A história pode ter sido romantizada ao longo dos séculos, mas o certo é que a região de Rio Tinto esteve, de facto, envolvida nas lutas da Reconquista, tendo sido um território de disputa entre cristãos e muçulmanos.
Valongo: a lenda de Susão e um vale extenso
Seguimos agora até Valongo, uma cidade repleta de tradições e lendas. Entre as histórias que procuram explicar a origem do seu nome, destaca-se a lenda de Valongo e Susão. De acordo com esta lenda, um grupo de cristãos perseguidos no Oriente fugiu para a Península Ibérica, encontrando refúgio na cidade de Cale (atual Porto), na foz do rio Douro. Entre os fugitivos estava Samuel, um próspero comerciante judeu, e a sua filha, Susana. Porém, a região ainda estava sob domínio árabe, e os refugiados não estavam totalmente seguros.
O destino dos cristãos mudou quando os mouros capturaram um jovem chamado Domus, que se tornou peça-chave na luta pela paz entre os dois povos. No entanto, a história tomou um rumo inesperado quando Domus e Susana se apaixonaram, desafiando todas as regras culturais e religiosas da época. Para consumar o seu amor, Domus decidiu converter-se ao cristianismo e os dois fugiram juntos.
A fuga levou-os até ao topo da Serra de Santa Justa, onde Susana ficou maravilhada com a beleza do vale que se estendia diante dos seus olhos, explica a VIVA!. Decidiram então estabelecer-se ali, fundando uma povoação que recebeu o nome de Susão, em homenagem à jovem.
Já o vale, cuja vastidão tanto impressionou Susana, passou a ser conhecido como Valongo, derivado da expressão “vale longo”. Esta denominação manteve-se ao longo dos séculos, até se transformar no nome oficial da cidade.
Embora a lenda não tenha confirmação histórica, ela ilustra o imaginário popular que rodeia as origens da cidade, combinando mitos de fuga, amor e descoberta de novas terras.
O peso da história na identidade local
Os nomes das localidades que conhecemos hoje não surgiram por acaso. Por trás de cada designação há séculos de histórias, batalhas, conquistas e, por vezes, até lendas que foram passando de geração em geração. No caso de Gondomar, Rio Tinto e Valongo, os seus nomes evocam reis visigodos, batalhas sangrentas e histórias de amor e coragem, ajudando a preservar a memória da região.
Seja pela história ou pelos mitos, estas cidades carregam consigo uma identidade única, que merece ser valorizada e recordada.