Fique a conhecer os incríveis momentos finais da emblemática D. Maria I. O fim trágico da Rainha de Portugal dava um filme de Hollywood.
Portugal tem uma história tão fascinante, quanto longa. São quase 900 anos de história! Ao longo destes 9 séculos (sensivelmente), o nosso país foi palco de diversos acontecimentos marcantes.
Muitos foram os portugueses que protagonizaram momentos que ficaram para a nossa história. Muitos dos episódios tiveram reis e rainhas como protagonistas, por isso interessa-nos saber mais sobre algumas destas personalidades que causaram mudanças significativas no nosso país.
No presente artigo do NCultura, iremos centrar a nossa atenção em D. Maria I, uma rainha que viveu dias verdadeiramente infernais, antes de se despedir deste mundo.
A rainha portuguesa com fama de louca e que usava colete de forças
D. Maria I
Esta mulher portuguesa singular nasceu em Lisboa, no dia 17 de dezembro de 1734. A menina D. Maria teve uma educação como merecia alguém da sua estirpe. Era filha de D. José I e de D. Mariana Vitória de Bourbon. Mais tarde, casou-se e da sua união com D. Pedro III nasceu D. João VI, aquele que foi o seu sucessor.
O reinado
Esta rainha ficou conhecida pelo cognome de “A Piedosa”. D. Maria I reinou entre 1777 e 1816. O seu percurso vital ficou marcado por diversos acontecimentos importantes, algo comum em quem teve o poder de reinar. Por isso, torna-se difícil condensar toda a informação relevante em apenas algumas linhas.
O contexto
D. Maria I liderou o reino num contexto delicado. O império português que tinha sido muito poderoso encontrava-se em decadência. A monarca de Portugal reinou num momento difícil.
O surgimento dos ideais contrários aos absolutismos na Europa estavam a ganhar expressão em Portugal. D. Maria I foi alvo das mais infelizes conspirações. Estas visaram
manchar a imagem da rainha, que entrou para a história com o injusto título de louca. A rainha foi retirada do trono que era seu por direito, por via de preconceitos e pelos diversos esforços realizados para a mudança do governo.
Legado
Apesar do abandono precoce do reinado e do fim trágico de D. Maria, certo é que esta mulher portuguesa revelou-se uma das monarcas mais importantes da história de Portugal. Por isso, os historiadores acabaram por fazer-lhe a justiça que não houve no seu tempo.
A ex-monarca
Na época em que D. Maria I reinava, surgiu um confronto explosivo. A aristocracia absolutista de Maria I viveu um conflito estrondoso com o despotismo esclarecido de Pombal, que apresentava uma matriz mais burguesa.
Esta realidade delicada (ou explosiva) levou ao desenvolvimento de uma tentativa forçada de renovação política, que foi reprovada pela monarca. No entanto, os esforços de Pombal (aliado à Família Real) fizeram com que D. Maria fosse derrubada no ano de 1792.
A monarca foi afastada de assuntos políticos. As razões para o seu afastamento foram a sua aparente insanidade. No entanto, atualmente, defende-se que a hipótese de esquizofrenia da rainha não seja verdadeira.
A depressão
D. Maria I perdeu o companheiro e ficou arrasada. Ao contrário do padrão da época, esta mulher casou nas condições ideais, havendo amor entre as partes. Por isso, quando o casamento de D. Maria e D. Pedro III foi interrompido pela morte deste, D. Maria não soube lidar com a dor.
A monarca desenvolveu todos os sintomas que hoje se relacionam com uma depressão profunda. Dona Maria I apresentava uma constante e profunda tristeza, uma realidade incapacitante, que levou à perda de autoconfiança.
Vários sintomas
Os sintomas que D. Maria I apresentava revelam o inferno que viveu nos seus últimos dias. A (ex-)monarca apresentava um sentimento de vazio e revelava irritabilidade que podia surgir devido aos distúrbios do sono, que também geravam grande fadiga.
D. Maria I vivia em isolamento e revelava um sentimento de culpa e de inutilidade que a levava a uma depressão constante e profunda.
A loucura
D. Maria I passou por grandes dificuldades psicológicas. A rainha ficou para a história como “a louca”. A verdade é que a monarca apresentou na época um complexo quadro de depressão.
No entanto, mesmo que a loucura tenha sido desenvolvida, há que perceber o contexto. D. Maria I era a mulher mais poderosa do país. No entanto, num curto espaço de tempo, teve de lidar com a sua profunda impotência, teve de enfrentar a dor de vários lutos, do marido, do tio, da sua filha D. Mariana (e do genro), do filho mais velho José e até do amigo Frei Inácio, pessoa muito próxima com quem D. Maria se confessava.
Vendo as coisas por este prisma, perder a sanidade revela-se uma consequência natural. Se esta realidade atroz não resultasse em loucura, seria um milagre.
Reação da monarca
Os médicos da rainha começaram a indicar diversos remédios que não faziam os efeitos desejados. A rainha era alvo de diagnósticos errados gerados pelo preconceito. No entanto, o consumo de muitos desses remédios era negado pela monarca.
D. Maria I recusou-se a tomar os medicamentos receitados. A sua preocupação passou a ser a sua salvação espiritual. No entanto, se D. Maria I tinha medo do inferno, este passou a fazer parte da sua vida com os tratamentos que se seguiram.
Em 1792, Francis Willis foi convocado a Portugal para cuidar da saúde da senhora mais poderosa do país. Francis Willis era médico. Além de padre, foi muito bem pago, mas não conseguiu recuperar a saúde de D. Maria I, muito pelo contrário.
Reação do povo
Diversos eventos próprios da corte de Lisboa foram cancelados perante este quadro de doença. Houve momentos em favor da paz solitária de Maria I. Foram realizadas preces públicas solicitando a sua recuperação.
As reclamações da rainha em relação ao seu mal-estar eram constantes e a depressão levou a que existisse uma série de variações de humor.
O responsável
O Dr. Francis Willis foi o homem responsável pelos seus tratamentos. Este homem submeteu a monarca a diversos tratamentos pelos quais era conhecido.
Nesse contexto, que visava recuperar a sanidade da rainha, foram usadas camisas de força para impedir uma liberdade de movimentos a D. Maria I. Houve banhos de água gelada que era outra técnica que este Dr. Francis Willis usava frequentemente. Além disso, houve também a temível terapia por choques elétricos.
Tratamentos
D. Maria I teve um fim de vida infernal, caracterizado pela dor e abuso. A monarca foi submetida a diversos “tratamentos” violentos. Em diversos momentos, D. Maria I ficou isolada da família e deixada às traças. Este contexto levou a que a sua depressão fosse agravada.
Esta realidade infernal contribuiu para que D. Maria se perdesse em devaneios, discursos de dor e desespero que imploravam pela salvação da alma. D. Maria I até viu o seu sustento religioso ser tirado dela. Na época, acreditava-se que os ícones como os que a ex-rainha usava para a sua reza agravavam a sua loucura.
Consequências nefastas
A violência exercida como “tratamento” levou D. Maria I a desenvolver acessos de instabilidade emocional. O médico responsável pelo tratamento de D. Maria I, Dr. Francis Willis, foi o mesmo que fez tratamentos a George III. Este foi rei da Grã-Bretanha e da Irlanda. O seu reinado ocorreu de 25 de outubro de 1760 até ao momento da união dos dois reinos, o que sucedeu a 1 de janeiro de 1801.
George III foi o primeiro Rei do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda até à sua morte. No entanto, Dr. Francis Willis demitiu-se das funções de ajudar D. Maria I perante a clara ineficácia dos seus tratamentos.
Fuga para o Brasil
D. Maria I teve de lidar com mais um contexto stressante pouco tempo depois, mais precisamente no fim do ano de 1807. Nesse momento, a Família Real realiza uma fuga para o Brasil.
Apesar das dificuldades deste contexto delicado, D. Maria I até se mostrava a pessoa mais calma da situação. D. Maria I ainda viveu no Brasil ao longo de 8 anos. No entanto, foi em constante infelicidade.
D. Maria I passou a viver no Convento do Carmo, Rio de Janeiro. Os seus os últimos dias passou em isolamento. Vivia a rezar e a chorar, numa infernal tristeza. Antes de morrer, D. Maria viveu em profunda tristeza, vivendo dias infernais antes do seu último suspiro. Os seus últimos dias de vida foram mesmo muito difíceis.
A morte
D. Maria I faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de março de 1816, com 81 anos. A morte de D. Maria foi fortemente sentida. A população admirava D. Maria I, por isso o seu desaparecimento causou grande dor.
O corpo da monarca passou por grandes cortejos fúnebres até ser sepultada na cidade onde se encontrava. Os restos mortais de D. Maria I foram levados para Lisboa em 1821, onde se encontram até hoje. Atualmente, é possível visitar a Basílica da Estrela e ver o seu nome imortalizado no mausoléu.