D. Manuel II foi o 34.º e último monarca de Portugal, reinando entre 1908 e 1910, num dos períodos mais turbulentos da história nacional. Conhecido como o “Rei-Saudade”, o jovem soberano ficou marcado pela sua curta, mas significativa, passagem pelo trono e pela dignidade com que lidou com a sua deposição e exílio.
A ascensão ao trono
Nascido a 15 de novembro de 1889, em Lisboa, D. Manuel II era o segundo filho do rei D. Carlos I e da rainha D. Amélia de Orleães. A sua infância foi relativamente tranquila, sendo preparado para uma vida afastada do trono, já que o herdeiro legítimo era o seu irmão mais velho, D. Luís Filipe. Contudo, tudo mudou com o trágico Regicídio de 1908, no qual o rei D. Carlos I e o príncipe herdeiro foram assassinados em plena Praça do Comércio, em Lisboa, num atentado que chocou o país e marcou profundamente a família real.
Com apenas 18 anos, D. Manuel II ascendeu inesperadamente ao trono, assumindo o comando de uma monarquia já enfraquecida e ameaçada pelos ventos de mudança política e social que sopravam na Europa e em Portugal. O jovem rei tentou reconciliar as forças monárquicas e republicanas, mas os desafios eram imensos, e o tempo jogava contra ele.

O reinado de D. Manuel II: tentativas de salvar a monarquia
Apesar da sua juventude e inexperiência, D. Manuel II demonstrou grande coragem e determinação ao enfrentar as adversidades que marcaram o seu breve reinado. Procurou implementar reformas que modernizassem o país e reconciliassem os vários setores da sociedade. Entre as suas iniciativas mais notáveis estão:
- Abertura ao diálogo político: Procurou aproximar-se dos republicanos e moderar as tensões, nomeando chefes de governo mais populares e procurando estabilizar a situação política.
- Valorização da cultura e educação: Durante o seu curto reinado, incentivou o desenvolvimento cultural e científico, sendo um grande defensor das artes e do conhecimento.
No entanto, o seu reinado foi constantemente abalado por intrigas políticas, movimentos republicanos e um crescente descontentamento popular, agravado por crises económicas e sociais. A 5 de outubro de 1910, após uma revolução republicana que mobilizou amplos setores da população e das forças armadas, D. Manuel II foi deposto. Sem resistência, partiu para o exílio em Inglaterra, encerrando quase oito séculos de monarquia em Portugal.
O exílio em Inglaterra
No exílio, D. Manuel II estabeleceu-se em Twickenham, perto de Londres, onde viveu de forma discreta, mas com grande dignidade. Apesar da dor de perder o trono e a pátria, o rei nunca deixou de se preocupar com Portugal. Tornou-se um mecenas das artes e da cultura portuguesas e dedicou-se ao estudo e preservação de documentos históricos nacionais.
Entre as suas contribuições mais importantes está a publicação de uma obra monumental sobre a bibliografia portuguesa, intitulada “Livros Antigos Portugueses (1489-1600)”, que reflete a sua paixão pelo conhecimento e pela história do país. D. Manuel II manteve também relações cordiais com figuras políticas portuguesas e nunca apoiou tentativas de restauração da monarquia que pudessem causar divisões internas.

O legado do “Rei-Saudade”
D. Manuel II faleceu a 2 de julho de 1932, com apenas 42 anos, em Fulwell Park, vítima de edema da glote. Sem descendentes diretos, o último rei de Portugal deixou o seu património em testamento à Casa de Bragança, que continua até hoje a desempenhar um papel cultural relevante no país.
Embora o seu reinado tenha sido breve, D. Manuel II é lembrado como um homem culto, pacífico e dedicado, que enfrentou com nobreza o declínio da monarquia. O seu exílio é frequentemente visto como um exemplo de resiliência e amor ao país, mesmo nas circunstâncias mais adversas.
Reflexões sobre o fim da monarquia em Portugal
O reinado de D. Manuel II marca um ponto de viragem na história de Portugal. A transição para a Primeira República, apesar de prometer modernidade e progresso, foi acompanhada por instabilidade política e económica que durou décadas. Esta instabilidade levou muitos a refletirem sobre o papel da monarquia e a questionarem se o regime republicano trouxe, de facto, as mudanças esperadas.
Hoje, o legado de D. Manuel II é valorizado não apenas pelo seu papel como monarca, mas também pelo contributo que deu à preservação da memória histórica de Portugal. O seu nome é um símbolo de um tempo em que a monarquia, ainda que fragilizada, tentou encontrar o seu lugar num mundo em rápida transformação.
Vídeo de: Mário Ferreira
Conclusão
D. Manuel II foi mais do que o último rei de Portugal; foi um símbolo de uma época de transição, de sonhos e desilusões. O seu reinado curto, mas significativo e a sua vida em exílio continuam a inspirar debates sobre identidade, política e história em Portugal. No final, o jovem rei que perdeu o trono, mas nunca o amor pelo seu país, permanece uma figura marcante na memória coletiva dos portugueses.