Conheça a história de D. Henrique, o rei que não desejava ser rei e herdou o “fardo” num momento em que desejava ser Papa!
Tem interesse pela história de Portugal? A riqueza histórica do nosso país é vasta e não se esgota no que se encontra e no que se aprende nas escolas. Ao longo da nossa história, foram surgindo diversos episódios marcantes. Muitos deles, encontram-se relacionados com a monarquia. Existiram diversos reis portugueses que foram protagonistas de episódios insólitos.
Por exemplo, há um rei na nossa história que não tinha a ambição de usar a coroa na cabeça, pois tinha outras preferências para colocar na cabeça. Houve um rei que, antes de o ser, pretendia colocar na cabeça uma mitra, pois tinha a secreta ambição de ser Papa. Quer saber mais sobre esse assunto?
O rei que quis ser Papa e queria ter um filho
D. Henrique
O homem que não queria a coroa era filho, irmão e tio-avô de Reis. No entanto, queria ser Papa. Subiu ao trono numa idade avançada. Tinha 66 anos e um percurso de vida que estava muito longe de fazer adivinhar o seu destino.
D. Henrique foi o Rei improvável, pois ser rei nunca esteve nos seus planos.
Breve biografia religiosa
D. Henrique nasceu em 1512, mais precisamente no dia 31 de janeiro. Filho do Rei D. Manuel I e de D. Maria de Aragão e Castela, que foi a segunda mulher do Rei. D. Henrique não tinha como ambição ser rei, pois encontrava-se muito longe na linha de sucessão.
Era o quinto filho do rei D. Manuel I e tinha outras ambições para si pois, desde cedo, traçou para si um percurso religioso. Com apenas 10 anos de idade era Prior de Santa Cruz. Depois, com 11 anos de idade, era Abade de São Cristóvão de Lafões e Prior de São Jorge. Mais tarde, já com 21 anos de idade, D. Henrique era Administrador do Arcebispo de Braga.
D. Henrique tinha 27 anos, quando se tornou Arcebispo e Inquisidor-Mor. Mais tarde, tornou-se cardeal. Por isso, a sua ambição não era ser rei, mas sim a de conquistar o Vaticano.
O contexto da coroação
D. Henrique até já tinha conhecido um pouco da responsabilidade pois, ao longo da menoridade de D. Sebastião, D. Henrique tinha sido regente de Portugal, tendo assumido o trono numa conjuntura distinta. D. Henrique serviu como regente do seu sobrinho neto, entre 1562 e 1568.
D. Henrique tornou-se rei na sequência da morte do seu sobrinho, D. Sebastião, que ficou conhecido pelo cognome de “O Desejado”. D. Sebastião morreu na Batalha de Alcácer Quibir. A notícia da morte do jovem Rei de Portugal chegou rapidamente à capital.
Contudo, como o Rei era novo e não chegou a ter filhos, não havia herdeiro direto. Por isso, essa informação foi mantida em segredo por algum tempo.
A coroação
O rei D. Sebastião era sobrinho-neto de D. Henrique, sendo que a sua morte colocou um problema ao país. O Cardeal D. Henrique revelou-se uma solução a curto prazo. O tio-avô de D. Sebastião assumiu o trono, mas como já se encontrava numa idade avançada, o problema da sucessão não se encontrava inteiramente resolvido.
Naturalmente, o clérigo não tinha filhos, dada a sua responsabilidade. Como já era uma pessoa de idade avançada estava destinado a ter um reinado curto, acabando por morrer sem escolher um sucessor.
O Rei que quis ser Papa, queria ter um filho e não conseguiu
O cardeal que se tornou rei chegou a solicitar ao Papa uma autorização para casar e ter filhos. Contudo, D. Henrique, conhecido como “o Casto” e “o Cardeal-Rei”, foi incapaz de gerar um filho. As insígnias cardinalícias naturalmente que contribuíram para que D. Henrique morresse sem deixar herdeiros.
Como o Cardeal não conseguiu deixar um descendente direto da dinastia de Avis, nem foi capaz de nomear diretamente um sucessor, a responsabilidade da escolha de um sucessor acabou por ficar para as cortes. No entanto, até à altura da morte do D. Henrique, nenhuma decisão foi tomada, apesar de terem sido feitas reuniões.
Conspiração
D. Henrique foi rei de Portugal num dos momentos mais críticos e delicados da História do país. Desejou obter uma dispensa papal do celibato, tendo pedido ao Monsenhor António Maria Sauli para fazer o pedido ao Papa. Dias depois, Monsenhor António Maria Sauli parte para Roma com o pedido do Cardeal.
O rei pretendia revelar ao Papa Gregório XIII a intenção de D. Henrique se casar e ter um herdeiro. No entanto, a ação castelhana levou à frustração dos desígnios do Cardeal, pois fizeram por reter a carta régia em Espanha. Essa estratégia levou a uma perda de tempo que originou a oportunidade certa para convencer o Papa a não dar o seu aval ao pedido do Cardeal.
O papa Gregório XIII não libertou D. Henrique dos deveres cardinalícios. Por isso, ele manteve o celibato até ao momento da sua morte. O papa Gregório XIII era familiar dos Habsburgos que tinham a ambição de assumirem a Coroa de Portugal.