Eis uma história que merece ser mais conhecida. D. Duarte, o rei melancólico que morreu de peste e tinha grande consideração pelos estudos. A história de Portugal é única, repleta de curiosidades. Dispersas por uma longevidade incrível, são quase 900 anos de história de um país que viveu grande parte sob o reinado de reis. No total, foram 34 reis, distribuídos por 4 dinastias.
Ao longo desse tempo, muitos foram os acontecimentos interessantes que merecem maior mediatismo. Existem alguns episódios sobre as vidas dos monarcas que, não surgindo nos livros de história, merecem ser mais conhecidos. Neste artigo, centramos a nossa atenção em D. Duarte. Quer saber mais?
D. Duarte, o rei melancólico que morreu de peste
O Interregno 1383-1385
A crise de 1383-1385 correspondeu a um período de guerra civil. Este acontecimento histórico ficou conhecido como Interregno. Foi um período histórico em que ninguém ocupou o trono.
Depois da morte do rei D. Fernando, a crise começou, pois ele não gerou herdeiros masculinos. Foi, então, que as Cortes de Coimbra escolheram João I como rei de Portugal.
Contudo, o rei D. João I de Castela era casado com a filha de D. Fernando e invadiu Portugal, pois queria a coroa para si. Apesar do exército castelhano ter sido bem mais numeroso, foi derrotado na batalha de Aljubarrota. Foi assim que João I se afirmou como novo soberano em 1385, terminando com o Interregno de 1383-1385.
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Dinastia
D. João I que nasceu no dia 11 de abril de 1357 em Lisboa era filho de D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço. Ficou conhecido pelo cognome de “O de Boa Memória”. Ele reinou entre 1385 e 1433. Da sua união com D. Filipa de Lencastre viria a nascer o seu sucessor. Depois de D. João I ter falecido, no dia 14 de agosto de 1433, foi D. Duarte que assumiu a coroa.
D. Duarte nasceu em Viseu, no dia 31 de outubro de 1391, tendo ficado conhecido pelo cognome de “O Eloquente”. Este rei acabou por falecer no dia 09 de setembro de 1438, devido à peste.
D. Afonso V, filho de D. Duarte e de D. Leonor de Aragão, reinou entre 1438 e 1481, tendo ficado conhecido pelo cognome de “O Africano”. Foi assim o início da 2ª Dinastia, conhecida como Dinasta de Avis ou Dinastia Joanina.
Curiosidades do Rei D. Duarte: “O Eloquente”
D. Duarte defendeu que todos os monarcas tinham o dever de estudar. O cognome de “O Eloquente” é bem aplicado, pois D. Duarte gostava de estudar. D. Duarte procurava respostas para questões existenciais, religiosas, escrevendo sobre manuais de comportamento que deviam ser seguidos por toda a nobreza, por membros da sua Corte e pelos demais súbditos do Reino.
Pode mesmo dizer-se que o Rei português antecipou a dúvida metódica de Descartes. Além disso, na sua obra “Leal Conselheiro” (também escreveu a obra Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela), que merece ser redescoberta nos nossos dias, analisou a melancolia, um feito importante realizado com séculos de antecedência ao trabalho realizado por Freud.
D. Duarte foi assim um cavaleiro melancólico que analisou a melancolia antes do médico neurologista e psiquiatra Sigmund Freud se debruçar sobre o tema.
Assim, antes do criador da psicanálise se centrar na temática da melancolia, já um rei português explorara o assunto.
A peste
O filósofo Michel Foucault escreveu sobre as medidas de controlo da população que foram realizadas em pleno surto de peste bubónica, doença que cercou Marselha no século XVIII. Estas medidas foram de tal modo extremas que o filósofo francês referiu que elas seriam a “utopia da sociedade perfeitamente governada”.
A cidade de Marselha estava sob uma vigilância e um controlo total. Tudo estava a ser controlado: bairros, ruas, casas e, por fim, indivíduos. Havia medidas disciplinares e punitivas agressiva, existindo relatos de famílias inteiras que eram fechadas à chave, em casa. O pão e o vinho que servia de alimentação era passado por um pequeno postigo. Havia as diárias, havendo uma passagem em cada rua para constatar os novos dados, percebendo-se se havia novos mortos ou doentes.
A infração destas regras, quer por parte dos habitantes, quer por parte dos soldados vigilantes, dava direito a pena de morte. Este cenário era temido em todo o mundo.
A melancolia do Rei
Henrique e Fernando eram os seus irmãos e convenceram D. Duarte a lançar um ataque a Marrocos. Decorria o ano de 1437 e o objetivo era consolidar a presença portuguesa no norte de África. O sucesso na operação representava uma base para a exploração do Oceano Atlântico. D. Pedro e D. João revelaram-se contra a iniciativa. Portanto, a ideia de atacar diretamente o rei de Marrocos não foi consensual.
O desenlace não foi o desejado. A campanha foi malsucedida. Mas não só a cidade de Tânger não foi conquistada, como houve grandes perdas em batalha. O infante Fernando foi capturado e serviu como garantia de devolução de Ceuta, mas morreu em cativeiro. Ele recusou-se a ser libertado em troca da devolução de Ceuta, ficando por isso a ser conhecido pelo cognome de “Infante Santo”.
O desaire de Tânger revelou-se a única nota negativa do seu reinado. Há quem defenda que ele tenha morrido de melancolia. O Rei-Filósofo viveu muitos anos numa profunda tristeza, sentimento que o perseguia depois do fracasso da expedição. Reconhecia como seus os erros que tornaram impossível o sucesso em terras marroquinas. A aflição e a dor pela “desventura do cerco de Tanger” perseguiram o rei até ao fim dos seus dias.
A peste
Contudo, em Portugal, também houve muitos casos de Peste, doença horrível que dizimou boa parte da Europa. Os sintomas mais comuns eram a febre, as dores de cabeça, os vómitos e o aumento de volume dos gânglios linfáticos. Estes sintomas surgiam depois de um a sete dias de exposição. A causa era uma bactéria, chamada Yersinia pestis, que muitas vezes era transmitida por pulgas.
A peste espalhou-se pelo reino e chegou ao Rei. “O Eloquente” faleceu no dia 09 de setembro de 1438, devido a peste.
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Ótimo… Gostei e foi muito interessante.
Revisitar a nossa história é muito importante, para não perdermos a identidade. Parabéns ao vosso site.