Saiba mais sobre uma data emblemática para Portugal. No dia 25 outubro de 1147 D. Afonso Henriques faz história e conquista Lisboa.
Há datas que são emblemáticas para alguns países, dias que representam conquistas importantes. Em Portugal existem algumas datas que ficaram para sempre com um lugar especial na nossa história, como acontece com o dia 25 de outubro de 1147. Neste dia D. Afonso Henriques conquistou Lisboa, um feito que se somou a muitos outros, tornando-o numa das figuras mais emblemáticas do nosso país.
D. Afonso Henriques conquista Lisboa no dia 25 outubro 1147!
O primeiro rei
D. Afonso Henriques nasceu no dia 25 de junho de 1111, em Guimarães, a cidade que se tornou no “berço da nação”. Filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa, ficou para a história do nosso país como “O Conquistador”, tendo sido o primeiro rei de Portugal. O Rei D. Afonso Henriques reinou entre 1143 e 1185. A 1ª Dinastia ficou conhecida como Dinastia Afonsina (ou por Dinastia Borgonha) por ter começado com D. Afonso Henriques.
Casou-se com D. Mafalda de Saboia. A Dinastia Afonsina prosseguiu com o filho herdeiro do trono D. Sancho I, que ficou conhecido como “O Povoador. O seu filho reinou entre 1185 e 1211. Já o seu neto, D. Afonso II (filho de D. Sancho I e de D. Dulce de Aragão), era conhecido como o “O Gordo” tendo reinado entre 1211 e 1223.
O cerco
D. Afonso Henriques entrou finalmente no Castelo de Lisboa, após realizar um cerco de cerca de quatro meses. Só depois desse momento é que conseguiu conquistar a cidade em definitivo. A ajuda dos cruzados do norte da Europa revelou-se importante nessa conquista, surgindo devidamente representada na obra de Roque Gameiro.
Alfredo Roque Gameiro (1864-1935) foi um pintor e desenhador português especializado em aguarela. Na sua obra (Cerco de Lisboa de 1 de julho a 25 outubro 1147, por Roque Gameiro), uma magnífica aguarela, destacam-se os navios de proas altas e de velas pandas típicas dessa região.
Pormenorização
Numa famosa carta todos os pormenores desse dia são contados por uma testemunha ocular, um dos cruzados. O manuscrito latino da carta encontra-se devidamente conservado no ‘Corpus Christi College’ da Universidade de Cambridge, em Inglaterra. O homem, de nome Osberno (ou Osberto), era oriundo da Inglaterra ou da Normandia, um cruzado que tinha formação religiosa (seria um clérigo ou presbítero).
Tendo em conta a qualidade do latim que foi por ele empregado e dadas as características do texto revelado, tudo indica que Osberno era um homem culto. O autor descreve na carta diferentes etapas da conquista de Lisboa, desde as fases preparatórias até ao período que se seguiu à tomada da cidade.
Os cruzados
Os cruzados eram provenientes de diversos locais, nomeadamente de Inglaterra, Gales, Normandia, Condado da Flandres, norte da França e Renânia (Alemanha). Em junho de 1147, os cruzados que estavam a caminho da Terra Santa, aportam na cidade do Porto, no norte de Portugal. Por lá são recebidos pelo bispo do Porto, tendo este sido enviado pelo rei Afonso Henriques de forma a convencê-los a ajudar os portugueses na conquista de Lisboa.
Posteriormente, é o próprio rei a encontrar-se com os cruzados. D. Afonso Henriques encontra-se com os cruzados nos arredores de Lisboa, momento em que realiza um discurso que tem como objetivo levar os cruzados a participar na conquista da cidade. Hervey de Glanville, o Condestável inglês, faz outro discurso que tem o mesmo propósito.
Os discursos na carta
Na carta, Osberno (ou Osberto) reproduz esses discursos, embora seja impossível determinar se neles há grande rigor, pois, por muito esforço que haja da parte do cruzado em ser rigoroso, as limitações daquele tempo são mais que muitas.
No manuscrito são referidas as palavras do bispo e do rei. Ambos tanto apelam ao espírito da cruzada contra os inimigos muçulmanos, como é feita a promessa do saque (pilhagem) da rica cidade de Lisboa. O rei D. Afonso Henriques também se compromete, no acordo final, a deixar isentos de impostos todos os cruzados que desejassem estabelecer-se em terras na região de Lisboa. João Peculiar, o arcebispo de Braga, também dirige um discurso aos lisboetas, tendo tentado convencer os lisboetas a se renderem sem luta, algo que foi recusado.
O longo cerco
O cerco começou em julho de 1147. Ao longo do tempo surgiram vários momentos de tensão entre os cruzados. Muitos dos momentos de tensão tinham origem na rivalidade existente entre os anglo-normandos e os flamengos e alemães.
Compreensivelmente, o autor anglo-normando descreve o comportamento dos seus compatriotas de maneira favorável. O mesmo não é feito quando descreve o comportamento dos flamengos e alemães. O cruzado também refere que a relação com as tropas portuguesas foi tensa por vezes.
O outro lado
As cartas dos mouros são também reproduzidas, traduzidas do árabe, tendo sido intercetadas pelos sitiadores. Numa das cartas que era destinada aos moradores de Lisboa e que tinha sido enviada pelo rei mouro de Évora, o rei eborense recusa-se a ajudá-los na luta contra os cristãos. O rei mouro de Évora defendeu que tinha realizado com Afonso Henriques um acordo de paz, algo que não queria quebrar.
O dia 25 de outubro
As defesas da cidade ficaram debilitadas depois dos sitiadores conseguirem construir uma máquina de cerco, uma torre dotada de ponte, que permitiu derrubar parte dos muros da cidade levando os lisboetas a renderem-se aos cristãos.
Negociações
Fernão Cativo é o representante do rei no acordo de rendição com os mouros, sendo ainda negociado com um dos condestáveis dos anglo-normandos, Hervey de Glanville. Contudo, surgiu mais tensão e violência entre os cristãos, por existência de desacordos, sendo necessárias novas negociações para acordar devidamente a divisão das riquezas da cidade de Lisboa.
No dia 25 de outubro, os cruzados entram na cidade, mas as tropas flamengas e alemãs não se comportam devidamente. Massacraram muitos habitantes da cidade sem razão, mesmo sabendo que D. Afonso Henriques tinha ordenado que os habitantes fossem bem tratados. O autor do texto informou ainda que as tropas flamengas e alemãs mataram o bispo moçárabe da Lisboa muçulmana.
Notas finais da carta
O autor da carta defende que os anglo-normandos respeitaram os acordos, comportaram-se com mesura. A população moura foi espoliada dos seus pertences de valor, sentindo-se obrigada a abandonar Lisboa. A restauração da diocese de Lisboa surge referida na parte final da carta, sendo mencionada a eleição do seu primeiro bispo, Gilberto de Hastings, que também foi cruzado. A carta faz ainda referência que, depois da conquista de Lisboa, os mouros também abandonaram o Castelo de Sintra e o Castelo de Palmela.