O Convento de Monfurado teve como origem um grupo de eremitas que viviam na Serra de Monfurado, movidos pelo desejo de se isolarem do mundo e dos pecados que os tentavam. Estes homens dedicados à fé habitavam em cavernas e abrigos, utilizando antigas minas romanas das proximidades. Estas minas, outrora exploradas para extrair ouro e prata, tinham sido abandonadas e esquecidas ao longo dos séculos, tornando-se refúgio perfeito para quem procurava a solitude.
Baltasar da Encarnação: o visionário do convento
Entre esses eremitas destacava-se Baltasar da Encarnação, nascido em 1670 em Évora, que entrou para a vida religiosa aos 15 anos. Profundamente devoto de Nossa Senhora, Baltasar afirmava ter visões em que era orientado por ela.
Numa dessas visões, segundo relatava, Nossa Senhora pediu-lhe que construísse um convento na Serra de Monfurado em sua honra. Inspirado por este chamamento divino, Baltasar partilhou o seu plano com os outros eremitas, que decidiram seguir esta missão, apesar das enormes dificuldades que enfrentavam: não possuíam recursos financeiros nem autorização para a obra.
Foi então que Baltasar recorreu a João de Vilalobos e Vasconcelos, um nobre descendente do morgado da Torre do Carvalhal, uma propriedade vizinha. Impressionado pela fé inabalável de Baltasar, João decidiu ceder uma porção de terra na encosta da Serra para que os eremitas pudessem concretizar o seu sonho de construir uma residência comunitária.
A construção do convento
Assim começou a edificação do Convento de Nossa Senhora do Castelo das Covas de Monfurado, também conhecido como Convento de Monfurado. A construção, que teve início no século XVIII, contou com a ajuda generosa dos habitantes da região, que contribuíram com mão de obra e materiais. O edifício foi concluído em 1738, ano em que se celebrou a primeira missa no local.
O convento, simples e modesto, era composto por uma igreja de nave única com capelas laterais, um claustro com dois pisos, uma cripta que servia de cemitério para os monges e quartos destinados à vida comunitária.
O local seguia a regra da Ordem dos Frades Menores, ou Franciscanos, baseada na pobreza, humildade e caridade. Os monges dedicavam-se à oração, ao trabalho e à assistência aos pobres e doentes, tornando o convento não só um espaço de devoção, mas também um importante centro de apoio à comunidade.
Um centro de cultura e arte
Para além da sua vertente espiritual, o convento destacou-se como um polo de cultura e arte. Ali eram produzidas pinturas, esculturas e livros, e a biblioteca do convento chegou a conter mais de 1000 volumes, sendo um dos maiores tesouros do local.
Além disso, existia uma oficina de tipografia onde se imprimiam textos religiosos e académicos. No seu auge, o convento tornou-se também um destino de peregrinação, atraindo fiéis de toda a região movidos pela devoção a Nossa Senhora.
O declínio e o abandono
Infelizmente, o esplendor do Convento de Monfurado não durou para sempre. Com o passar do tempo e as mudanças sociais e políticas, o convento foi sendo abandonado. Atualmente, encontra-se em ruínas e em grave risco de desaparecer para sempre. O edifício, classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1977, sofreu ao longo dos anos com vandalismo, incêndios e os efeitos das intempéries.
O teto da nave central da igreja desabou, deixando o interior exposto aos elementos. O claustro está parcialmente destruído, com paredes marcadas por grafitis, e a cripta encontra-se repleta de lixo, com ossos espalhados pelo chão. Os quartos dos monges, antes símbolo de simplicidade e humildade, estão vazios e em estado avançado de deterioração.
Um local misterioso e fascinante
Embora o acesso ao convento seja difícil e perigoso, devido à falta de estradas e sinalização, o local continua a atrair visitantes. Segundo a VortexMag, praticantes de geocaching, fotógrafos e amantes de história e arquitetura aventuram-se até às ruínas, fascinados pela aura de mistério que o lugar transmite. Contudo, é importante destacar que quem visita o local deve estar preparado para possíveis encontros com animais selvagens ou situações inesperadas, dada a localização remota e o estado de abandono.
Preservar a história: um apelo ao futuro
O Convento de Monfurado é um testemunho vivo da fé e do esforço comunitário de um passado longínquo. Apesar do seu estado atual, o local ainda conserva um encanto especial, carregado de lendas e histórias que merecem ser preservadas. É urgente uma ação conjunta que permita restaurar e proteger este património, garantindo que as gerações futuras possam conhecer e valorizar este capítulo importante da história de Portugal.
Assim, o Convento de Monfurado permanece como um lembrete da dedicação e espiritualidade dos monges franciscanos, mas também como um símbolo da necessidade de cuidar do nosso património histórico, impedindo que locais tão ricos em significado caiam no esquecimento.
Créditos das fotografias: André Ramalho