A forma como Portugal encara a imigração poderá ditar não apenas a evolução da sociedade, mas também a própria sustentabilidade das contas públicas. Um estudo académico recente alerta que o desaparecimento dos fluxos migratórios teria consequências devastadoras para a economia nacional e para o bolso de cada contribuinte.
Segundo a investigação conduzida por académicos da Nova School of Business and Economics e da Universidade de Estocolmo, sob o título “Os Custos de Construir Muros”, a ausência de imigração faria a carga fiscal em Portugal disparar dos atuais 35,2% para 43,1% do PIB, obrigando cada cidadão português a pagar, em média, mais 1.700 euros por ano em impostos.
Envelhecimento populacional: a raiz do problema
Portugal é um dos países da Europa onde os efeitos da baixa natalidade e do envelhecimento demográfico se fazem sentir com maior intensidade. A população ativa diminui a cada década, enquanto aumenta a pressão sobre o sistema de pensões e de saúde.
Esta realidade gera um desajuste estrutural: menos contribuintes a sustentar mais beneficiários. É neste cenário que a imigração surge como um amortecedor essencial.
A entrada de imigrantes mais jovens contribui para equilibrar o sistema, garantindo receitas fiscais e contributivas que compensam, ainda que parcialmente, o peso do envelhecimento. Sem este reforço, o esforço fiscal exigido a cada português tornar-se-ia incomportável.
Jovens que pagam mais impostos e recorrem menos ao Estado
O estudo realça que o impacto positivo da imigração resulta, sobretudo, da idade média dos imigrantes. Em Portugal e na generalidade da Zona Euro, estes chegam em idade ativa, prontos para trabalhar, pagar impostos e contribuir para a segurança social, enquanto utilizam menos serviços públicos associados à velhice, como pensões e cuidados de saúde.
Na prática, a imigração gera um saldo positivo equivalente a 0,57% do PIB potencial da Zona Euro. Pelo contrário, a população nativa, envelhecida, apresenta um saldo negativo de -0,62%, refletindo os custos de uma sociedade a envelhecer rapidamente.
Projeções para o final do século
As projeções são claras: se a tendência atual se mantiver, a população não nativa poderá representar 25% da população da Zona Euro em 2025 e 50% em 2100. Este crescimento revela que a sustentabilidade demográfica e económica da Europa dependerá cada vez mais da imigração e dos seus descendentes.
No caso de Portugal, o impacto é ainda mais expressivo: enquanto na média europeia a diferença entre ter ou não imigração representa 2,3 pontos percentuais do PIB, no caso português esse diferencial sobe para 7,9 pontos.
O peso direto nas contas dos portugueses
A ausência de imigração teria efeitos imediatos no dia a dia de cada contribuinte. Um português de 30 anos, por exemplo, teria de pagar mais 1.700 euros anuais em impostos para garantir o equilíbrio das contas públicas. Para comparação, na média da Zona Euro o valor seria de cerca de 845 euros por ano. Trata-se de uma diferença brutal, que coloca Portugal entre os países mais vulneráveis ao fim dos fluxos migratórios.
Uma questão europeia com impacto acrescido em Portugal
A sustentabilidade orçamental da Europa já enfrenta pressões significativas, mas o estudo destaca que Portugal está numa posição particularmente frágil.
Segundo os investigadores, o custo orçamental do envelhecimento na Europa ronda os 14 pontos percentuais do PIB, podendo subir para 16,3 pontos sem imigração. Em Portugal, este desvio é ainda mais acentuado, tornando o esforço fiscal por contribuinte um dos mais elevados de toda a Zona Euro.
Imigração: um pilar invisível das finanças públicas
Os números apresentados mostram que a imigração não é apenas uma questão social ou cultural, mas sim um pilar invisível da estabilidade económica. Sem imigrantes, Portugal estaria condenado a um peso fiscal insuportável, à estagnação da sua economia e a uma erosão da sua base demográfica.
Este estudo lança, assim, uma reflexão urgente: sem imigração, não haverá contas públicas equilibradas nem futuro sustentável para as próximas gerações.