A atualização anual das pensões é sempre aguardada com expectativa — e, para muitos reformados, com apreensão. Num contexto de inflação persistente, aumento do custo de vida e pressão sobre rendimentos fixos, cada décima percentual pode fazer a diferença no orçamento mensal. Agora, com a divulgação dos dados finais da inflação pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), ficam finalmente fechadas as contas que determinam quanto vão subir as pensões em 2026.
Os números confirmam uma tendência positiva para a maioria dos pensionistas, mas também reabrem o debate sobre suplementos extraordinários, justiça distributiva e sustentabilidade do sistema.
Pensões vão subir 2,8% em 2026 para a maioria dos reformados
A maioria das pensões em Portugal deverá registar um aumento de 2,8% em 2026, segundo cálculos do Notícias ao Minuto, com base nos dados divulgados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Este valor resulta da aplicação direta da fórmula legal de atualização das pensões, agora completa com a confirmação do último dado em falta: a inflação média de novembro.
De acordo com o INE, a variação média dos últimos 12 meses do Índice de Preços no Consumidor (IPC), excluindo habitação, foi de 2,27%, indicador fundamental para o cálculo da atualização automática.
Como se calcula o aumento das pensões
A atualização das pensões é determinada por um mecanismo previsto na lei, que conjuga dois fatores essenciais:
- A média do crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) dos últimos dois anos;
- A variação média dos últimos 12 meses do IPC sem habitação, disponível a 30 de novembro.
Com estes dois indicadores agora fechados, torna-se possível calcular a atualização definitiva das pensões a aplicar em janeiro de 2026.
Pensões até dois IAS concentram a maioria dos aumentos
Com base na fórmula legal, as pensões até duas vezes o Indexante dos Apoios Sociais (IAS) — atualmente 1.073,94 euros — terão uma atualização de 2,8% no próximo ano.
Este escalão abrange a larga maioria dos pensionistas portugueses, tornando o aumento particularmente relevante do ponto de vista social.
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho, já tinha antecipado um aumento próximo deste valor, apontando para 2,79%, o que agora se confirma com os dados finais do INE.
“Recuperação do poder de compra para 90% dos pensionistas”
Numa audição parlamentar sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2026 (OE2026), a ministra sublinhou o impacto desta atualização:
“As pensões até duas vezes o IAS deverão ter um aumento de 2,79%, ou seja, 0,5 pontos percentuais acima da inflação de 2025. Isto significa uma recuperação do poder de compra para cerca de 90% dos pensionistas.”
A governante acrescentou ainda que o Governo cumprirá integralmente a atualização prevista na lei e deixou em aberto a possibilidade de um novo suplemento extraordinário, caso exista margem orçamental.
Suplemento extraordinário depende da folga orçamental
Tal como aconteceu em anos anteriores, o Executivo admite a atribuição de um suplemento extraordinário às pensões, pago uma única vez, mas condicionado à execução das contas públicas.
Maria do Rosário Palma Ramalho reafirmou que essa decisão dependerá da evolução orçamental ao longo do ano, mantendo cautela quanto a compromissos permanentes que possam pressionar a sustentabilidade do sistema.
CFP defende que aumentos extraordinários devem ser pagos pelo Orçamento do Estado
A presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP), Nazaré da Costa Cabral, trouxe um alerta importante ao debate.
Em audição no Parlamento, a responsável afirmou que eventuais aumentos adicionais das pensões mais baixas são medidas redistributivas, que não devem ser suportadas pelo sistema previdencial, mas sim pelo Orçamento do Estado, através do sistema de proteção social de cidadania.
Segundo a presidente do CFP:
“O sistema previdencial deve ser protegido per se. Tem receitas e despesas próprias e os excedentes têm um destino legalmente definido, que é o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social.”
Esta posição reforça a ideia de que aumentos extraordinários devem ser politicamente assumidos como opções orçamentais, e não confundidos com atualizações estruturais do sistema contributivo.
O que muda, afinal, para os pensionistas em 2026
- Aumento automático de 2,8% para pensões até dois IAS
- Atualização aplicada em janeiro de 2026
- Suplemento extraordinário ainda não garantido, dependente da folga orçamental
- Debate aberto sobre financiamento justo e sustentabilidade da Segurança Social
Conclusão: aumento certo, mas prudência no horizonte
Os dados agora conhecidos confirmam um aumento relevante para a maioria dos pensionistas, com impacto direto no rendimento mensal e algum alívio face à inflação. No entanto, o debate sobre suplementos extraordinários, justiça social e equilíbrio das contas públicas continuará a marcar a discussão política nos próximos meses.
Para já, uma certeza fica: a atualização legal está assegurada — e chega em janeiro.
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