Com a chegada dos dias quentes, em que as temperaturas facilmente ultrapassam os 30 graus, muitos condutores rumam à praia ou a passeios descontraídos em estrada. Surge então a questão que ano após ano gera debate: é permitido conduzir de tronco nu ou com chinelos? Pode haver multa nestes casos?
À primeira vista, estas práticas podem parecer inofensivas, fruto da descontração típica do verão. No entanto, especialistas alertam que, apesar de não estarem expressamente proibidas pelo Código da Estrada, escondem riscos que podem ter consequências graves — não só para quem conduz, mas também para todos os que circulam na via.
O que diz a lei: ausência de proibição não significa ausência de risco
Segundo o Automóvel Clube de Portugal (ACP), conduzir sem camisola ou com chinelos não está, à partida, tipificado como contraordenação. Ou seja, não existe uma coima imediata associada a estas situações.
Mas há um ponto essencial: o Código da Estrada exige que o condutor mantenha sempre o domínio do veículo em condições de segurança. Isso significa que, se o vestuário ou o calçado comprometerem a capacidade de resposta, as autoridades podem agir.
Na prática, isto coloca os condutores perante uma linha ténue: não existe uma proibição clara, mas há margem de interpretação por parte das forças de segurança. E, em caso de acidente, essa escolha aparentemente inofensiva pode ser considerada negligência.
Chinelos: do conforto ao perigo em segundos
Os chinelos são o símbolo maior da descontração estival. Fáceis de calçar, ideais para a areia da praia, parecem perfeitos. Mas ao volante podem transformar-se num inimigo silencioso.
- Perda de aderência: basta um movimento brusco para que escorreguem dos pés.
- Encravamento nos pedais: modelos largos podem prender-se, atrasando a travagem.
- Movimento impreciso: podem levar a que o condutor pressione dois pedais em simultâneo.
Em segundos, um gesto inocente transforma-se num perigo real. É por isso que, noutros países europeus, como Espanha ou Itália, os condutores já foram multados por usarem calçado considerado inseguro.
Conduzir sem camisola: uma exposição que pode sair cara
Conduzir sem camisola é outro hábito comum nos dias de calor, mas carrega consigo armadilhas pouco faladas.
- Esquecimento do cinto de segurança: ao não sentir a pressão do tecido no corpo, alguns condutores esquecem-se de o colocar.
- Lesões de contacto: em caso de travagem brusca ou acidente, o cinto diretamente sobre a pele pode provocar queimaduras ou hematomas.
- Exposição solar dentro do carro: em viagens longas, sem proteção da roupa, é comum ocorrerem queimaduras solares, sobretudo em veículos com tejadilho panorâmico.
Não existe coima direta para este comportamento, mas as autoridades podem enquadrá-lo em casos de condução imprudente, caso entendam que compromete a segurança.
Quando a liberdade encontra os limites da responsabilidade
A estrada não é apenas um espaço de deslocação individual, é um espaço partilhado. Cada decisão de um condutor pode afetar dezenas de pessoas. O que parece uma simples escolha de conforto pode resultar num acidente evitável. É neste equilíbrio que surge o debate: até onde deve ir a liberdade pessoal e onde começa a responsabilidade coletiva?
O que acontece noutros países?
- Espanha: a Guardia Civil já aplicou coimas a condutores em chinelos, alegando falta de segurança.
- França: não existe proibição direta, mas as autoridades deixam claro que qualquer vestuário ou calçado que limite o controlo do veículo pode justificar sanções.
- Reino Unido: recomenda-se fortemente que os condutores usem calçado apropriado, sendo a negligência avaliada caso a caso em tribunal.
Portugal segue a mesma linha de “não proibição expressa”, mas com responsabilidade implícita.
Recomendações práticas para conduzir com segurança no verão
- Levar sempre sapatos fechados no carro para utilizar durante a condução.
- Optar por roupa leve, mas que permita a utilização segura do cinto.
- Manter no veículo óculos de sol e garrafas de água, para evitar fadiga e desidratação.
- Lembrar que conforto não deve significar descuido: a segurança tem de estar sempre em primeiro lugar.
Conclusão: pequenos gestos, grandes consequências
A estrada não perdoa distrações nem gestos irrefletidos, avisa o Postal do Algarve. Conduzir de chinelos ou sem camisola pode parecer uma escolha trivial, mas, no limite, pode ditar a diferença entre uma viagem tranquila e uma tragédia.
No fundo, não se trata apenas de cumprir a lei, mas de respeitar a vida — a própria e a dos outros. Porque na estrada, cada detalhe conta.