O debate sobre segurança rodoviária está a ganhar força em vários países, e o Reino Unido é o mais recente a seguir o exemplo português ao propor testes obrigatórios para condutores acima de uma certa idade — medidas que, por cá, já fazem parte da lei há anos.
E atenção: chumbar nestes testes significa perder a carta de condução, com todas as consequências que isso acarreta para a vida diária, desde a mobilidade pessoal até à autonomia para tarefas simples como fazer compras ou visitar familiares.
Em Portugal, a legislação é clara e exige que, a partir de uma determinada idade, os automobilistas cumpram regras rigorosas e bem definidas para continuar ao volante. Estas regras vão muito além da simples renovação de um documento: implicam avaliações médicas obrigatórias, exames à visão e, em certos casos, testes psicológicos. Tudo isto com um único objetivo — proteger a vida do condutor e de todos os outros utentes da estrada.
Renovação da carta: prazos, documentos e rigor
Para a categoria B (ligeiros), a renovação da carta de condução deve ser feita aos 60, 65 e 70 anos.
A partir dos 70, a renovação passa a ser obrigatória de dois em dois anos, sem exceção.
O processo exige:
- Atestado médico emitido por um clínico do SNS ou por médico no exercício da sua profissão, comprovando a aptidão física e mental para conduzir.
- Certificado de aptidão psicológica, emitido por um psicólogo credenciado (quando a lei o exigir).
Sem estes documentos, a revalidação é recusada — e o condutor deixa de estar legalmente autorizado a conduzir.
Teste à visão: uma barreira contra acidentes silenciosos
O exame médico obrigatório inclui sempre teste à visão, avaliando parâmetros como a acuidade visual e o campo de visão.
Muitas vezes, problemas oftalmológicos como cataratas, glaucoma ou degeneração macular evoluem de forma silenciosa, sem sintomas evidentes, mas podem ser fatais ao volante.
Se o médico tiver dúvidas, o condutor é encaminhado para um oftalmologista, garantindo assim que apenas pessoas com visão adequada circulam nas estradas.
Segurança rodoviária e envelhecimento
Portugal tem vindo a apostar na prevenção, e estas regras fazem parte de uma estratégia mais ampla para reduzir a sinistralidade. Estudos apontam que condutores com idade superior a 65 anos podem ter maior dificuldade em reagir a imprevistos — não por falta de experiência, mas devido a alterações fisiológicas naturais, como reflexos mais lentos, menor amplitude visual e problemas auditivos. Por isso, avaliações médicas regulares não são uma punição, mas sim uma rede de segurança para todos.
O Reino Unido a tentar alcançar Portugal
No Reino Unido, a renovação da carta aos 70 anos baseia-se apenas numa declaração de autorresponsabilidade do próprio condutor — sem exames obrigatórios.
Mas isso vai mudar. O Governo britânico quer implementar testes de visão obrigatórios para condutores séniores, com a possibilidade de suspensão da carta caso não passem nos requisitos.
Estão ainda a ser discutidas medidas como:
- Redução do limite legal de álcool no sangue;
- Regras mais apertadas para deteção de condução sob efeito de drogas;
- Sanções criminais mais duras para quem conduzir sem seguro;
- Maior fiscalização sobre matrículas ilegíveis.
Portugal mais avançado neste campo
Enquanto o Reino Unido se prepara para aplicar estas regras, Portugal já as cumpre há vários anos.
A grande diferença está no rigor do processo: aqui, as avaliações médicas e psicológicas são obrigatórias e formais, não dependendo apenas da boa-fé do condutor.
O equilíbrio entre autonomia e segurança
A condução é, para muitos séniores, um símbolo de independência. Poder conduzir significa manter a liberdade de movimento, a ligação social e até a autoestima.
Mas a realidade é que, à medida que envelhecemos, o corpo muda — e reconhecer essas mudanças é essencial para prevenir tragédias na estrada, explica o Postal do Algarve.
O grande desafio das autoridades está em equilibrar o respeito pela autonomia dos condutores séniores com a necessidade de proteger vidas. É um tema sensível, mas que deve ser abordado com seriedade e responsabilidade.