Já alguma vez se questionou por que razão o nosso país se chama Portugal? Embora seja amplamente conhecido que o nome tem raízes históricas, a sua origem remonta a épocas bem mais antigas do que poderíamos imaginar, envolvendo romanos, visigodos e até a mitologia celta. De Portucale ao Condado Portucalense, o nome que hoje designa a nossa nação está repleto de significados e histórias fascinantes.
O início: Cale, o porto da beleza
A origem do nome Portugal começa com a pequena localidade de Cale, situada junto ao rio Douro, onde hoje se encontra a cidade do Porto. Existem várias teorias sobre a etimologia de “Cale”. Uma delas sugere que deriva do termo grego kalós, que significa “belo”, destacando a paisagem deslumbrante da região.
Outras interpretações apontam para uma origem celta, significando “porto”, “enseada” ou “abrigo”. Outra possibilidade relaciona o nome à figura mitológica celta Cailleach, associada à fertilidade e à natureza.
Com a chegada dos romanos, a povoação tornou-se um importante entreposto comercial e recebeu o nome de Portus Cale, ou seja, “o porto de Cale”. Esta designação marcaria o início de uma longa evolução linguística e territorial.
Portucale: o embrião de Portugal
Durante o domínio visigodo, Portus Cale ganhou ainda mais relevância. O rei visigodo Leovigildo, no século VI, cunhou moedas com o nome “Portucale”, assinalando o estatuto estratégico da localidade. Nos séculos seguintes, este nome evoluiu para “Portugale”, como atestado em documentos históricos do período entre o século VII e VIII.
Após a conquista das terras pelos mouros, no século VIII, Portucale foi recuperada pelo nobre cristão Vímara Peres, em 868. Este restabeleceu a diocese local, ainda antes da de Braga, com o objetivo de consolidar um núcleo cristão. A povoação tornou-se então o centro do Condado de Portucale, uma entidade territorial que desempenhou um papel crucial no processo de formação do território português.
O Condado Portucalense e a sua expansão
No século X, o nome Portucale começou a ser usado para designar não apenas a povoação, mas também o território em redor, estendendo-se gradualmente para além do Douro.
Durante este período, o condado adquiriu uma importância crescente, especialmente com a liderança de figuras como Gonçalo Mendes da Maia, que assumiu o título de duque, sinalizando maior poder e autonomia territorial.
No século XI, o território expandiu-se ainda mais, alcançando o rio Minho a norte, o Vouga a sul e o Coa a leste. Esta expansão foi interrompida temporariamente quando o condado foi reagrupado pela Galiza e posteriormente absorvido pelo Reino de Leão.
No entanto, em 1096, o condado foi restabelecido por Henrique de Borgonha, um cavaleiro francês que recebeu o território como dote ao casar com D. Teresa de Leão, filha do rei Afonso VI de Leão.
A transição para reino independente
No início do século XII, começaram a surgir sentimentos de autonomia no Condado Portucalense. Os nobres locais ansiavam por maior independência, afastando-se da influência de Leão. Ao mesmo tempo, a Igreja fortalecia a sua posição em Braga, resistindo às pretensões de Toledo e Santiago de Compostela.
Sob a liderança de D. Afonso Henriques, filho de D. Teresa e Henrique de Borgonha, o condado declarou a sua independência em 1139, transformando-se no Reino de Portugal. Embora a capital administrativa fosse Guimarães e Braga a metrópole religiosa, o nome “Portugal”, derivado de Portucale, foi o escolhido para designar o novo reino.
O Porto: a cidade que deu nome ao país
Apesar de cidades como Guimarães, Braga e Coimbra desempenharem papéis fundamentais na história de Portugal, foi o Porto, com a sua origem em Cale, que ficou imortalizado no nome do país. O poeta Luís de Camões celebraria esta ligação ao escrever nos Lusíadas:
«A leal cidade donde teve origem
(Como é fama) o nome eterno de Portugal.»
Um nome que ecoa na história
A história do nome Portugal é um reflexo da rica diversidade cultural e histórica que moldou o nosso país. De pequenas povoações celtas e portos romanos a um reino independente, o nome Portugal encapsula séculos de evolução linguística, política e territorial.
Hoje, ao pronunciarmos o nome do nosso país, evocamos a memória de Cale, Portus Cale e do Condado Portucalense, símbolos das raízes profundas e do espírito resiliente que definem a identidade portuguesa.