Que fins teve a riqueza encontrada em território brasileiro? Saiba como Portugal usou o ouro vindo do Brasil.
O momento em que Portugal “descobriu” o Brasil foi bastante importante para os portugueses. A armada portuguesa encontrava-se comandada por Pedro Álvares Cabral,
quando ocorreu o avistamento da terra que denominaram como Ilha de Vera Cruz, situada nas imediações do Monte Pascoal. Esse episódio ocorreu no dia 22 de abril de 1500.
A descoberta do Brasil representou um dos momentos mais dourados dos descobrimentos portugueses. Esse foi o início de uma aventura que permitiu enriquecer o país a vários níveis.
O ouro encontrado nessa altura foi abundante, permitindo a Portugal um poder económico que permitiu a realização de muitas obras que ficaram para a posteridade. A riqueza encontrada no Brasil teve um bom fim. Saiba como os portugueses usaram o ouro que encontraram no território brasileiro.
Como foi que Portugal utilizou o ouro vindo do Brasil?
O ouro
Portugal teve acesso a uma vasta riqueza. O ouro vindo do Brasil era abundante. Este é um tema polémico e sensível. Existem várias discussões sobre o destino dado ao ouro. Existem ainda especulações acerca da verdadeira quantidade de ouro encontrada pelos portugueses, enquanto o povo luso explorou as minas do país irmão.
Sensibilidade
Embora se fale na Descoberta do Brasil, esse território já se encontrava habitado pelos Índios, os originais e verdadeiros habitantes do território brasileiro naquela época.
Importa referir que os portugueses poderão ter feito várias ações criticáveis aos olhos de hoje, atos moralmente criticáveis, pois atualmente seriam atentados aos Direitos Humanos. É ainda necessário ter a sensibilidade de compreender o lado dos brasileiros, naturalmente.
Além da dimensão humana, há todo o uso dado ao ouro, que para eles é sempre encarado como uma perda. Por isso, o ‘Ouro do Brasil’ é um tema que suscita discussões entre portugueses e brasileiros.
Contexto
A discussão é natural, nomeadamente se a troca de opiniões tiver por base os princípios e ideias atuais. No entanto, convém adotar uma perspetiva histórica quando se aborda este assunto, de forma que se possa ter uma compreensão real do tema.
Os recursos explorados pelos portugueses no Brasil, nomeadamente o ouro, não era valorizado pelos Índios como era valorizado pelos europeus. Isso não quer dizer que os portugueses tenham por isso o direito a usufruir do ouro dos outros. A verdade é que, colocando de parte o drama humano, os crimes cometidos sobre os índios locais, a médio e a longo prazo, os brasileiros também beneficiaram da presença portuguesa.
Uma fonte
No Repositório temático da Universidade do Porto, podem ser encontrados alguns documentos que nos ajudam a compreender este momento histórico da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral.
A monarquia portuguesa enriqueceu, pois passou a contar com uma boa parte do ouro que era explorado no Brasil.
Benefícios da Coroa
Após a descoberta, a colónia brasileira ficou “obrigada” a beneficiar o reino português. Ela ficou encarregue de pagar impostos à Coroa Portuguesa. Parte dos impostos eram pagos por via da produção açucareira.
Contudo, quando D. João V era Príncipe do Brasil, essa produção açucareira encontrou uma crise séria. Por isso, em meados do século XVII, a antiga colónia foi obrigada a procurar novos territórios e novas formas de pagamento.
O ouro
Foi nesse contexto que a colónia brasileira ficou a pagar impostos à Coroa Portuguesa através de ouro. Esse foi um período importante na nossa história, tendo surgido o momento para uma grande emigração de portugueses que rumaram para o Brasil.
Grandes quantidades desse metal foram enviadas para Portugal no século XVIII, por isso esse foi um período áureo da exploração de ouro. Durante alguns anos, eram enviadas toneladas de ouro. Em alguns anos, já no período em que D. João V reinava, chegaram a ser enviadas mais de 20 toneladas de ouro!
O uso do ouro
Muito do ouro encontrado no Brasil serviu para o enriquecimento de algumas famílias, infelizmente.
Embora outra parte do ouro tenha servido para o enriquecimento temporário das finanças do Reino português, outras partes serviram para outros fins, nomeadamente para a construção de alguns edifícios. Portanto, foram investimentos em construções emblemáticas.
D. João V (1689-1750)
O Rei D. João V nasceu a 22 de outubro de 1689. D. Pedro II foi o seu pai, enquanto D. Maria Sofia de Neuburgo a mãe de D. João V. Após ser aclamado rei no dia 1 de janeiro de 1707, D. João teve um reinado com altos e baixo.
D. João V teve um dos reinados mais longos da História de Portugal, tendo reinado até ao momento da sua morte, que só ocorreu em 1750. Por isso, este rei português reinou durante mais de 4 décadas.
A vida
D. João V casou-se com D. Maria Ana da Áustria no dia 09 de julho de 1708. Esta mulher era irmã do imperador austríaco Carlos III. O rei português ficou conhecido pelo cognome de “o Magnânimo”. Essa designação deve-se à sua obra.
O vigésimo quarto rei de Portugal ficou conhecido por ter investido muito na educação e na cultura, mais precisamente no campo da arte, na literatura e na ciência. No entanto, também houve um grande investimento na arquitetura. Sobre o seu reinado foram realizadas algumas obras megalómanas, consideradas uma verdadeira loucura…
Contexto
D. João V beneficiou de um contexto bastante favorável. O seu reinado foi dos melhores para um rei, especialmente em termos económicos. D. João V pôde explorar ao máximo toda a riqueza proveniente do Brasil, nomeadamente o ouro e os diamantes.
Por isso, D. João V contou com um património substancial em mãos, tendo decidido realizar uma série de monumentais investimentos. O rei português foi responsável pela realização de várias obras, algumas delas megalómanas.
O investimento feito por este rei português foi de tal ordem que esteve na origem de um período da história da arte portuguesa que ficou designado de Barroco Joanino. Entre as obras arquitetónicas mais emblemáticas de D. João V, estão o aqueduto das águas livres e o convento de Mafra.
Palácio Nacional de Mafra
Este palácio foi construído no século XVIII, uma construção iniciada a pedido do rei D. João V. O Palácio Nacional de Mafra foi construído em pedra lioz. A sua incrível dimensão revela-se um argumento para quem apelidou esta obra megalómana como uma loucura.
Nele, existem 1200 divisões. No total, são mais de 4700 portas e janelas presentes, além de 156 escadarias e 29 pátios e saguões.
No Convento de Mafra, como também é conhecido, trabalharam 52 mil operários! Nesta construção, foi investida uma parte do ouro e diamantes provenientes do Brasil. O investimento foi realizado em várias áreas.
Foram comprados mármores preciosos e madeiras exóticas. Além disso, também foram compradas peças de escultura em Itália. A biblioteca presente no Palácio Nacional de Mafra revelou-se outro investimento colossal.
Este palácio foi declarado recentemente pela UNESCO Património Mundial. A biblioteca presente no Palácio Nacional de Mafra é um elemento importante presente nesta construção.
Nesta biblioteca, que conta com mais de 30 mil livros, destaca-se uma segunda edição de “Os Lusíadas” que se encontra entre os itens mais valiosos. O Palácio Nacional de Mafra foi eternizado na obra de Saramago, “Memorial do Convento”. A magnitude desta construção megalómana foi devidamente retratada pelo Nobel português.
Informação útil:
Como chegar ao Palácio Nacional de Mafra
– Da Ericeira (10 min): seguir pela A21.
– De Lisboa (25 min) ou do Porto (2h45): seguir pela A8 (Lisboa/Leiria ou Leiria/Lisboa) e sair para a A21 (Malveira/Mafra/Ericeira);
– De Cascais (40 min) e Sintra (30 min): seguir pela A16 e sair na saída N9 em direção a Pêro Pinheiro/Mafra;
Em caso de dúvida, siga as seguintes coordenadas GPS: 38º56’12” N 9º19’34” O
O palácio é um dos monumentos portugueses mais visitados. Aos domingos e feriados, é possível entrar livremente no Palácio até às 14 horas. Enquanto noutras horas e noutros dias, o bilhete individual implica o custo de 6 euros. Saiba mais informações, aqui.
O Aqueduto das Águas Livres
Esta fabulosa construção foi outra maravilha portuguesa criada à custa do ouro brasileiro. No aqueduto lisboeta, é possível encontrar o maior arco em ogiva (em pedra) do mundo.
O Aqueduto das Águas Livres tem um arco que se apresenta com 65,29 metros de altura e 28,86 metros de largura. O aqueduto tornou-se numa obra emblemática para a cidade e para o país.
O Aqueduto das Águas Livres conseguiu resistir ao terramoto de 1755. Apesar da destruição que o terramoto espalhou por toda a cidade, o aqueduto conseguiu manter-se útil para os lisboetas.
A utilidade deste aqueduto atravessou séculos, tendo abastecido de água os moradores da capital. O Aqueduto das Águas Livres funcionou em pleno até à década de 1960.
O aqueduto que se tornou num museu
As obras deste aqueduto foram concluídas em 1799. Esta construção foi bastante útil para os lisboetas. O aqueduto só foi completamente desativado em 1973. Por isso, o Aqueduto das Águas Livres demonstrou toda a sua utilidade ao longo de quase dois séculos.
Mais de uma década mais tarde, o Aqueduto de Águas Livres foi aberto ao público como museu, em 1986. O Museu da Água abriu e colocou à disposição dos visitantes um programa bastante interessante, que até permite visitas ao interior do Aqueduto.
O Aqueduto das Águas Livres foi classificado como Monumento Nacional. Este momento aconteceu em 1910. Este desenlace demonstra de forma cabal a importância que o aqueduto tem para o país e para os portugueses.
Informações úteis
Museu da Água
Morada: Início na Fonte da Água Livre, perto de Carenque.
Telefone: 218 100 215.
Mais informações, aqui.
Outros investimentos
O ouro do Brasil também foi usado na resolução de problemas europeus, nomeadamente na defesa da Europa contra os Turcos e na guerra da sucessão de Espanha. Outra parte do ouro partiu para a resolução de acordos políticos estabelecidos, como aconteceu no caso de Portugal e Inglaterra.
O nosso país concedeu aos britânicos grandes privilégios e liberdades no comércio, não só no Brasil, como na Índia. De acordo com a posição de alguns historiadores, o ouro brasileiro contribuiu de forma decisiva para que o sistema bancário inglês se tornasse no principal centro financeiro do velho continente europeu.
Investimento no Brasil
O reino de Portugal “apenas” recebeu 20% do ouro explorado no Brasil, mas fê-lo durante muitos anos, o que permitiu acumular grande riqueza. Em alguns anos, superaram-se as 20 toneladas de ouro.
Os restantes 80% do ouro explorado no Brasil foi investido nesse mesmo país, nomeadamente na construção de cidades, infraestruturas, igrejas e aquedutos, entre outras construções.
Retorno
Desta forma, percebe-se que a descoberta do Ouro foi muito importante para definir o Brasil que se conhece atualmente.
A exploração do ouro neste país permitiu que várias regiões do interior do Brasil fossem ocupadas, por isso a ocupação não surgiu apenas no litoral, como era comum. Essa realidade permitiu que as fronteiras do Brasil fossem devidamente definas, tal como se encontram na atualidade.
O boom demográfico
Desta forma, foi devido ao período de exploração do ouro no Brasil que surgiu um boom demográfico que permitiu o desenvolvimento de uma classe média. Esta classe era formada por artesãos, artistas, poetas e intelectuais.
As pessoas da classe média contribuíram (e muito!) para o grande desenvolvimento cultural do Brasil daquela época.
Cidades de Ouro
Muitas foram as cidades brasileiras que foram construídas graças ao ouro explorado no Brasil. Entre elas, estão diversas cidades que são consideradas pela UNESCO como Património Mundial.
O ouro serviu para construir cidades, mas também monumentos importantes. Eles podem ser encontrados em cidades como Rio de Janeiro, Bahia, Ouro Preto e Olinda. Foram muitos os monumentos feitos à custa desse ouro.
Embora se possa defender que nessa época Portugal via o Brasil como um território português e que, por isso, apenas estava a investir num território que lhe pertencia, é inegável que esse território conheceu um desenvolvimento impressionante.