O nascimento de Portugal remonta a uma época de turbulência e disputas pelo poder no noroeste da Península Ibérica. Embora o surgimento de um território independente com identidade própria tenha sido um processo gradual, houve momentos decisivos que definiram o caminho para a independência de Portugal. Entre estes, destaca-se a Batalha de São Mamede, travada a 24 de junho de 1128, perto de Guimarães, que marcou o início do trajeto rumo à autonomia e soberania do território português, segundo a VortexMag.
O cenário antes da Batalha de São Mamede
Com a morte de D. Henrique em 1112, sua esposa, D. Teresa, assumiu o governo do Condado Portucalense, acreditando que o domínio lhe pertencia por direito. No entanto, para assegurar o poder, aliou-se a nobres galegos, nomeadamente o conde Fernão Peres de Trava e o seu irmão Bermudo.
Esta aliança com a Galiza causou um crescente descontentamento entre os nobres portucalenses, que viam a hegemonia galega como uma ameaça ao desenvolvimento do condado e ansiavam por uma governação independente.
D. Afonso Henriques, filho de D. Henrique e D. Teresa, foi então escolhido pelos nobres locais para liderar a revolta contra a influência galega. Os nobres portucalenses, entre os quais estavam Soeiro Mendes de Sousa, Gonçalo Mendes de Sousa, Egas Moniz de Ribadouro e Gonçalo Mendes da Maia, queriam substituir o governo liderado por D. Teresa e os Travas por um liderado pelo jovem D. Afonso Henriques, esperando que ele garantisse a autonomia do condado e a independência em relação ao reino de Leão.
A Batalha de São Mamede: o início da independência
A Batalha de São Mamede foi um confronto entre o exército de nobres do Condado Portucalense, liderado por D. Afonso Henriques, e as forças leais a D. Teresa e ao conde Fernão Peres de Trava.
Os nobres portucalenses, liderados por figuras influentes da região, estavam determinados a pôr fim à hegemonia galega. Esta batalha foi um momento determinante: D. Afonso Henriques e os nobres portucalenses saíram vitoriosos, o que levou à expulsão de D. Teresa do governo e à tomada do poder por Afonso Henriques.
Com a vitória, D. Afonso Henriques assumiu o controlo do Condado Portucalense, impondo-se como líder. Esta mudança de poder passou despercebida ao monarca leonês, Afonso VII, que estava ocupado com questões internas e aceitou o preito de fidelidade de D. Afonso Henriques em 1137, interpretando-o como mais um dos seus vassalos.
Esse reconhecimento tácito permitiu que Afonso Henriques ganhasse tempo para consolidar o seu poder e avançar para uma independência mais formal.
A Batalha de Ourique e a proclamação da independência
A luta de D. Afonso Henriques pela independência de Portugal continuou nos anos seguintes, enfrentando não só os monarcas cristãos de Leão e Castela, mas também os muçulmanos que ocupavam o sul da península. Um dos momentos marcantes na sua campanha ocorreu na Batalha de Ourique, em 1139, onde Afonso Henriques venceu as forças muçulmanas, um feito que lhe deu prestígio e legitimidade. Após esta vitória, Afonso Henriques declarou a independência de Portugal, assumindo o título de rei e iniciando a primeira dinastia portuguesa, a dinastia de Borgonha.
A expansão do território e a consolidação do reino
A partir de então, D. Afonso Henriques focou-se em expandir o território português. Em 1147, com o auxílio de cruzados vindos de vários pontos da Europa, conquistou Santarém e Lisboa, expulsando os muçulmanos dessas regiões e garantindo o controlo de locais estratégicos. Continuou as suas campanhas militares, conquistando também Almada, Palmela, Évora e Beja, consolidando cada vez mais o território do novo reino.
A independência de facto de Portugal foi finalmente reconhecida em 1179, quando o Papa Alexandre III, através de uma bula papal, concedeu a D. Afonso Henriques o título de rex (rei), colocando Portugal sob a proteção da Santa Sé e estabelecendo o reino como autónomo.
Este reconhecimento papal foi o selo oficial que garantiu a independência de Portugal em relação aos reinos vizinhos e consolidou a posição de Afonso Henriques como o primeiro rei de Portugal.
O legado de D. Afonso Henriques e o nascimento de uma nação
D. Afonso Henriques ficou para a história como o fundador do reino de Portugal. A sua visão e determinação em garantir a autonomia e a soberania do território deram origem ao que viria a tornar-se uma nação independente e unificada.
A Batalha de São Mamede, com o apoio dos nobres locais, marcou o início de uma nova era para o condado, que evoluiu até se tornar o reino de Portugal.
Hoje, a figura de D. Afonso Henriques é amplamente celebrada como o pai da pátria, e o processo que levou à fundação de Portugal é lembrado como um exemplo de luta pela identidade, autonomia e união de um povo que, através de batalhas e conquistas, forjou um novo reino na Península Ibérica.