A região saloia, situada nos arredores de Lisboa, guarda uma riqueza histórica, cultural e gastronómica que a torna única no contexto português. Embora os seus limites geográficos possam ser discutíveis, geralmente considera-se que esta região abrange concelhos como Alenquer, Amadora, Arruda dos Vinhos, Cadaval, Loures, Mafra, Odivelas, Sintra, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras.
A história e o quotidiano dos seus habitantes, conhecidos como saloios, refletem uma ligação profunda à terra e às tradições, que marcaram tanto o desenvolvimento rural como a própria identidade cultural da Grande Lisboa.
Quem eram os saloios?
No início do século XX, os saloios eram os habitantes das zonas rurais nos arredores de Lisboa. Viviam essencialmente da agricultura, dedicando-se à produção de hortícolas, fruta e outros produtos agrícolas, que depois eram comercializados nos mercados locais e na capital.
Entre os mercados de maior relevo na região destacava-se a Feira da Malveira, que ainda hoje é uma das principais fornecedoras de carne de bovino para Lisboa.
Além da agricultura, muitas mulheres saloias trabalhavam como lavadeiras ao serviço de famílias abastadas da cidade. Este ofício deu origem à expressão “Aldeia da Roupa Branca”, eternizada no título de um filme dos anos 1930, que retratava o quotidiano destas mulheres e a cultura da região.
Gastronomia saloia: sabores que perduram
A fertilidade da terra e a abundância de produtos agrícolas de qualidade originaram uma gastronomia rica e diversificada. Na cozinha saloia, destacam-se pratos de coelho, porco e aves, preparados com técnicas simples que preservam o sabor autêntico dos ingredientes.
Um dos produtos mais emblemáticos da região é o queijo fresco saloio, apreciado em todo o país pela sua textura cremosa e sabor delicado. Este queijo tornou-se um símbolo da região e é frequentemente acompanhado por pão rústico e azeitonas.
Trajes e tradições
Os trajes saloios são outro elemento marcante da identidade desta região. Durante séculos, os saloios usaram vestes características, como o barrete, o colete e as saias compridas nas mulheres. Este estilo tradicional foi mantido até há relativamente pouco tempo, sobretudo entre as gerações mais velhas das aldeias.
Os saloios não eram apenas agricultores e lavadeiras; eram também portadores de uma cultura rica em festividades, danças e músicas. As festas populares saloias, muitas vezes acompanhadas de grupos de música tradicional, preservam até hoje o espírito comunitário e festivo da região.
A origem do termo “saloio”
A palavra “saloio” tem raízes históricas que remontam à época da Reconquista. Quando D. Afonso Henriques conquistou Lisboa aos mouros, decidiu não despovoar completamente a cidade e as zonas vizinhas, permitindo que muitos mouros permanecessem nas suas terras, mantendo os seus bens e pagando apenas alguns tributos.
Os mouros que viviam nas zonas rurais próximas de Lisboa eram conhecidos como “caloyos” ou “saloios”, um termo derivado da palavra árabe “cala”, utilizada na reza que os muçulmanos repetiam cinco vezes por dia.
Embora, ao longo dos séculos, a população moura tenha sido gradualmente assimilada pela cristã, o nome “saloio” persistiu, identificando os habitantes das zonas rurais ao redor da capital.
Curiosidade histórica: o “calayo”
Há ainda uma curiosidade linguística associada ao termo “caloyos”. A palavra poderá ter dado origem ao nome de um antigo tributo pago sobre o pão cozido em Lisboa e nos seus arredores, conhecido como “calayo”. Esta ligação ilustra como a influência cultural dos saloios marcou não apenas a toponímia, mas também os registos administrativos e económicos da época, refere a VortexMag.
A herança saloia hoje
Atualmente, a região saloia continua a ser um símbolo de autenticidade e tradição. As suas festas, mercados e gastronomia atraem tanto locais como turistas, que encontram nesta área um refúgio de sabores e histórias únicas.
Visitar a região saloia é viajar no tempo e mergulhar num modo de vida que, embora modernizado, ainda preserva as marcas de uma história rica e de uma cultura profundamente enraizada na identidade portuguesa.