Nos últimos meses, tem-se intensificado um fenómeno que inquieta milhares de pessoas em Portugal: chamadas anónimas repetidas, quase sempre em sequência, que despertam suspeita e alimentam receios de fraude. À primeira vista parecem meras tentativas incómodas, mas especialistas em segurança digital garantem que estas chamadas são tudo menos inocentes.
O novo padrão que engana pela insistência
Tradicionalmente, uma chamada de número privado é ignorada pela maioria. O estigma associado — desde vendas agressivas a esquemas fraudulentos — fazia com que poucos atendessem. Porém, os burlões adaptaram-se e encontraram uma forma engenhosa de ultrapassar essa barreira psicológica: a duplicação imediata da chamada.
A estratégia é simples, mas eficaz. A primeira ligação anónima é rejeitada ou ignorada. Poucos minutos depois, surge uma segunda chamada, também em número privado. Este padrão cria um efeito psicológico de urgência, levando muitas pessoas a acreditar tratar-se de um assunto sério ou de algo que não pode ser adiado. A insistência repetida quebra a resistência inicial e aumenta as probabilidades de a chamada ser atendida.
As consequências de atender chamadas anónimas repetidas
Por detrás de um gesto tão banal como atender uma chamada podem esconder-se armadilhas complexas de engenharia social. Em muitos casos, perguntas aparentemente inofensivas servem para recolher dados pessoais que, mais tarde, podem ser utilizados em fraudes financeiras.
Mas os riscos não se ficam por aqui:
- Chamadas de valor acrescentado: em alguns casos, o simples ato de atender pode levar a custos acrescidos na fatura telefónica.
- Validação do número: ao atender, confirma-se que o contacto está ativo, tornando-se alvo preferencial para futuras burlas.
- Roubo de identidade: respostas apressadas a questões como nome completo, data de nascimento ou dados bancários podem alimentar esquemas fraudulentos de grande escala.
- Automatização fraudulenta: muitas destas chamadas são feitas por sistemas automáticos que testam milhares de números em simultâneo, filtrando aqueles que estão disponíveis para exploração futura.
Quem está por detrás destas chamadas?
As origens são diversas. Em alguns casos, tratam-se de call centers ilegais que utilizam métodos agressivos para vender serviços. Noutras situações, são burlões organizados que procuram extrair dados bancários, convencendo as vítimas a partilhar códigos ou a realizar transferências. Há ainda programas automáticos que ligam em massa apenas para analisar quem atende e quem não atende.
O objetivo é sempre o mesmo: explorar a vulnerabilidade emocional e a curiosidade humana para abrir a porta ao engano.
Os sinais que não devem ser ignorados
Existem indícios claros de que uma chamada pode ser parte desta prática fraudulenta:
- Repetição insistente de chamadas em número privado;
- Silêncio do outro lado ou ruídos estranhos;
- Gravações automáticas que solicitam respostas;
- Desligar imediato após atender, deixando a sensação de mistério.
Estes sinais, ainda que subtis, devem acender todos os alertas de precaução.
Como se proteger de chamadas anónimas suspeitas
A regra de ouro é clara: nunca atender chamadas anónimas, mesmo que sejam repetidas. Quem realmente precisa de comunicar encontrará outras formas de contacto — seja através de mensagem, e-mail ou chamadas identificadas.
Os especialistas em cibersegurança recomendam ainda:
- Ativar filtros de bloqueio disponíveis nos smartphones;
- Contactar a operadora para ativar serviços de bloqueio avançado;
- Denunciar padrões suspeitos junto da ANACOM ou da PSP;
- Nunca fornecer dados pessoais, códigos ou informações bancárias por telefone a contactos não identificados.
Tendência crescente e novas variações
Segundo o portal CyberSafe, estas práticas estão em rápida expansão e poderão ganhar novas variantes nos próximos meses. Entre as mais prováveis encontram-se:
- Alternância entre chamadas internacionais e números privados;
- Simulação de chamadas de familiares, seguida de pedidos de ajuda;
- Integração com SMS fraudulentos que reforçam a sensação de urgência.
Tudo indica que os burlões continuarão a adaptar as suas estratégias, explorando cada falha emocional para manipular as potenciais vítimas.
O alerta final
As chamadas anónimas repetidas podem parecer apenas um incómodo, mas escondem uma realidade perigosa: são uma porta de entrada para fraudes sofisticadas que jogam com a pressa, a curiosidade e o instinto humano de responder a quem insiste.
Num mundo cada vez mais digital e vulnerável a cibercrimes, ignorar estes sinais é uma questão de autoproteção. O perigo pode estar a apenas um toque de distância — e a melhor defesa continua a ser a desconfiança saudável e a recusa em atender.
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