Tem vindo a espalhar-se silenciosamente pela Europa e, em apenas alguns anos, ultrapassou fronteiras, instalando-se em mais de 40 países em todo o mundo. A sua presença nos hospitais é particularmente alarmante, pois é nesses ambientes que encontra as condições ideais para se propagar entre os mais vulneráveis.
Chama-se Candidozyma auris e, ao contrário do que muitos pensam, não é um vírus, mas sim um fungo mortal. A sua capacidade de resistir a tratamentos convencionais e de permanecer ativo em superfícies hospitalares durante longos períodos torna-o uma ameaça crescente para a saúde pública global.
O avanço da Candidozyma auris na Europa
Segundo o jornal Mirror, este fungo perigoso, antes limitado a casos isolados, já se encontra disseminado em quase todos os continentes. O Reino Unido tem registado um crescimento preocupante: entre novembro de 2024 e abril de 2025, foram identificados 134 casos, um aumento de 23% face aos seis meses anteriores.
No total, já foram registados mais de 4000 casos nos países da União Europeia e do Espaço Económico Europeu, com destaque para Espanha e Grécia, que somam, respetivamente, 1807 e 852 infeções. Em Portugal, entre 2013 e 2023, foram confirmados apenas quatro casos, mas os especialistas alertam que o risco de expansão é real, sobretudo devido à proximidade com países onde a propagação é significativa.
Porque é que este fungo é tão perigoso?
A Candidozyma auris representa um desafio sem precedentes para os sistemas de saúde. De acordo com o The Independent, a taxa de mortalidade associada a infeções graves varia entre 30% e 60%.
O que torna este fungo particularmente preocupante é a sua resiliência excecional:
- Sobrevive em superfícies hospitalares durante semanas ou até meses;
- É resistente a grande parte dos antifúngicos de primeira linha;
- Suporta desinfetantes comuns usados em unidades de saúde;
- Pode ser transmitido mesmo por pessoas sem sintomas aparentes.
Quando atinge a corrente sanguínea ou órgãos vitais, a infeção pode evoluir de forma fulminante, colocando em risco sobretudo pacientes com o sistema imunitário enfraquecido, como idosos, doentes oncológicos, pessoas em cuidados intensivos ou submetidas a tratamentos invasivos.
Sintomas e sinais de alerta
Detetar a Candidozyma auris é um verdadeiro desafio, já que os sintomas iniciais são pouco específicos e podem ser confundidos com outras infeções hospitalares. Em muitos casos, o fungo permanece silencioso na pele ou nas mucosas, espalhando-se sem dar sinais imediatos.
Quando se manifesta de forma agressiva, pode provocar:
- Infeções na corrente sanguínea;
- Meningite e outras infeções cerebrais;
- Complicações respiratórias;
- Falência multiorgânica em casos mais graves.
Como se transmite a Candidozyma auris
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), este fungo dissemina-se principalmente através de:
- Contato direto com pessoas infetadas, mesmo assintomáticas;
- Superfícies contaminadas em hospitais;
- Equipamentos médicos reutilizados sem esterilização adequada.
A sua facilidade de propagação em ambientes clínicos torna-o uma ameaça semelhante a outros surtos hospitalares, mas com um agravante: a resistência a tratamentos.
Prevenção: como travar a propagação
A comunidade científica alerta que a higiene rigorosa continua a ser a principal arma contra a Candidozyma auris. Entre as medidas essenciais destacam-se:
- Lavagem frequente e correta das mãos;
- Isolamento de pacientes infetados em ambiente hospitalar;
- Utilização de equipamentos descartáveis;
- Limpeza profunda e desinfeção adequada de superfícies e materiais médicos;
- Rastreio precoce de casos em hospitais e lares de idosos.
Ainda que em Portugal os números sejam reduzidos, o cenário vivido em Espanha e no Reino Unido demonstra a rapidez com que este fungo pode ganhar terreno quando não é controlado de forma eficaz.
Uma ameaça silenciosa à espreita
Detetada pela primeira vez no Japão, em 2009, a Candidozyma auris já não é uma curiosidade científica, refere o Notícias ao Minuto. É uma realidade global que pressiona hospitais e investigadores em busca de novas terapias antifúngicas.
Os especialistas lembram que, embora não represente um grande risco para pessoas saudáveis, o perigo reside na sua capacidade de atacar os mais frágeis e de transformar unidades de saúde em pontos de propagação.
A pergunta que se impõe é clara: estamos preparados para enfrentar este inimigo invisível?