O cenário é de cortar a respiração: águas calmas, dunas douradas e a tranquilidade típica do Sotavento Algarvio. Mas por trás da beleza de Cacela Velha, esconde-se uma realidade perigosa que, todos os verões, apanha banhistas desprevenidos.
No passado sábado, 26 de julho, uma mulher de 29 anos teve de ser resgatada após ser arrastada por uma corrente traiçoeira ao tentar atravessar a pé a Ria Formosa — uma prática comum, mas desaconselhada.
Apesar da forte corrente e da total ausência de vigilância, muitos continuam a encarar esta travessia como segura. O alerta voltou a ser dado pela Autoridade Marítima Nacional (AMN), que reforça: Cacela Velha não é uma praia vigiada, e o perigo espreita mesmo nos dias mais calmos.
“Isto não é uma praia”: o aviso firme da Autoridade Marítima
O capitão do Porto de Vila Real de Santo António, Afonso Martins, foi claro nas declarações à comunicação social: “Cacela Velha não é uma praia. É uma zona de elevado risco e não deve ser usada como tal.”
Apesar disso, todos os verões milhares de pessoas arriscam atravessar a pé a Ria Formosa, atraídas pela paisagem de cartão postal. A maioria desconhece que a travessia pode, em poucos segundos, transformar-se num pesadelo.
A mulher resgatada no sábado foi socorrida por elementos do projeto SeaWatch, que se encontravam na zona e conseguiram transportá-la em segurança para terra. Felizmente, não necessitou de cuidados médicos — mas o desfecho podia ter sido trágico.
A força invisível da corrente: um perigo subestimado
A Ria Formosa é um ecossistema dinâmico e instável, onde as correntes mudam com a maré e a profundidade varia inesperadamente.
A barra de Cacela, em particular, é conhecida pelas suas correntes fortes e imprevisíveis, o que faz com que qualquer travessia a pé represente um risco real e imediato para a vida humana.
Todos os anos são registadas situações semelhantes, e as autoridades veem-se obrigadas a repetir alertas que, infelizmente, continuam a ser ignorados por muitos veraneantes.
Outro resgate no mesmo dia: incidente em Monte Gordo
No mesmo dia, outra ocorrência obrigou à intervenção das equipas de emergência. Uma mulher de 41 anos sofreu um mal-estar súbito enquanto se encontrava na praia de Monte Gordo. Foi estabilizada no local e transportada para o hospital pelos bombeiros de Vila Real de Santo António e Castro Marim. O caso, embora distinto, evidencia a importância da presença de vigilância e meios de socorro nas zonas balneares — uma realidade ausente em locais como Cacela Velha.
A beleza das redes sociais não salva vidas
Nos últimos anos, Cacela Velha tem sido promovida por revistas de turismo e influencers digitais como um destino “secreto” e “intocado”. As imagens encantam, mas também induzem em erro. A ausência de nadadores-salvadores e de infraestrutura de socorro transforma este “paraíso escondido” numa armadilha disfarçada de postal ilustrado.
É imperativo lembrar que a segurança deve prevalecer sobre a estética. A tentação de atravessar a pé a Ria Formosa pode parecer inofensiva, mas os perigos são reais — e, por vezes, fatais.
Proteger vidas começa com informação e responsabilidade
A AMN volta a apelar ao bom senso dos veraneantes: respeite os avisos, evite zonas não vigiadas e não subestime a força da natureza. A travessia de Cacela Velha pode parecer um simples passeio, mas pode custar-lhe a vida, avisa o Postal do Algarve.
Se testemunhar comportamentos de risco ou situações de emergência, contacte imediatamente a linha de emergência marítima ou o número nacional de socorro – 112. E se não conhece o local ou a maré, não arrisque.