Entre elogios e críticas, Albufeira, um dos destinos turísticos mais populares de Portugal, voltou a ser tema de debate internacional. Desta vez, o motivo não foi o sol, as praias douradas ou a vida noturna vibrante, mas sim uma avaliação pouco lisonjeira vinda do prestigiado jornal britânico The Telegraph, que incluiu a cidade algarvia na lista das “mais feias da Europa”.
A publicação reuniu as opiniões de vários jornalistas e especialistas em viagens que analisaram destinos costeiros de todo o continente, comparando os que melhor preservam o seu encanto tradicional com aqueles que, segundo os autores, se deixaram dominar pelo turismo de massas e pela construção desenfreada.
De vila piscatória a destino de turismo em massa
Em tempos, Albufeira era um pacífico povoado de pescadores, com ruelas estreitas e casas brancas viradas ao mar. Hoje, a paisagem é dominada por blocos de apartamentos modernos, bares e alojamentos turísticos, que alteraram profundamente o caráter e a estética da cidade.
De acordo com The Telegraph, a urbanização acelerada e a procura crescente por alojamento e diversão transformaram Albufeira num símbolo do turismo de massas, afastando-se da autenticidade que outrora encantava visitantes. O artigo descreve o destino como “um centro turístico dominado por construções modernas e sem identidade”, onde o apelo à tradição foi substituído pelo brilho das luzes noturnas e pelo som constante da animação veraneante.
Apesar das críticas, os autores admitem que o ambiente festivo pode ser precisamente o que atrai muitos visitantes. “Para quem procura vida noturna e diversão, Albufeira é o paraíso. Mas para quem sonha com o Portugal autêntico, pode ser uma desilusão”, lê-se na análise.
Críticas às zonas mais emblemáticas
A Praia da Oura surge como um dos exemplos mais citados. O jornal britânico descreve-a como “um local mais vocacionado para recuperar dos excessos da noite anterior do que para relaxar”, uma frase que resume o tom crítico do artigo.
Para os jornalistas, esta praia representa a faceta menos charmosa do turismo algarvio — um espaço saturado, ruidoso e descaracterizado, onde o comércio e o entretenimento se sobrepõem ao ambiente natural.
Já a Praia dos Pescadores, junto ao centro histórico, recebe uma apreciação mais equilibrada. É elogiada pela sua beleza natural e atmosfera acolhedora, mas com uma ressalva: “É um dos melhores locais para banhos, desde que o olhar permaneça voltado para o mar, e não para o interior da cidade, onde as construções modernas se multiplicam.”
Um destino que continua a dividir opiniões
Apesar do tom severo das críticas, Albufeira mantém-se como um dos destinos mais procurados por turistas britânicos e europeus, sobretudo durante os meses de verão. O clima ameno, a vasta oferta hoteleira e a animação constante continuam a garantir milhares de visitantes todos os anos, impulsionando a economia local.
Para muitos, o que o The Telegraph considera um defeito é, na verdade, uma qualidade. A energia contagiante, as ruas cheias de vida e o espírito cosmopolita fazem parte da identidade moderna da cidade — uma identidade que, embora diferente das origens piscatórias, continua a definir Albufeira como um dos ícones turísticos do Algarve.
Contudo, a publicação britânica sublinha que o crescimento rápido e a pressão urbanística apagaram parte da autenticidade local, transformando um antigo refúgio à beira-mar num exemplo de como o turismo em excesso pode alterar a alma de um lugar.
Outras cidades europeias também criticadas
Albufeira não está sozinha nesta lista pouco desejada. O The Telegraph aponta também Mónaco, descrito como uma “bolha de luxo e betão”, onde arranha-céus comprimem a vista sobre o Mediterrâneo. Em Itália, Ostia é criticada pela “paisagem urbana árida” e pela qualidade duvidosa da água.
Na Croácia, Ploče é vista como um “porto industrial sem encanto”, enquanto na Turquia, Kemer é considerado um resort “sem identidade, construído de raiz para o turismo de massas”.
Em Espanha, La Línea de la Concepción surge penalizada pela proximidade a uma refinaria e pelos edifícios que bloqueiam a vista para Gibraltar. E na Grécia, Laganas, na ilha de Zante, é descrita como “um destino a evitar por quem tenha mais de 25 anos”, devido à vida noturna intensa.
O contraste com os destinos elogiados
Em contrapartida, refere o Postal, o artigo destaca os locais que souberam preservar a sua beleza natural e cultural. Entre os exemplos mais admirados estão Collioure, em França, Cefalù, na Sicília, e a Comporta, em Portugal — destinos elogiados pela harmonia entre natureza, arquitetura e autenticidade.
Estes contrastes revelam um debate crescente na Europa: como equilibrar o turismo com a preservação da identidade local. E é precisamente nesse equilíbrio que Albufeira se encontra no centro de uma discussão que vai muito além das suas praias — uma reflexão sobre o preço do sucesso turístico e sobre o que significa, afinal, a beleza de uma cidade.
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