É maior, mais rápida, pode voar e está a espalhar-se a um ritmo assustador. A barata americana (Periplaneta americana) já não é um problema distante — é uma realidade em Portugal. Esta espécie invasora, considerada uma das pragas urbanas mais resistentes e difíceis de controlar, está a tomar conta de cidades, esgotos e até das nossas casas, sobretudo nos meses mais quentes.
A sua presença já domina 88% do território espanhol, e os relatos de infestações em território português têm vindo a aumentar, principalmente nas zonas costeiras e urbanas. E o pior? Esta praga veio para ficar.
A barata americana: uma ameaça urbana silenciosa
Com até 5 centímetros de comprimento, a Periplaneta americana é a maior espécie de barata do mundo. O seu tom acastanhado avermelhado, as antenas longas e a capacidade de voar tornam-na um dos pesadelos urbanos mais temidos.
“É uma das espécies mais difíceis de eliminar e uma das mais invasivas das últimas décadas”, alerta a empresa Anticimex, especializada em controlo de pragas.
Segundo dados recolhidos em Espanha, entre 2020 e 2023 foram emitidos mais de 623 mil certificados de desinfestação relacionados exclusivamente com esta barata. Uma média de mais de 500 infestações por dia.
Como se espalha esta praga?
Esta barata adora ambientes quentes e húmidos, como esgotos, garagens, caves e casas de banho. Vive no subsolo das cidades, aproveita falhas estruturais, infiltra-se por pequenas aberturas e sobrevive em condições extremas. Já foi encontrada em galerias de minas desativadas, estações de metro e até em motores de automóveis.
O ciclo de vida pode durar até 15 meses, e cada fêmea é capaz de depositar centenas de ovos ao longo da sua existência. Com as temperaturas amenas em grande parte do ano e a humidade típica de regiões costeiras, Portugal oferece condições ideais para a sua proliferação.

Onde já foi encontrada em Portugal?
De acordo com empresas de controlo de pragas como a Pragalgarve, esta espécie já foi identificada em várias cidades portuguesas, principalmente Lisboa, Porto, Setúbal, Faro e Coimbra.
É nas zonas litorais e densamente povoadas que se verifica maior incidência. A facilidade com que se desloca através das redes de esgotos e a sua capacidade de adaptação tornam extremamente difícil o controlo local. E o que começa num prédio pode rapidamente alastrar-se ao bairro inteiro.
Por que é tão difícil de eliminar?
A barata americana é altamente resistente. Sobrevive semanas sem comida, tolera ambientes tóxicos e adapta-se rapidamente a pesticidas. As suas asas permitem-lhe deslizar ou até voar curtas distâncias, sobretudo quando se sente ameaçada. É também uma espécie noturna, o que dificulta a sua deteção precoce. Quando a vemos à luz do dia, isso é geralmente sinal de que a infestação já é séria e o número de indivíduos é elevado.
Riscos para a saúde pública
Estas baratas não são apenas desagradáveis. refere o Postal do Algarve. Representam um perigo real para a saúde, já que transportam microrganismos patogénicos, incluindo bactérias, fungos, vírus e parasitas. Podem contaminar alimentos, utensílios de cozinha, superfícies e provocar alergias respiratórias, principalmente em crianças e idosos.
“A presença de baratas num espaço habitado é um alerta sanitário. É urgente agir assim que surgem os primeiros sinais”, avisa a Associação Espanhola de Entomologia.

Como proteger a sua casa?
Especialistas recomendam medidas preventivas rigorosas, especialmente durante os meses mais quentes:
- Selar todas as aberturas e fendas, especialmente em cozinhas e casas de banho.
- Evitar deixar alimentos expostos ou restos no lixo.
- Reforçar a vedação de ralos, canos e grelhas de esgoto.
- Inspecionar garagens, arrecadações e zonas húmidas com frequência.
- Contratar serviços profissionais de desinfestação ao primeiro sinal de presença.
A praga que não conhece fronteiras
A barata americana já se espalhou por 44 das 50 províncias espanholas, e os arquipélagos das Canárias e Baleares registam uma incidência particularmente alta. Em Portugal, o avanço é silencioso, mas crescente. E se nada for feito, o futuro poderá ser dominado por esta espécie indesejada.
Esta é uma guerra urbana sem balas, mas com consequências reais: riscos para a saúde, prejuízos económicos e perda de qualidade de vida. A prevenção começa em casa — e é urgente.
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