As autoridades espanholas lançaram uma nova operação de vigilância nas estradas e fronteiras depois de identificarem um aumento preocupante de veículos com matrículas provisórias francesas iniciadas por “WW”, associadas a atividades criminosas e esquemas de tráfico internacional de automóveis.
O alerta surgiu após diversas investigações revelarem que estas placas temporárias — originalmente criadas para permitir a circulação legal de veículos ainda sem matrícula definitiva em França — estão a ser utilizadas por redes criminosas para ocultar carros roubados, lavar bens ou efetuar trocas ilícitas entre países vizinhos.
O caso, divulgado pelo portal especializado El Motor, acendeu o sinal de alarme em Espanha, onde a Guardia Civil intensificou os controlos junto à fronteira francesa, especialmente na região de La Jonquera, uma das principais portas de entrada para o tráfico automóvel europeu.
Matrículas “WW”: um sistema legal que se tornou vulnerável
Em território francês, a obtenção das matrículas temporárias “WW” é simples, rápida e barata. Qualquer cidadão ou empresa pode solicitar uma placa provisória através do portal da Agence Nationale des Titres Sécurisés (ANTS), preenchendo um formulário online e pagando uma taxa de apenas 11 euros.
O documento é emitido num prazo curto e a matrícula é válida por dois a quatro meses, podendo ser renovada com uma nova submissão de dados.
Criado com o objetivo de facilitar a circulação de veículos novos, importados ou ainda em processo de registo definitivo, o sistema acabou por se transformar numa brecha explorada por redes criminosas. O motivo é simples: não existe uma rastreabilidade contínua associada a estas matrículas, o que dificulta a identificação do verdadeiro proprietário e permite disfarçar a origem de carros roubados.
Carros suspeitos sob vigilância apertada
A Guardia Civil, em conjunto com a Policía Nacional, passou a realizar verificações sistemáticas de veículos com matrícula WW. Na maioria dos casos, os agentes solicitam documentos de identificação, certificados de compra e número de chassis (VIN) para confirmar a autenticidade do veículo.
De acordo com Carles Martos, chefe do Grupo de Investigación y Documentación de Girona, há um aumento claro de tentativas de atravessar a fronteira com automóveis de origem duvidosa, alguns deles recém-roubados em França, Alemanha e Bélgica.
A prática tornou-se tão frequente que, em certas zonas da Catalunha, qualquer veículo com matrícula WW é automaticamente sinalizado para inspeção.
Uma falha legal com implicações internacionais
Apesar das suspeitas, o uso das matrículas WW não é ilegal em França. Trata-se de um sistema criado em 1950 para permitir aos concessionários testar veículos antes da venda e para facilitar a circulação temporária de automóveis importados. No entanto, a possibilidade de renovar indefinidamente estas matrículas — bastando pequenas alterações nos dados apresentados — abriu espaço para abusos organizados.
As autoridades espanholas pedem agora uma cooperação internacional reforçada entre França, Espanha e restantes países europeus para detetar fraudes transfronteiriças e prevenir o uso indevido destas placas temporárias.
Um esquema em expansão silenciosa
A facilidade de obtenção e a ausência de um controlo rigoroso tornaram as matrículas WW um disfarce perfeito para atividades ilegais. Segundo as forças de segurança, há indícios de que estes veículos são utilizados não apenas para transporte de carros roubados, mas também para movimentação discreta de dinheiro, drogas e outros bens.
Os especialistas alertam que este fenómeno poderá alastrar-se a outros países europeus, incluindo Portugal, dada a proximidade geográfica e a frequência com que automóveis usados circulam entre fronteiras sem controlo físico direto.
Um sistema com história, mas que exige atualização
De acordo com o Postal, o sistema de matrículas provisórias francesas existe há mais de 70 anos, desde 1950, quando foi criado para permitir aos concessionários testar viaturas antes da venda — uma realidade muito diferente da atual, com fronteiras abertas e circulação livre no espaço europeu.
Hoje, o desafio é equilibrar a facilidade administrativa com a segurança internacional, impedindo que um mecanismo legítimo seja usado como ferramenta de disfarce para redes criminosas.
Enquanto isso, os condutores que circularem em Espanha com matrícula WW devem estar preparados para controlos rigorosos e eventuais verificações adicionais, mesmo que o uso seja legítimo.
A mensagem das autoridades é clara: tolerância zero a qualquer utilização abusiva deste sistema.
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