Todos os verões, milhões de turistas acorrem às praias mais emblemáticas da Europa em busca de descanso, sol e paisagens de sonho. Mas, por detrás das fotografias idílicas partilhadas nas redes sociais, esconde-se uma realidade bem diferente: sobrelotação, lixo, ruído constante e uma experiência muito aquém das expectativas.
De acordo com um relatório recente da empresa de tecnologia Cloudwards, a Europa domina a lista das praias mais criticadas do mundo.
Com base na análise de mais de 1,3 milhões de avaliações no TripAdvisor, referentes a 200 praias mundialmente famosas, foi possível identificar os destinos que mais desiludem.
O estudo utilizou filtros de palavras-chave ligadas a quatro categorias principais de queixas: sujidade, excesso de gente, filas e barulho. E os resultados não deixam margem para dúvidas: oito das dez praias mais criticadas por sobrelotação estão em solo europeu.
Sardenha: o paraíso que perdeu a tranquilidade
Na liderança da lista surge La Pelosa, uma das joias da Sardenha, rodeada por águas azul-turquesa. Quase 87% das críticas negativas referem a presença sufocante de multidões, mesmo em dias de semana e fora da época alta.
A Spiaggia La Cinta, também na Sardenha, segue-lhe os passos, com queixas sobre a dificuldade em encontrar espaço livre e o ambiente ruidoso.
Portugal não escapa às críticas
Portugal também aparece neste retrato pouco animador. A Praia da Falésia, no Algarve, conhecida pelas suas falésias imponentes e areais dourados, surge entre os destinos apontados pela sobrelotação. A pressão turística sobre esta zona tem vindo a aumentar exponencialmente, especialmente durante os meses de verão, tornando difícil encontrar um momento de paz, mesmo nas primeiras horas do dia.
Além disso, o aumento do número de empreendimentos turísticos à volta das praias algarvias tem vindo a colocar pressão não só sobre os ecossistemas costeiros, mas também sobre os próprios residentes. O acesso à praia torna-se caótico, o estacionamento escasso, e a tranquilidade — que outrora era marca registada da região — parece esvair-se ano após ano.
Grécia: da beleza natural ao desconforto
A Grécia, embora escape à liderança em sobrelotação, destaca-se noutras categorias preocupantes. A lagoa de Balos, em Creta, figura entre as mais sujas da Europa, enquanto Elafonissi é frequentemente apontada como sobrecarregada, ainda que mantenha alguma limpeza. Porto Katsiki, em Lefkada, é fortemente criticada pelo ruído constante e pela perda do ambiente tranquilo que a tornava especial.
Medidas urgentes para proteger o paraíso
Face ao impacto devastador do turismo em massa, algumas regiões começaram a adotar medidas para tentar equilibrar a preservação ambiental com a receção turística. A Sardenha, por exemplo, implementou limites diários de visitantes, reservas obrigatórias e até a proibição de toalhas, para reduzir a erosão da areia.
Na Grécia, foi introduzida uma taxa de 20 euros para passageiros de cruzeiros em ilhas como Mykonos e Santorini, numa tentativa de controlar o fluxo turístico. Espanha, por sua vez, proibiu o consumo de álcool em algumas praias e instituiu coimas para condutas desrespeitosas.
Estas políticas, ainda que controversas para alguns, são um passo essencial rumo à sustentabilidade. Sem controlo, muitas destas praias correm o risco de perder a biodiversidade, a qualidade da água e a identidade que as tornou tão procuradas.
Quando o sonho se transforma em desilusão
O contraste entre as imagens filtradas que circulam nas redes sociais e a realidade que os viajantes encontram ao chegar é cada vez mais gritante. A promessa de tranquilidade, natureza intocada e experiências autênticas tem vindo a dar lugar ao caos, à falta de espaço e ao desconforto.
A crise da sobrelotação nas praias europeias exige uma reflexão profunda sobre os limites do turismo e a necessidade de preservar o que ainda resta de natural e intocado. Sem medidas sustentáveis e conscientes, até o mais belo paraíso pode chegar ao ponto de rutura.
Mas há sinais de esperança: em vários destinos, começam a surgir iniciativas de turismo responsável, como campanhas de sensibilização, incentivos à visitação fora da época alta e o fomento de experiências alternativas longe das zonas mais congestionadas, explica a Euronews. Cabe agora a todos — turistas, operadores e autoridades — repensar o modelo atual, antes que o verão perfeito se torne apenas uma memória frustrada.