Aprenda a fazer deliciosas sardinhas assadas na brasa
Fazem parte da nossa história gastronómica. As deliciosas sardinhas assadas na brasa são um clássico, cuja origem e história vale a pena ficar a conhecer.
A sardinha é um peixe pequeno, especialmente comum nas costas atlânticas de França e Marrocos. Ela faz parte não só da gastronomia portuguesa, como da sua cultura popular, sendo mencionada em jogos, canções e cantos do povo.
A tradição de assar sardinhas diretamente na brasa, temperadas com sal grosso, já conta séculos e continua a ser muito apreciada, sobretudo no verão e em época de santos populares e de festas e romarias.
Afinal, hoje já se conhecem os múltiplos benefícios deste peixe que é capaz de controlar o colesterol e a hipertensão e prevenir o risco de AVC.
Origem e história
Dos fenícios aos romanos, a sardinha era pescada e viajava da então Ibéria para todo o mundo romano – África, Itália, Gália e Inglaterra. Também no período muçulmano, a sul do rio Tejo, a pesca deste peixe continuava a ser feita.
Em meados do século XIII, a sardinha, a par do bacalhau, começava a ser consumida, sobretudo, pela população. Há mesmo registos que no reinado de D. João I foi perdido aos habitantes do Porto, deslocarem-se a Lisboa e Setúbal para pescarem e se abastecerem deste peixe.
No século XV, começam algumas restrições, só podendo pescar-se sardinha aos domingos e em dias santos. Dois séculos mais tarde, começou mesmo a haver uma escassez deste peixe, pelo que foi proibido o envio de sardinhas para qualquer destino. Terá sido nesta época que a sardinha começou a ser comida sobre uma fatia de pão.
Entre os séculos XIX e XX, ela tornou-se no alimento de muitas famílias rurais e é frequente ouvir-se a história de que uma só sardinha podia dar para muitos membros de uma família, no caso das classes mais pobres, claro.
Prémios
– Em 1855, na Exposição Internacional de Paris, as sardinhas de Setúbal alcançaram menção honrosa.
– Já a 15 de janeiro de 2010, a sardinha portuguesa foi a primeira pescaria na Península Ibérica e na União Europeia a obter o rótulo azul com a certificação de sustentabilidade e boa gestão dos recursos piscatórios MSC (“Marine Stewardship Council”).
– Foi, ainda, considerada uma das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa.
Receita de sardinha assada na brasa
Ingredientes
– 12 sardinhas portuguesas limpas
– 1 chávena de chá de azeite
– 1 colher de sopa de sal grosso
– 1 colher de chá de pimenta preta moída grosseiramente
Modo de Preparação
– Coloque carvão numa churrasqueira, acenda e deixe formar brasas.
– Lave as sardinhas, seque com papel de cozinha e passe-as para uma tigela.
– Tempere, principalmente o interior, com sal e pimenta.
– Pincele o exterior com metade do azeite.
– Disponha as sardinhas na grelha e deixe assar de ambos os lados.
– Retire, distribua pelos pratos e regue com o azeite restante.
Curiosidade
Quer ler uma descrição do século XVIII, acerca da forma como já eram as sardinhas assadas na brasa e todo o frenesim que esse petisco gerava na população? Então, espreite este relato expressivo de Carrére, J.B.F., no seu Panorama de Lisboa no ano de 1796:
“(…) Uma fumarada gordurosa, com mau cheiro, densa, vai saindo lentamente de uma porta, vai saindo até tapar a vista de uma parte do edifício em frente do qual se enovela e se espalha.
Defronte, um grupo numeroso de pessoas de ambos os sexos atravanca a passagem em grande agitação e movimento: ouve-se gritos, que aqui e além se cruzam.
Todo este espectáculo me leva a crer tratar-se de um incêndio. Aproximo-me, furo por entre a multidão, e depara-se-me um fogareiro, uma grelha, uma chaminé, um homem enfarruscado e oleoso, ajudado por uma mulher suja e de aspecto repelente. Ali se frita e assa sardinhas, enquanto aquele amontoado de pessoas espera que elas estejam prontas para cada uma levar o quinhão que pretende.
E a isto se chama Lojas de Frigideiros. São abarracamentos ambulantes que se encontram espalhados por toda a Lisboa, nas ruas, nas praças, nas portadas, principalmente à portas das tabernas. (…)
Estas vendas constituem um grande recurso e comodidade para o povo, que ali encontra prontos e por um preço mínimo o almoço, o jantar e a ceia. Cada indivíduo, munido já do seu pão, compra cinco ou seis sardinhas fritas ou assadas pelo preço de um soldo, ou dezoito dinheiros, e ali mesmo come, ficando jantado. Se dispõe de mais algum dinheiro, pede um copo de vinho na taberna e fica satisfeito. (…)
Mas se para o povo estes estabelecimentos constituem uma grande comodidade, a sua multiplicação, para os que têm a desgraça de lhes serem vizinhos, tem muitos inconvenientes; incomodados como são pelo fumo, pelo cheiro, três vezes por dia aturdidos com o barulho ensurdecedor da multidão que os procura. (…)
Tais lojas tornam-se assim o terror dos inquilinos das casas suas vizinhas, e por isso todos evitam habitar nos sítios onde elas estão instaladas. A precaução, porém, é inútil. A Loja do Frigideiro, que é ambulante e desmontável, muda de lugar num instante, e logo vais estabelecer-se numa portada ou debaixo de uma janela, em sítio onde antes nunca existira estabelecimento semelhante. (…)”
Sardinhas com pimenta? Ora! Fracamente!! E mais, o azeite neste caso torna- se desnecessário, porquanto, qd ela pinga, meus caros é natural.
Ora pois pois. O que interessa é a bagaceira que acompanha. O azeite e o acompanhamento…