Os Estrímnios viveram num período de profundas transformações sociais e culturais. Com o final do Neolítico e a chegada da Idade do Ferro, a humanidade começou a desenvolver novas tecnologias, como o trabalho com metais, que revolucionaram as ferramentas agrícolas, as armas e a vida quotidiana. Este povo adaptou-se a essas mudanças, mas manteve uma ligação forte às práticas tradicionais e à natureza, que marcavam a sua identidade.
A localização geográfica dos Estrímnios, no extremo ocidental da Península Ibérica, conferiu-lhes uma certa proteção contra influências externas, mas também os isolou culturalmente. Este isolamento pode explicar em parte a ausência de uma escrita própria e de uma estrutura política centralizada, em contraste com outras civilizações contemporâneas, como os Fenícios e os Gregos, que desenvolviam sistemas organizados e complexos.
Monumentos megalíticos: a herança dos Estrímnios
Os Estrímnios foram herdeiros diretos da cultura megalítica, que floresceu na Europa Ocidental. Os cromeleques, menires e antas que construíram são testemunhos imponentes da sua habilidade técnica e visão espiritual.
Estas estruturas não eram apenas espaços de culto ou de sepultamento; eram também centros de observação astronómica, mostrando o conhecimento avançado que os Estrímnios tinham dos ciclos naturais e dos astros.
Um exemplo disso são os cromeleques, como o de Almendres, localizado no Alentejo, que revela um alinhamento com os solstícios e equinócios. Este tipo de conhecimento mostra que, embora vistos como primitivos por autores antigos, os Estrímnios tinham uma compreensão sofisticada do mundo que os rodeava.
A religião dos Estrímnios: um culto à natureza
A religião dos Estrímnios refletia a sua dependência e respeito pela natureza. Cada elemento do ambiente era sacralizado: montanhas, rios, florestas, animais e até fenómenos naturais como o sol e a lua. Estes elementos eram personificados em divindades que os Estrímnios honravam através de rituais.
Os rituais sazonais eram particularmente importantes, marcando momentos cruciais do ciclo agrícola, como as colheitas ou o início de uma nova estação. Nestes rituais, os Estrímnios ofereciam alimentos, bebidas fermentadas e, ocasionalmente, animais em sacrifício. Embora relatos de sacrifícios humanos tenham chegado até nós através de fontes romanas e gregas, é difícil determinar a sua veracidade, dado o viés cultural dos autores.
O encontro com outros povos
A posição geográfica dos Estrímnios tornou inevitáveis os contactos com outros povos que navegavam pelo Mediterrâneo e pelo Atlântico. Fenícios, Celtas e mais tarde Romanos, passaram ou estabeleceram-se na Península Ibérica, deixando marcas na cultura dos povos locais. Apesar disso, os Estrímnios mantiveram uma identidade própria durante séculos, resistindo às influências externas até ao momento em que foram quase exterminados pelos Sefes.
A invasão dos Sefes foi um momento de rutura para os Estrímnios. Este povo guerreiro destruiu grande parte dos povoados e monumentos estrímnios, alterando para sempre o equilíbrio da região. Os sobreviventes refugiaram-se em áreas remotas, mas acabaram por ser gradualmente assimilados por outros grupos, especialmente pelos Lusitanos, que emergiram como uma força dominante na região.
Estrímnios na atualidade: redescobrir a história
Hoje, os Estrímnios são uma parte esquecida da nossa história, mencionados apenas em escassos documentos e raramente estudados em profundidade. No entanto, a arqueologia tem desempenhado um papel crucial na redescoberta deste povo. Escavações em cromeleques, antas e povoados fornecem pistas sobre como viviam, trabalhavam e interagiam com o seu ambiente.
Os Estrímnios representam mais do que apenas um capítulo perdido da história; são um lembrete de que as civilizações passadas moldaram o mundo em que vivemos hoje. A sua ligação à terra, os seus rituais e o seu legado material mostram que mesmo povos considerados “primitivos” pelos padrões de outras culturas tinham uma complexidade e um valor que merecem ser reconhecidos.
A importância dos Estrímnios na identidade portuguesa
Compreender os Estrímnios é também compreender as raízes da identidade portuguesa, escreve a VortexMag. Embora pouco se saiba sobre a sua língua e organização social, a sua presença no território marcou o início da ocupação humana que mais tarde se transformaria no que hoje é Portugal.
Estes primeiros habitantes demonstraram uma capacidade de adaptação e resiliência notáveis, enfrentando desafios naturais e invasões culturais. Mesmo que a sua história esteja envolta em mistério, o estudo dos Estrímnios pode enriquecer a nossa compreensão das origens da diversidade cultural e das influências que moldaram a Península Ibérica.
Os Estrímnios não foram apenas os primeiros habitantes do território português; foram pioneiros na construção de uma identidade que, ao longo dos séculos, se transformou numa das mais ricas e diversas da Europa. Preservar e estudar o seu legado é essencial para compreender e valorizar o passado que partilhamos.