Alves dos Reis ficou para a história pela falsificação de notas de 500 escudos. Conheça o maior falsificador da história portuguesa.
Foi em setembro de 1896 que nasceu na capital Artur Virgílio Alves dos Reis, conhecido como o maior falsificador português. No rol de crimes pelos quais foi julgado contam-se a falsificação de notas, documentos e, ainda, muitas burlas.
Uma história surpreendente, ocorrida na primeira metade do século XX, e que narra os crimes de um homem que enriqueceu de forma ilegítima, mas que acabou por morrer sozinho, na pobreza e na miséria. Esquecido por todos, a história de Alves dos Reis vai sendo recuperada pontualmente, sempre que se fala de episódios de falsificações e de burlas. Quer saber mais sobre o percurso de vida deste homem? Contamos-lhe tudo!
Alves dos Reis: a história do maior burlão português
Em 1914, com apenas 18 anos, Alves dos Reis viaja para Angola em busca de melhores condições financeiras. A empresa do seu pai faliu e Alves dos Reis acabou por abandonar o curso de Engenharia que frequentava e por casar com Maria Luísa Jacobetty de Azevedo, membro de uma família rica.
O primeiro crime
É já em Angola que Alves dos Reis praticou o seu primeiro crime conhecido, neste caso a falsificação do diploma de engenheiro civil, elétrico e mecânico, inventado para o efeito o nome de uma escola situada em Oxford. De acordo com o documento, o burlão teria ainda conhecimentos em geologia, geometria, física, metalurgia, matemática pura, paleografia, design mecânico e civil e física aplicada.
Depois, usou ainda um cheque sem cobertura para adquirir grande parte das ações da companhia dos Caminhos de Ferro Transafricanos de Angola, situada em Moçâmedes.
O regresso a Lisboa
Já rico, Alves dos Reis regressou à capital no ano de 1922, altura em que adquiriu uma empresa de revenda de automóveis americanos.
Além disso, recorreu novamente a cheques sem cobertura, desta vez para comprar a Companhia Ambaca. Posteriormente, utilizou o dinheiro da própria companhia para cobrir os cheques sem cobertura que tinha passado. Feitas as contas, apropriou-se de nada mais, nada menos do que 100 mil dólares americanos.
Esse mesmo dinheiro serviu ainda para que adquirisse a Companhia Mineira do Sul de Angola.
A primeira detenção
Mas os golpes de Alves dos Reis não passaram incólumes por muito tempo. Em 1924, acabou por ser detido na cidade Invicta, neste caso por desfalque e tráfico de armas. Porém, a detenção não durou mais de 54 dias, período durante o qual Alves dos Reis aproveitou para planear mais um crime.
Enquanto estava preso, Alves dos Reis pensou em falsificar um contrato em nome do Banco de Portugal, de modo a assim conseguir fabricar notas ilegítimas numa empresa legítima.
Para isso, Alves dos Reis arranjou vários cúmplices e reuniu muitas informações, nomeadamente acerca do funcionamento interno do Banco de Portugal. Alguns dos seus colegas de crime foram:
– Karel Marang Van Ljsselveere;
– Adriano Silva;
– Moura Coutinho;
– Manuel Roquette;
– José Bandeira.
Para executar o crime, Alves dos Reis elaborou um contrato fictício, falsificou a assinatura e obteve a validação do documento pelos consulados de Inglaterra, Alemanha e França. Depois, traduziu o contrato para francês e falsificou as assinaturas da administração do Banco de Portugal, assim como criou cartas que fez passar como sendo do Banco de Portugal.
As notas de 500 escudos
Todos estes documentos falsificados permitiram que ele começasse a criar em grande quantidade notas de 500 escudos ilegítimas. A primeira remessa de notas falsas começou a circular em fevereiro de 1925. Os cúmplices de Alves dos Reis auxiliavam a passagem das notas de Inglaterra até Portugal.
Com este dinheiro, Alves dos Reis decidiu inaugurar o Banco de Angola e Metrópole, mas nem este negócio foi limpo. Para fundar estes bancos, o burlão falsificou o alvará e uma série de outros documentos.
Em 1925, Alves dos Reis ainda investiu na bolsa de valores e no mercado de câmbios, tendo adquirido o Palácio do Menino de Ouro (atual edifício do British Council, em Lisboa), várias quintas e uma frota de táxis.
No entanto, ele nunca “largou” o Banco de Portugal, tendo adquirido até 10 mil ações das 45 mil que o Banco possuía.
As suspeitas
É ainda no ano de 1925 que as falsificações de Alves dos Reis começam a levantar suspeitas.
Há rumores sobre a circulação de notas falsas, os negócios do Banco de Angola e Metrópole parecem não ser muito claros e, no final do ano, os jornalistas acabam por expor nos jornais as várias burlas que teriam sido cometidas por Alves dos Reis.
O investigador por detrás desta descoberta foi João Teixeira Direito, inspetor do Conselho do Comércio Bancário do Banco de Portugal. Bastou encontrar uma nota duplicada, com o mesmo número de série, nos cofres da delegação do Porto do Banco Angola e Metrópole, para confirmar a falsificação. A partir daí, somaram-se as notas com números repetidos.
A partir desse momento, houve ordem para confiscar o património do Banco de Angola e Metrópole de modo a recolher provas que permitissem a detenção de Alves dos Reis e dos seus cúmplices, o que viria a acontecer a 6 de dezembro de 1925.
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A prisão
Alves dos Reis esteve detido até 08 de maio de 1930, cerca de 5 anos. No julgamento, tentou levar o juiz a achar que a própria administração do Banco de Portugal estava envolvida em todo o esquema de falsificação, ridicularizando as figuras do diretor e do governador do Banco.
A detenção de Alves dos Reis não foi fácil para ele que, inclusive, tentou matar-se, durante a prisão. Já com 32 anos de idade, é julgado do Tribunal de Santa Clara, na capital, onde confessou todos os seus crimes e identificou todos os envolvidos nos seus golpes, sendo condenado a 20 anos de prisão. Durante a sua detenção, decidiu converter-se ao protestantismo.
A liberdade
Em maio de 1945, Alves dos Reis sai da prisão, já viúvo e sob o regime do Estado Novo. Recusou uma proposta de trabalho como… empregado bancário.
Contudo, não se pense que a prisão o tinha mudado. Já depois de livre, voltou a ser condenado pela burla na venda de café de Angola e pela burla de 60 mil escudos a um negociante de Lisboa, a quem prometeu 6400 arrobas de um café angolano que, afinal, não existia.
No entanto, já não chegou a ser preso, uma vez que veio a falecer pobre e de ataque cardíaco a 09 de junho de 1955, com 58 anos de idade.