Descubra a fascinante saga de Afonso de Albuquerque, aclamado Leão dos Mares! Mergulhe nas conquistas e proezas deste destemido explorador e estratega militar.
Decorria o ano de 1507, o contexto era distinto e em Lisboa vivia-se uma fase inicial do projeto português no Oriente. As ambições durante os descobrimentos eram estritamente comerciais. As rede de feitorias e os acordos diplomáticos estabelecidos com líderes locais permitiu aos portugueses criarem um contexto bastante favorável.
Contudo, percebeu-se que para existir maior poderio seria indispensável conquistar o domínio militar do Oceano Indico. Neste cenário, emerge uma figura que ficou para a história do país.
Afonso de Albuquerque, o Leão dos Mares!
Várias cidades nesta parte do mundo tornaram-se alvos, pontos estratégicos de grande relevância para materializar as nossas ambições. Portanto, estes locais deveriam ser tomados pela força.
Ormuz
No século XVI, Ormuz era um lugar bastante ambicionado. Por esta cidade, passava todo o comércio do Golfo Pérsico e do Golfo de Omã. Por isso, esta cidade situada no Índico revelava-se uma das cidades mais ricas do planeta. Ora, perante este contexto, a cidade tornou-se num alvo a abater, uma prioridade para a coroa portuguesa, uma cidade que deveria ser conquistada a todo o custo.
O homem e a sua fama
Afonso de Albuquerque foi o homem escolhido. Este português tinha grande reputação. Era o “Leão dos Mares”, o mais creditado dos militares portugueses que tinha essa responsabilidade de tomar esta cidade.
A fama deste militar era tão poderosa que muitas das cidades se rendiam, quando a sua chegada era anunciada. As pessoas dessas cidades juravam no imediato prestar vassalagem a Portugal só para não terem de combater o Leão dos Mares.
A aura de invencibilidade de Afonso de Albuquerque no Oriente era de tal ordem que ele chegou a ser conhecido como o Marte Português.
25 de setembro de 1507
Nesta data, o Leão dos Mares chega a Ormuz. Albuquerque tem a seu cargo 6 naus. No momento da sua chegada, encontra 60 naus ancoradas na cidade. Contudo, nada que fizesse tremer este português temível. No imediato, Albuquerque mandou disparar uma salva de tiros de canhão. Este militar queria anunciar a sua chegada com toda a pompa e circunstância.
A ameaça
Posteriormente, o militar português enviou um homem à mais imponente das naus. Havia uma entre as 60 que estavam presentes no porto que se destacava pelas suas dimensões. Albuquerque tinha passado uma mensagem simples ao homem que servia os seus interesses.
No interior dessa nau, encontravam-se cerca de 1000 soldados. No entanto, o mensageiro apresentou-lhes um dilema: ou o capitão local se apresentava no imediato na embarcação de Albuquerque, ou a embarcação a seu cargo seria afundada.
Imagem de marca
O Leão dos Mares era temerário. Ele era ousado perante um perigo, arrojado. Este tipo de ações aparentemente suicidas eram uma suas imagens de marca. A sua fama ajudava a que medidas radicais tivessem sucesso. O militar português fazia os outros acreditarem que tinham do seu lado um misticismo. Por isso, criou uma aura de pessoa invencível.
O pedido
O Capitão compreendeu o aviso. Perante tal ameaça compareceu na embarcação de Albuquerque. O militar português pediu-lhe que entregasse uma mensagem ao jovem regente da cidade:
“Ormuz poderia continuar a realizar o seu comércio livremente, mas, passaria a estar sob a proteção de Portugal, bastando para isso somente reconhecer o Rei de Portugal como o seu soberano. Caso contrário, todos os navios da cidade seriam destruídos.”
Proteção de Ormuz
Khojah Atár era o nome do jovem regente da cidade. Ele já tinha tido a experiência de ouvir as histórias dos Sultões que se tinham rendido a Albuquerque. O jovem tinha antecipado a chegada do Leão dos Mares. Por isso, ele tinha tomado medidas para assegurar que a sua cidade não tivesse o mesmo fim.
Atár armou a cidade com soldados, armas e as 60 naus que apresentava na cidade para que o mesmo não acontecesse com ele. Além disso, o jovem regente da cidade ordenou que as 100 embarcações que tinha na Pérsia voltassem para defender Ormuz.
O Leão dos Mares
Albuquerque não era na época um homem qualquer. Embora uma ameaça neste contexto fosse encarada como um ultimato a roçar o ridículo, perante o Leão dos Mares, não era visto dessa forma. Por isso, o jovem regente foi prudente. Todos os cuidados eram poucos.
Assim, mesmo com uma superioridade evidente, 60 naus contra 6 naus portuguesas, Khojah Atár decidiu não responder no imediato para ganhar tempo (nomeadamente para a chegada dos reforços da Pérsia, que se esperava que chegassem no dia seguinte).
A esmagadora superioridade de embarcações do jovem regente não era poderio suficiente para ele atacar no imediato.
26 de setembro de 1507
No amanhecer deste dia, os portugueses constataram o óbvio: o seu lado estava enfraquecido. As suas 6 naus tinham agora uma forte oposição. Às 60 naus locais, juntaram-se as 100 embarcações provenientes da Pérsia. Ora, assim, os portugueses estavam cercados por 160 embarcações, destacando-se ainda a presença de vários baluartes de artilharia que se encontravam instalados na Praia.
Os 460 portugueses em 6 naus estavam na iminência de enfrentar 15.000 a 20.000 soldados, com um poder bélico bastante superior.
Personalidade singular
Albuquerque demonstrou novamente tratar-se de alguém distinto, imprevisível. Ele fez algo impensável perante este cenário de aparente fragilidade e demonstrou a sua forte personalidade.
O militar português não queria esperar por uma resposta. Logo, decidiu atacar para ser ele a ditar os termos do combate. O Leão dos Mares queria aproveitar o facto das maiores naus Ormuzianas se encontrarem relativamente próximas das portuguesas.
Assim, ele fez com que as embarcações de Portugal se aproximassem das naus inimigas e abriu fogo. No imediato, essas naus de cidade invadida afundaram-se.
Ousadia lusa
Esta estratégia visava criar um impacto psicológico nas forças inimigas. Para eles, não era fácil ver as maiores naus afundarem em poucos minutos. Ora, o combate de artilharia prosseguiu. As tropas de Ormuz tiveram de lidar com um sentimento de terror que começou a apoderar-se delas.
A vantagem dos portugueses
Era mais difícil para os Portugueses falharem o inimigo. Eles eram tantos. O número de tropas inimigas era enorme. Eles formavam uma massa tão compacta que se tornavam fáceis de atingir. Os portugueses, pelo contrário, tinham um número de embarcações tão reduzido que havia o perigo de ferirem-se entre si.
Método ousado
A estratégia de Albuquerque era sempre de alto risco, mesmo quando o confronto passou para o combate corpo a corpo. Os portugueses heroicos não ficavam nas suas embarcações. Abordavam navio a navio, no combate corpo a corpo.
Na sua ousadia, os soldados portugueses procuravam matar os capitães, com a maior celeridade possível, para gerar nos inimigos um sentimento de pânico generalizado, deixando-os desorientados.
Com esta metodologia arrojada, diversos soldados inimigos fugiram, acreditando na fama do Leão dos Mares, que os portugueses estariam protegidos por alguma entidade divina.
Criar o terror
Afonso de Albuquerque ordenou que os portugueses queimassem no imediato cada embarcação conquistada. Por isso, rapidamente, a situação ficou descontrolada. Do aparente domínio, Ormuz ficou numa situação delicada e desesperada.
Contabilidade
Os números de vítimas eram avassaladores, logo no final do primeiro dia. A cidade de Ormuz tinha perdido boa parte do seu poderio, cerca de 80 naus e 30 terradas (embarcações menores).
Além disso, contabilizaram-se vários milhares de feridos e mortos. Esses números demonstraram um combate desigual. Os portugueses mostraram grande resistência no confronto e contabilizaram somente 11 feridos. Ora, era um número impensável, um desenlace inesperado para quem via o cenário delicado no início desse dia.
Fique a conhecer outras personalidades que marcaram a nossa história:
- Fernão de Magalhães, o maior navegador português
- Gago Coutinho e Sacadura Cabral: a vitória impossível contra o Atlântico
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Rendição
Os portugueses tinham a vantagem de serem soldados de elite, altamente treinados, qualificados para o confronto e com experiência nestas andanças. Os soldados inimigos eram indisciplinados e inexperientes, uma desvantagem que se revelou fatal.
Perante este cenário, a rendição dos locais tornou-se inevitável. Portugal manteve Khojah Atár no trono como prova de boa-fé. Além disso, os portugueses iniciaram a construção de uma fortaleza em Ormuz.
Sucesso sem precedentes
Afonso de Albuquerque fica na nossa história pelos seus méritos enquanto estratega. Foi o maior génio militar do século XVI. O Leão dos Mares tinha conquistado mais um reino para Portugal. A vitória deste militar numa batalha aparentemente desequilibrada simboliza na perfeição o destino de Portugal.
O feito incrível deste militar contribuiu para que uma nação com apenas um milhão de habitantes se tornasse no primeiro império global da história. Quem diria que um país desta dimensão (tão pequeno geograficamente) pudesse alcançar feitos com uma magnitude sem procedentes. Portugal distinguiu-se da concorrência, num planeta com países muito maiores e com nações mais poderosas e mais populosas.
Numa altura em que alguns dos nossos políticos “espertos” (paridos nos últimos cinquenta anos, diga-se…) pretendem re-escrever a história de Portugal (a qual teve, certamente, períodos “áureos” e “muto negros”), é sempre bom recordar a epopeia dos navegadores e conquistadores portugueses dos Séculos XIV e XV da nosa era.
Grande Albuquerque