A produção de azeite em Portugal atingiu um marco notável em 2023, ultrapassando os 1,75 milhões de hectolitros, tornando-se a segunda campanha oleícola mais produtiva de sempre, segundo os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). No entanto, apesar deste volume impressionante, o elevado teor de humidade das azeitonas representou um desafio significativo, dificultando o processo de extração e resultando numa diminuição do rendimento da azeitona no lagar.
A relevância do Alentejo na produção de azeite
Segundo o Notícias de Coimbra, a região do Alentejo manteve-se como a principal responsável pela produção de azeite em Portugal, contribuindo com 1,47 milhões de hectolitros para o total nacional. Este valor reflete a importância da região, que é o coração da produção oleícola portuguesa, onde se cultivaram 201.422 hectares dedicados à produção de azeitonas, mais de metade da área nacional de cultivo, que totaliza 374.334 hectares.
No Alentejo, a produção de azeitona para azeite em 2023 foi particularmente expressiva, alcançando 972.357 toneladas. Esta quantidade coloca a região numa posição de liderança face às outras regiões do país, como o Norte, que, embora significativa, fica atrás com 80.284 hectares dedicados à produção.
Desafios climáticos e impacto no processo de extração
Apesar dos números elevados, o elevado teor de humidade das azeitonas causou dificuldades no processo de extração de azeite. Este fator climático condicionou a eficácia da extração, resultando num rendimento mais baixo, o que significa que, embora tenha havido um aumento na quantidade de azeitonas colhidas, a produção de azeite por quilo de azeitona foi inferior ao esperado. Esta situação sublinha a importância de condições meteorológicas adequadas durante a fase de colheita, já que a qualidade do azeite depende não só da quantidade de azeitonas, mas também do processo de transformação no lagar.
Autoaprovisionamento e exportação: Portugal como potência oleícola
Outro dado relevante apresentado pelo INE foi o grau de autoaprovisionamento de azeite, que em 2022 se situou em 198,6%, o que significa que Portugal produziu quase o dobro das necessidades internas. Embora este valor esteja 66,2 pontos percentuais abaixo do recorde registado em 2021, o país mantém uma forte capacidade de exportação, consolidando a sua posição como um dos principais produtores de azeite no contexto europeu e mundial.
A quebra no grau de autoaprovisionamento em 2022 é explicada pela combinação de uma campanha de produção anterior menos produtiva e a redução dos ‘stocks’, que também contribuiu para a pressão sobre os preços do azeite no mercado global.
A escalada dos preços do azeite em 2023
Um dos impactos mais sentidos pelos consumidores em 2023 foi a acentuada subida do preço do azeite, que aumentou quase 70% em relação ao ano anterior. Esta escalada de preços foi atribuída a vários fatores, incluindo a produção “extraordinariamente baixa” da campanha de 2022, bem como a quebra significativa na produção de azeite em Espanha, um dos maiores produtores mundiais. A redução drástica dos ‘stocks’ globais também contribuiu para a pressão sobre os preços, num mercado onde a procura continua a crescer.
Este aumento de preços reflete-se diretamente no custo de vida dos consumidores, especialmente em Portugal, onde o azeite é um elemento essencial da dieta mediterrânica. A situação tem gerado preocupação, não apenas entre os produtores, que enfrentam desafios climáticos e de mercado, mas também entre os consumidores, que têm de lidar com preços mais elevados nas prateleiras dos supermercados.
Perspetivas para o futuro da produção de azeite em Portugal
Apesar dos desafios enfrentados em 2023, a produção de azeite em Portugal continua a ser um setor robusto e estratégico para a economia nacional. O país tem investido fortemente na modernização dos olivais e na implementação de tecnologias inovadoras nos lagares, de modo a aumentar a eficiência da extração e a melhorar a qualidade do produto final. Com o Alentejo a liderar este movimento, há uma clara aposta no crescimento sustentável do setor, tanto para consumo interno quanto para exportação.
No entanto, a variabilidade climática e os desafios associados à gestão de água para a irrigação dos olivais representam incertezas que poderão continuar a afetar o setor nos próximos anos. É crucial que os produtores e decisores políticos trabalhem em conjunto para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e garantir que o azeite português continue a ser um produto de excelência, tanto no mercado interno como nos mercados internacionais.
Em suma, o ano de 2023 ficará marcado não só pela elevada produção de azeite, mas também pelos desafios impostos pelos fatores climáticos e pelo impacto no rendimento da extração. À medida que o mercado global se ajusta à escassez de ‘stocks’ e à redução de oferta de países vizinhos, Portugal tem uma oportunidade única de reforçar a sua posição no mercado oleícola, desde que continue a investir na sustentabilidade e na inovação do setor.