Pode parecer lenda ou milagre… mas Portugal teve uma rainha que, apesar de ter já um filho, alegava ser virgem. Essa rainha foi a impopular D. Leonor Teles, filha de Martim Afonso Teles de Menezes e Aldonça de Vasconcelos, tendo nascido em Trás-os-Montes em 1350.
D. Leonor Teles casou-se com D. Fernando I de Portugal, tendo sido rainha entre 1372 e 1383. Contudo, o rei não foi o seu primeiro marido. Ainda jovem, Leonor casara com João Lourenço da Cunha, de quem teve um filho pouco antes de se tornar rainha.
A sua alegação de virgindade, apesar de ter já um filho, contribuiu para a sua impopularidade e a controvérsia em torno da sua figura.
O casamento com D. Fernando
Para uns, D. Fernando casou com Leonor Teles por amor. Para outros, foi vítima da ambição dela. E ainda segundo outras teorias, o rei fez esta escolha como forma de assegurar alguma estabilidade política, já que os reinos que mais tarde formariam Espanha se encontravam em ardentes guerras e procuravam o apoio do monarca português.
Seja como for, o que é certo é que D. Fernando acabou por casar com D. Leonor Teles, apesar do compromisso que tinha já assumido de casar com uma infanta de Castela.
Controvérsia e revolta popular
Antes do casamento, corria já na Lisboa de 1372 o rumor de que o rei se iria casar com uma das barregãs, tendo o povo entrado em protestos por não querer que uma mulher aleivosa e adúltera se sentasse no trono.
Apesar de D. Leonor ter sangue nobre, o povo queria alguém que correspondesse ao modelo de rainha virgem, algo que ela claramente não era. Para tentar acalmar as águas, Leonor escondeu o nascimento do seu primeiro filho, numa tentativa de eliminar qualquer obstáculo à sua ambição de ser rainha.
As repercussões do casamento
Esta decisão não impediu as revoltas populares, que foram reprimidas violentamente por D. Fernando. O casamento realizou-se em maio de 1372, no Mosteiro de Leça do Balio, e em 1373 nasceu a filha de ambos, D. Beatriz. No entanto, a união de D. Fernando com D. Leonor não foi suficiente para apaziguar a oposição e as intrigas que cercavam a rainha.
A regência de D. Leonor
Em 1383, com a morte de D. Fernando, D. Leonor assumiu a regência do reino. Durante este período, ela viveu abertamente com o seu amante, o conde Andeiro, um facto que escandalizou ainda mais a população e a nobreza. O conde Andeiro, que já era conhecido como amante de D. Leonor durante a vida de D. Fernando, tornou-se uma figura central na corte, exacerbando as tensões.
O clímax da crise
A pedido de Castela, D. Leonor aclamou D. Beatriz e o seu marido, D. João I de Castela, como reis de Portugal.
Esta decisão provocou uma revolta generalizada entre o povo, os nobres e a burguesia, que se opunham à integração de Portugal no reino castelhano. A revolta culminou no assassinato do conde Andeiro pelo Mestre de Avis, que mais tarde se tornaria D. João I de Portugal.
O exílio e a morte de D. Leonor
Após estes eventos tumultuosos, Leonor Teles fugiu para Castela. Lá, enfrentou uma vida difícil, marcada por conflitos com o seu genro, D. João I de Castela. Este, eventualmente, mandou internar D. Leonor no Mosteiro de Tordesilhas, onde ela veio a falecer em 1386, conforme explica a VortexMag.
Reflexão final
A história de D. Leonor Teles é uma das mais intrigantes e controversas da história portuguesa. A sua ascensão ao trono, marcada por ambição, intriga e escândalo, e a sua queda dramática, refletem as complexidades e os desafios do período medieval em Portugal. A figura de D. Leonor permanece envolta em mistério e controvérsia, mas a sua história é um lembrete poderoso das intrigas e das paixões que moldaram o destino de nações e impérios.