São um dos maiores símbolos do Porto e representam a luta heroica do Homem contra a adversidade. Conheça tudo sobre os barcos rabelos, a embarcação típica do rio Douro.
Os barcos rabelos eram os barcos típicos do Douro e, ainda hoje, é possível ver réplicas suas, nas margens da ribeira do Porto ou no cais de Gaia. A “culpa” é das caves do vinho do Porto que têm investido no restauro dos rabelos.
Atualmente, a função é mais simbólica, como na Regata do Douro que acontece por ocasião do São João. Porém, em tempos passados, estas embarcações tiveram um papel crucial no desenvolvimento comercial e económico da região duriense. Perceba porquê!
A história dos barcos rabelos do Douro
No passado, as quintas do Douro onde o vinho do Porto era produzido apenas estavam acessíveis através do rio. Contudo, antigamente, ainda não havia barragens e, por isso, o Douro não era um rio tranquilo, mas antes turbulento, com uma corrente muito revolta que tirou, por exemplo, a vida ao Barão de Forrester.
Para navegar nessas águas, era preciso uma embarcação resistente e foi assim que surgiram os barcos rabelos. Feitos de madeira, eles levavam as pipas do vinho para envelhecerem nas caves ainda hoje presentes em Vila Nova de Gaia.
O nome Rabelo deve-se ao facto deste tipo de barco ter no lugar do leme uma grande espadela em forma de “rabo”.
Características dos barcos rabelos
O barco rabelo media, em média 19 a 23 metros e era construído através da sobreposição de tábuas. O seu fundo era plano e a sua vela quadrada. Cada barco transportava aproximadamente 100 barris de vinho do Porto.
Para conduzir o barco, seguiam cerca de 12 homens. Aos barcos eram dados os nomes de santos, na esperança de assim obter proteção divina durante as arriscadas viagens Douro acima e Douro abaixo.
O comboio para o Douro
Foi em 1887 que foi construída a primeira via ferroviária do Douro. A partir desse momento, passou a existir uma alternativa ao rio para o transporte do vinho das quintas do Douro até às caves de Vila Nova de Gaia.
Ainda assim, os barcos rabelos continuaram a percorrer o rio Douro até meados do século XX.
Cruzeiros
Hoje em dia, há cruzeiros, como o Cruzeiro das Pontes ou o Pinhão-Tua-Pinhão, que fazem uso de réplicas deste barco para navegar as águas do Douro. Esta é uma experiência única de vivenciar, em parte, aquilo que durante muitos anos fez parte da vida e do dia a dia de vários homens.
Se visitar as quintas da região do Douro, também ficará a saber mais e a perceber melhor o percurso feito pelo vinho, desde que era produzido até que saía das quintas, rumo aos barcos rabelos.
Assim, podemos considerar que esta embarcação teve um papel essencial no desenvolvimento comercial e económico da região do Douro, na medida em que transportava um produto local extremamente valioso, como é o caso do vinho do Porto.
A Arquitectura do Rabelo
Quem quiser ficar a saber ainda mais sobre os barcos rabelos pode consultar este trabalho da responsabilidade do arquiteto Octávio Lixa Filgueiras, o qual serviu de base ao roteiro do documentário feito em 1991 por José Monteiro e Vítor Bilhete.
Neste filme, é possível perceber que a construção dos rabelos seguia o método nórdico de carpintaria naval, o que significa que o casco era montado antes das cavernas. Para fabricar os barcos, foram seguidas as medidas básicas tradicionais, o gosto do artista e a experiência das várias gerações de fabricantes.
Vídeo de: Carlos Romão
Glossário associado aos barcos rabelos
Adriça – corda que passava por uma roldana presa ao mastro e com que se içava a vela
Apegadas – castelo de comando; ponte do arrais
Arrais – proprietário do barco
Bambinelas – cortinas que se prendiam na parte posterior da apegada
Batedouro – pá de madeira, de uma só peça, usada para tirar a água do fundo do barco
Bicheiro – pau com um gancho de ferro que ajudava a atracar
Bordados – tábuas que rematavam as amuradas do barco
Cabaço – baldes
Cabrestos – cordas que se prendiam aos tornos da espadela
Cabritos – pedra nas margens, por onde costumavam passar as sirgas e os cabos de arame, em sulcos e ranhuras especiais
Casco – pipa
Childeira da ré – depósito de víveres aberto sob o fundo do barco e ao qual se descia, por vezes, por um alçapão
Chumaceira – pedaço de madeira no qual se prendia o parafuso onde girava a espadela
Coqueiro – é o espaço abrigado que se situava à popa do barco
Espadela – leme
Estamão – banco atravessado pelo mastro
Feitor da espadela – o mestre
Feitor da proa – cargo imediato ao do mestre
Ouças – paus onde se apoiavam as pás para remar
Parafuso – eixo no qual girava a espadela
Pás – remos
Ponteador – marinheiro que ia às pás
Pote – nome da panela de ferro de 3 pés
Sagre – fundo do barco
Tábua do pão – prateleira dentro do coqueiro onde se guardava o pão
Traste – tábua onde se firmava o mastro
Verdugos – paus que resguardavam a borda e onde assentavam os bordados
Verga – vara que sustentava a vela
Volta da estameira – nó usado para dentro do barco
Vídeo de: adriano nazareth
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