O Festival RTP da Canção é um dos eventos mais emblemáticos da música portuguesa, sendo desde 1964 a plataforma que escolhe o representante de Portugal no Festival Eurovisão da Canção. Ao longo das décadas, tornou-se num verdadeiro palco de emoções, descobertas e memórias inesquecíveis. Mas como começou esta jornada?
O primeiro Festival RTP da Canção, intitulado 1º Grande Prémio TV da Canção Portuguesa, teve lugar a 2 de fevereiro de 1964, nos estúdios do Lumiar, em Lisboa. Apresentado por Maria Helena Fialho Gouveia e Henrique Mendes, foi uma noite histórica que marcou o início de uma tradição televisiva que ainda hoje perdura.
Seis intérpretes subiram ao palco para interpretar as canções a concurso, numa competição que procurava a melhor voz e a melhor melodia para representar Portugal além-fronteiras. Entre os concorrentes estavam nomes que viriam a tornar-se icónicos na música nacional, como Madalena Iglésias, Simone de Oliveira, Artur Garcia e Max.
A grande vitória, no entanto, coube a António Calvário, que emocionou o público e os jurados com a canção “Oração”, um tema que viria a tornar-se um clássico da música portuguesa. A composição, repleta de sentimento e melodia envolvente, destacou-se entre as demais e garantiu-lhe o passaporte para representar Portugal na nossa primeira participação no Festival Eurovisão da Canção, que nesse ano decorreu em Copenhaga, Dinamarca.
António Calvário: o primeiro vencedor do Festival da Canção
António Calvário já era um nome reconhecido quando venceu o primeiro Festival RTP da Canção. Nascido em Moçambique, tornou-se uma das maiores estrelas da música ligeira portuguesa nos anos 60, sendo considerado o primeiro grande ídolo da juventude portuguesa. Com um estilo elegante, uma voz aveludada e uma presença carismática, conquistou o coração do público e tornou-se num dos artistas mais admirados da sua geração.
A vitória com “Oração” consolidou ainda mais a sua carreira, levando-o a representar Portugal na Eurovisão – um feito inédito na altura. Embora o país não tenha conseguido alcançar um lugar de destaque na competição internacional, António Calvário entrou para a história como o primeiro representante português e ajudou a abrir caminho para a participação contínua de Portugal neste certame europeu.
Com uma carreira repleta de sucessos, António Calvário não ficou apenas conhecido pelo Festival RTP da Canção. Temas como “Mocidade, Mocidade”, “Regresso” e “Chorona” tornaram-se êxitos inesquecíveis, ajudando-o a cimentar o seu estatuto de estrela da música nacional.
O seu impacto foi tão grande que, mesmo depois de várias décadas, continua a ser lembrado com carinho e respeito pelo público português. Para muitos, António Calvário não foi apenas um cantor: foi um fenómeno de popularidade, um verdadeiro embaixador da música portuguesa e um símbolo de uma época dourada da cultura nacional.
O 1º Grande Prémio TV da Canção Portuguesa foi, sem dúvida, o início de um legado musical que perdura até aos dias de hoje, e António Calvário teve a honra de ser o seu primeiro grande vencedor.
“Oração”: a canção que marcou o início da participação de Portugal na Eurovisão
A canção “Oração”, interpretada por António Calvário, foi a grande vencedora do 1º Grande Prémio TV da Canção Portuguesa e tornou-se um marco na história da música portuguesa. Composta por João Nobre e com letra de Francisco Nicholson, este tema melancólico e profundamente emotivo conquistou o júri e o público, valendo a António Calvário o passaporte para representar Portugal na sua estreia no Festival Eurovisão da Canção, em Copenhaga, Dinamarca, no ano de 1964.
A letra de “Oração” transmite uma mensagem de amor e entrega, com um tom quase religioso e suplicante. A melodia suave e envolvente, combinada com a interpretação sentida de António Calvário, criou uma atmosfera de romantismo e nostalgia, refletindo o estilo musical da época. O tema fala da saudade e do desejo de reencontro com a pessoa amada, uma temática que ressoou fortemente junto dos ouvintes.
Apesar da sua beleza melódica e da interpretação impecável, Portugal não conseguiu alcançar um lugar de destaque na Eurovisão. A atuação de António Calvário não recebeu qualquer pontuação dos júris internacionais, resultando num último lugar na tabela classificativa. No entanto, este resultado não diminuiu a importância histórica da participação e o impacto duradouro da canção.
Com o tempo, “Oração” tornou-se um clássico da música portuguesa, sendo ainda hoje recordada como a canção que deu o primeiro passo de Portugal no maior concurso musical europeu. Para além disso, abriu caminho para futuras participações e consolidou o Festival RTP da Canção como um evento de referência no panorama musical nacional.
Mesmo sem uma vitória na Eurovisão, “Oração” continua a ser um hino nostálgico, que representa não só uma época dourada da música portuguesa, mas também o início de uma jornada que culminaria, mais de meio século depois, com a vitória histórica de Salvador Sobral e “Amar pelos Dois”, em 2017.
A Canção Chorona, não é de António Calvário, mas sim de António Mourão.