E se pudesse ouvir as histórias que estas calçadas têm para contar? Descubra o passado fascinante da calçada portuguesa e os artesãos por trás dessa arte única. A calçada portuguesa é um elemento icónico que está presente em muitas praças de Portugal. A sua beleza fez com que adquirisse fama internacional. Muitos desconhecem esse facto, mas a verdade é que é possível ver a calçada portuguesa em diversos lugares do mundo.
A calçada portuguesa embeleza as ruas de diversas cidades. Quer conhecer um pouco mais sobre a origem destes tapetes de pedra encantadores?
A história da calçada portuguesa e dos calceteiros do Porto
O símbolo nacional
A calçada portuguesa é inconfundível. Este elemento decorativo consiste em algo muito típico do nosso país. A sua portugalidade está representada no seu nome. A calçada portuguesa é um símbolo de Portugal, como o fado. Se quiser saber mais sobre a história da calçada, pode visitar o Arquivo Municipal do Porto. Encontra-se lá muita informação relevante sobre esta temática.
A origem
Foi em pleno século XV que os primeiros pavimentos calcetados surgiram, em Portugal e no mundo. Os primórdios da calçada portuguesa remontam a esta época histórica. Os navios portugueses partiam sempre vazios. Essa estratégia é compreensível. Assim, tinham espaço para virem carregados de bens e mercadorias no momento de regressarem a Portugal.
No entanto, para a estabilidade de navegação (algo que em gíria marítima se chama de lastro) necessitavam de aumentar a carga. Ora, foi nesse contexto que surgiu a estratégia de carregar as embarcações com pedra portuguesa. Posteriormente, os jesuítas e os militares, quando já se encontravam nos países de destino, tiveram a brilhante ideia de dar uso às pedras portuguesas. Por isso, decidiram aplicar as mesmas nas vias por onde passavam.
Este momento correspondeu à primeira fase do desenvolvimento da calçada portuguesa. No entanto, só mais tarde viria a chamar-se assim. O nome de calçada portuguesa surgiu no século XIX, em solo português.
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O papel da calçada portuguesa ao longo do tempo
A calçada portuguesa tornou-se numa das imagens de marca do nosso país. O recurso a estas pedras calcárias tornou-se comum. Fez-se o revestimento de passeios, praças, pracetas com as pedras claras e escuras. O seu ordenamento permite a apresentação de autênticas obras de arte, uma vez que as pedras são colocadas estrategicamente para criarem desenhos e padrões.
No século XVI, a cidade do Porto preparava-se para umas obras importantes. Aquando do reinado de D. Henrique, surgiu a instrução de mandar calcetar várias partes da cidade. Desta forma, foram criadas autênticas obras de arte ao ar livre na Invicta.
Muitas ruas e praças foram decoradas com calçada portuguesa ao longo dos séculos. Embora o procedimento para a colocação destas pedras brancas e pretas seja distinto, há partes com ilustrações do quotidiano da época, havendo também o recurso a elementos gráficos comuns da época histórica.
Atualidade
Na atual praça da Liberdade, chegou a ser visível a ondulação ‘tradicional’ que tantas vezes foi feita em calçada portuguesa. Esta ondulação visa remeter-nos para o movimento de um rio ou do mar. No entanto, infelizmente, esta calçada já não existe.
No momento da polémica remodelação da avenida dos Aliados em 2006, a calçada portuguesa que se encontrava a decorar os passeios com os seus desenhos foi recolocada na rua Sampaio Bruno.
Atualmente, esta calçada apresenta a história do vinho do Porto e faz alusão às atividades agrícolas de outros tempos. Todas as pessoas que por lá passam deslumbram-se ao verem motivos como carros de bois ou barcos rabelos.
As ruas do Porto são emblemáticas. Existem várias ruas que se destacam por apresentarem a calçada no seu máximo esplendor. Quem passeia pela rua de Santa Catarina fica deliciado. O mesmo acontece noutros locais, como na rua de Cedofeita, envolvente da Igreja do Carmo e da Trindade, entre outros espaços míticos.
A Câmara do Porto tem requalificado algumas ruas e travessas nos últimos anos. Nessa requalificação, o recurso à calçada portuguesa tornou-se comum. Os comerciantes e residentes da cidade têm enaltecido as requalificações. Ao ficarem mais belas, as ruas trazem mais pessoas.
A calçada portuguesa consegue refletir a luz do sol, originando uma encantadora iluminação natural nas ruas onde é colocada. As ruas com este tipo de revestimento apresentam-se mais agradáveis, perfeitas para passear.
Por exemplo, a Travessa de Cedofeita revela-se uma atração imperdível. Ela foi requalificada em 2018. Outro local que merece os maiores elogios é a Rua Fernandes Tomás que se apresenta mais alegre. A zona envolvente exterior do Palácio de Cristal foi embelezada mais recentemente, em 2019.
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Curiosidade
Os ‘socos’ ou ‘tamancos’ eram um calçado muito típico de outros tempos, tendo sido adaptados para caminhar na calçada do Porto. Segundo Germano Silva, nos já distantes anos 30/40, era frequente ouvirem-se os operários a caminhar de madrugada para os seus postos de trabalho.
O jornalista defende que estes trabalhadores caminhavam e emitiam um som bastante característico. Tratava-se do som da madeira a raspar na calçada portuguesa. Atualmente, estes socos podem ser comprados em sapatarias tradicionais no centro da cidade, existindo também em lojas mais direcionadas para turistas.
A profissão
Apesar desta ser uma profissão que tem gerado obras-primas espalhadas pelo mundo, os calceteiros que apresentam a calçada portuguesa ao mundo encontram-se em risco de desaparecerem.
Atualmente, são raros os verdadeiros mestres desta arte que espelha portugalidade. São cada vez menos os que dominam a arte. Por isso, esta profissão está em risco de desaparecer.
São muito poucos os indivíduos capazes de criarem magia de picareta na mão. Os calceteiros, que dominam a arte, colocam pedra sobre pedra com criatividade e conhecimentos até conseguirem formar os desenhos tradicionais que espantam o mundo.
Esses artistas da pedra dedicaram-se inteiramente a este tipo de trabalho e fizeram-no de forma exclusiva. O modo como escolhem colocar cada pedra e a fazem assentar na terra é orientada pela sua experiência e talento. No final, a colocação das pedras permitirá apresentar algo majestoso.
Noutros tempos, ser calceteiro era visto como uma profissão com muita reputação. No país, chegaram a existir mais de 400 calceteiros empregados para servir as diferentes encomendas. A certa altura até foi necessário criar uma escola de calceteiros na capital. Era o local em Lisboa onde os interessados poderiam fazer formação nesta área.
Atualmente, quem passeia em Lisboa poderá visitar a Praça dos Restauradores. Neste espaço, encontra-se a maior homenagem feita aos calceteiros e à sua arte. Uma “espécie de artesanato” que merece os maiores louvores.
Há a estátua de um calceteiro a executar as suas funções, com um joelho pousado no chão, com uma pedra na mão, que se prepara para colocar mais um elemento essencial para apresentar a calçada portuguesa no seu máximo esplendor.
O mais interessante é que a calçada madeirense é anterior á calçada Portuguesa