A história torna evidentes os laços herdados e que permaneceram sempre ligados. Há uma herança árabe que foi deixada a Portugal. Fique a conhecer algumas curiosidades…
Ao longo de séculos de história, a Península Ibérica tornou-se palco da intervenção de um mundo árabe que chegou a manifestar-se de norte a sul do país. Partindo do Sul, rapidamente foram surgindo diversas conquistas até ao norte.
A presença árabe fez-se sentir rapidamente pelas conquistas, mas os seus efeitos foram duradouros. Quer saber mais sobre a sua influência no nosso país?
A herança árabe em Portugal que muitos desconhecem
O termo “árabe”
Por vezes, surge alguma confusão com o termo “árabe”, que não possui caráter religioso, apenas cultural. Este termo refere-se a todos os povos que partilham um costume ou um ritual relacionado com o idioma árabe, idioma que nasceu na Península Arábica.
O árabe é o idioma oficial de todos os países que compõem essa península, mas também de outros países de maioria muçulmana, mas não todos. O “árabe” é a língua oficial do Islamismo, que é a religião que se rege pelo Corão.
Frequentemente, quando se recorre à palavra “árabe”, não se faz uma diferenciação entre a origem linguística e a origem geográfica do termo.
O começo dessa história
Foi nos primórdios do século VIII, mais precisamente em 710, que a presença começou a fazer-se sentir, nomeadamente com mouros e berberes que se revelaram determinados a conquistarem um novo território.
Chamaram a esse espaço al-Andalus, enquanto a ocidente, era al-Garb. Depois de atravessarem o Mediterrâneo, rumo a Gibraltar, os muçulmanos e berberes africanos foram conquistando facilmente importantes espaços de um vasto território como a Península Ibérica.
A batalha de Guadalete representou um acontecimento importante. Foi nesse momento histórico que foi morto o último rei visigodo, Rodrigo, uma vitória que fez o exército do emir Musa, que era liderado por Tariq, avançar por terras da Hispânia com grande confiança.
O Al-Andalus era um território que ia modificando consoante as vitórias e derrotas e consistia em todo o ocidente islâmico, com fronteiras a variar em função dos avanços ou recuos realizados pelos reinos cristãos.
O prolongar de conquistas
Bastaram cerca de 5 anos para chegarem ao centro da atual Espanha, tendo expandido as suas campanhas militares em direção ao ocidente da Península Ibérica, conquistando cidades como Beja, Évora, Coimbra e Santarém.
Eles detinham quase toda a Ibéria em 715, sobrevivendo apenas a região a norte. Um exército comandado por Pelágio encontrava-se fortalecido com os capitães visigodos e com os soldados provenientes do sul.
Foi desta resistência que surgiu a primeira vitória sobre os mouros, em 718. A reconquista cristã começava a partir das terras das Astúrias, mas do lado português só culminou ao fim de quase 5 séculos.
Influência
A Península Ibérica foi “al-Andalus”, um território povoado e governado por diversos povos, que não apenas se cruzaram entre si, como se influenciaram, existindo mistura de culturas e partilha de costumes e de conhecimentos.
A influência fez-se sentir nas mais diversas áreas: na cultura, nas tradições, na arte (nomeadamente na arquitetura), na gastronomia, entre outras.
A herança árabe na arte
A presença muçulmana no país teve elevada longevidade, entre 712 e 1249. Logo, um tempo bem longo que permitiu que fossem criadas diversas construções, que se encontram espalhadas pelo país.
Há uma herança desses tempos que permanece até aos nossos dias, exemplos de pormenores em construções que sobreviveram a diversas gerações e ao decorrer dos anos. Os exemplares são vários (estando presentes em muralhas e castelos ou no traçado de ruelas e de becos), mas poderiam ser bem mais, poderiam atingir números ainda mais expressivos, se a política cristã de reconquista não fosse de terra reconquistada, “terra arrasada”.
Frequentemente, cada localidade reconquistada aos árabes era, posteriormente, destruída. Mesmo os objetos e construções encontrados eram queimados em fogueiras que ficavam a arder durante dias.
Casos específicos
Existem alguns casos na arquitetura, como o Castelo de Lamego. A fortificação de Lamego mantém notáveis vestígios de construção da época árabe, embora tenha sido palco de muitas batalhas, o que levou a que tivesse sido destruído e reconstruído por diversas vezes.
A própria cisterna do castelo mantém caraterísticas que aparentam ser de origem árabe ou mourisca. A igreja de Almacave é outro caso. Apesar de não ser um monumento de época árabe, esta construção apresenta vestígios da presença e influência islâmicas, como os próprios capitéis do portal principal que são árabes ou de tradição árabe.
O belo Castelo de Penedono tem origem no século X, sendo uma das mais importantes e bem conservadas construções da época árabe. A construção das muralhas revela-se bem distinta de outras construções do género no país, evidenciando o método de construção árabe.
O Castelo de Numão é outro caso. Esta construção, que se encontra a cerca de 700 m de altitude, terá sido arrasada depois dos irmãos Tedon e Rausendo Ramires terem saído vitoriosos das suas batalhas contra os dominadores muçulmanos. Este castelo encontra-se referido no ano de 960, mais precisamente no testamento de D. Flâmula Rodrigues, o que comprova a sua antiguidade.
Herança árabe na Língua Portuguesa
Existem diversos arabismos na língua portuguesa, sendo que a maioria começa por al- (artigo definido invariável em árabe), como algarve. Os nomes dos rios e das terras começados por “Guad”- (ou “Od”-) também são arabismos, pois em árabe quer dizer “rio”. Exemplo disso mesmo são as palavras: Guadiana (ou Odiana, antigo), Odeceixe, Odeleite Odemira, Odiáxere, Guadalete, Guadalaxara, Guadalquivir. Existem ainda diversos topónimos que sofreram alterações fonéticas. Exemplos disso mesmo são termos como: Lisboa (Olisipone), Tejo (Tagus), Beja (Pax Julia), etc.
Herança árabe na Gastronomia
A gastronomia portuguesa tem produtos que revelam a influência árabe, existindo até práticas de cozinha que denunciam a herança da cultura árabe.
A cozinha alentejana revela essa grande influência, sobretudo as receitas tradicionais do Alentejo (menos as que estão ligadas ao consumo do porco…). No período romano, surgiram notícias de uma sopa feita de ervas aromáticas, levando ainda alho, pão, azeite e água.
A Açorda atravessou diferentes culturas, sendo que os árabes a fixaram definitivamente, elevando o seu estatuto a «prato real». A açorda alentejana é frequentemente feita com poejos ou coentros, sendo uma receita bastante antiga…
Outros pratos típicos deixados por estes povos são: o ensopado de borrego, a cabeça de borrego assada no forno e os carapaus de escabeche.
A doçaria do Algarve também revela influências da passagem árabe. Uma herança que revela essa influência são os bolinhos de amêndoa. Mas, o maçapão, as alcomonias, conjugando ovos, açúcar e especiarias na perfeição, são outros casos. A aletria ou as filhoses em calda são outros exemplos.
Existem ainda referências que indicam que até há utensílios de cozinha que são provenientes da cultura árabe. É o caso das vasilhas de diferentes formas e tamanhos, sendo usadas para manusear os alimentos ou para conservá-los.
Uma simples mas Boa descrição sobre os nossos antepassados e as heranças que nos foram sendo deixadas ao longo dos tempos.
Muito Obrigado.
Dar um passo a traz no tempo e reconhecer o nosso passado são por vezes descobertas que nos enchem de coragem para não dizer…Não as nossas raízes e… não nossos princípios…!
Não leve a mal…
“Dar um passo atrás no tempo…”
O “Livro de receitas culinárias da Infanta Dona Maria” é um conjunto de costumes alimentares da gastronomia berbere.