Escondida entre a paisagem verdejante da Quinta das Conchas e dos Lilases, no Lumiar, em Lisboa, encontra-se uma casa em ruínas, que guarda histórias e lendas fascinantes. A propriedade, adquirida por Francisco Mantero em 1899, tem uma história rica que mistura elementos da realidade com toques de mistério e fantasia.

Francisco Mantero: um visionário empresarial
Francisco Mantero foi um importante roceiro e empresário colonial que deixou uma marca indelével em várias partes do império português. Nascido em 1853, Mantero viveu e trabalhou em São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor.
Foi sócio fundador da Sociedade de Geografia de Lisboa e desempenhou um papel crucial na estruturação empresarial das roças em São Tomé, onde fundou a Companhia da Ilha do Príncipe e a Sociedade Agrícola Colonial, as mais importantes da época. Estas sociedades integraram várias roças da ilha, promovendo a exploração de cacau e café.
Mantero também teve um impacto significativo noutras colónias portuguesas. Em Angola, fundou a Companhia de Cabinda e a Companhia do Cazengo. Em Moçambique, criou os Prazos de Lugela, e em Timor, fundou a Companhia de Timor. A sua visão empresarial e inovação contribuíram para o desenvolvimento económico dessas regiões.
A lenda da Quinta das Conchas
No entanto, é a lenda associada à Quinta das Conchas que confere um toque místico à história de Francisco Mantero. Segundo a lenda, Mantero teria trazido de São Tomé uma nativa de rara beleza, com quem teve uma filha.
Para manter a mulher longe dos olhares curiosos, ele tê-la-ia aprisionado numa jaula na casa da Quinta das Conchas. Com o tempo, a mulher teria enlouquecido e morrido, e os seus lamentos ainda ecoariam pelas ruínas da casa.
O tesouro escondido e as assombrações
A casa em ruínas alimenta a imaginação com histórias de assombrações e tesouros escondidos. Visitantes relatam ouvir gritos e gemidos, e até os animais evitam o segundo andar. Diz-se que um tesouro cheio de relíquias africanas estaria escondido na casa, guardado pelo espírito da nativa aprisionada.
Realidade e degradação
Apesar das lendas, a realidade da Quinta das Conchas é menos romântica. Segundo a VortexMag, a casa encontra-se em avançado estado de degradação, com um aviso da Câmara Municipal de Lisboa alertando para o risco de derrocada. A observação do exterior revela a sua estrutura apalaçada, reminiscentes das antigas casas coloniais, mas o interior é perigoso e não aconselhado para visitas.

A vida de Francisco Mantero
Longe das lendas, Francisco Mantero teve uma vida notável. Além de ser um empresário de sucesso, foi presidente da Câmara de Comércio Espanhola em Lisboa, presidente da direção do Asilo da Infância Desvalida do Lumiar e da Escola José Estêvão, sócio fundador da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio benemérito da Academia Musical, presidente honorário do Centro Colonial de Lisboa e sócio honorário da Associação de Escritores e Artistas de Madrid.
Após regressar a Lisboa, Mantero fundou a Sociedade Francisco Mantero, Lda., que mais tarde se tornou a Sociedade Comercial Francisco Mantero, S.A.R.L. Além disso, dedicou-se à restauração e ampliação da Quinta dos Lilases e adquiriu a Quinta das Conchas, onde mandou criar duas pequenas ilhas arborizadas com palmeiras no centro do lago artificial, evocando São Tomé e Príncipe.
Conclusão
Embora não existam provas concretas da existência de uma mulher cativa na Quinta das Conchas, a lenda persiste, conferindo um encanto misterioso ao local. Francisco Mantero, com a sua vida multifacetada e contributos empresariais, deixou um legado significativo, tanto na história real quanto no imaginário popular. A Quinta das Conchas e dos Lilases, com a sua mistura de realidade e lenda, continua a ser um símbolo fascinante da história e cultura portuguesas.