Em agosto de 1963, uma superestrela de Hollywood, foi multada por usar biquíni na Praia de Monte Gordo, no pitoresco Algarve.
Numa época de escassez e criatividade durante a II Guerra Mundial, o engenheiro francês Louis Réard desafiou as convenções ao criar o biquíni, reduzindo o tradicional maillot de praia aos seus elementos essenciais.
Esta peça revolucionária, batizada com o nome de “biquíni”, tornou-se uma verdadeira bomba atómica na indústria da moda, desafiando normas e inspirando uma nova era de liberdade e expressão feminina.
Ingrid Bergman na praia de Monte Gordo
Descobrimos uma faceta surpreendente da famosa atriz sueca Ingrid Bergman: em agosto de 1963, ela fez uma visita surpresa à praia de Monte Gordo, no Algarve. Hospedada no luxuoso Hotel Vasco da Gama, desceu à praia vestindo um biquíni provocante.
A notícia da presença da estrela de “Casablanca” na praia rapidamente atraiu uma multidão de admiradores, deixando os pescadores locais e os veraneantes alentejanos boquiabertos diante de sua beleza e ousadia.
Ingrid Bergman, a deslumbrante estrela de “Casablanca”, já premiada com dois Óscares de Melhor Atriz, surpreendeu ao encarnar a complexa personagem de Hedda Gabler numa adaptação televisiva do clássico de Henrik Ibsen.
Neste papel desafiador, ela mergulhou nas profundezas da psicologia da mulher fútil e ambiciosa, cujas ambições frustradas a levam à depressão e ao suicídio. O realismo de sua atuação deixou Ingrid exausta, mas também reforçou seu legado como uma das maiores atrizes da história do cinema.
Na vida pessoal, Ingrid Bergman enfrentou controvérsias que ecoaram pelo mundo do cinema. O seu romance com o diretor italiano Roberto Rossellini, enquanto ambos eram casados, causou escândalo e críticas. O relacionamento adúltero resultou no nascimento de um filho.
Após se casarem em 24 de maio de 1950, tiveram mais dois filhos antes de se divorciarem, em 1957. Em 1958, a estrela de Hollywood casou-se com o produtor de cinema Lars Schmidt, e juntos, em 1963, exploraram a costa mediterrânica, incluindo uma surpreendente visita ao Algarve.
A década de 1960 em Hollywood foi impulsionada pelo género beach movie, trazendo o biquíni para o centro das atenções como símbolo da cultura jovem. Com as praias da Califórnia e a música dos Beach Boys como pano de fundo, o biquíni tornou-se a expressão máxima da liberdade.
O filme “Beach Party”, lançado em 1963 e dirigido por William Asher, marcou o início de uma série de cinco filmes que consagraram o biquíni como um ícone da emancipação feminina.
Multada por usar biquíni
O motivo exato da viagem de Ingrid Bergman ao Algarve em 1963 permanece um mistério. Alguns sugerem que ela e o marido procuravam explorar os paraísos naturais do sul peninsular, atraídos pela intensa luz da orla costeira, considerada mais poderosa do que a de Hollywood.
Naquela época, o Algarve já era mencionado pelas suas deslumbrantes praias de areia fina e dourada, águas límpidas e mornas. Celebridades internacionais, como Cliff Richard, Olivia Newton-John e Bruce Welch, guitarrista dos The Shadows, encantavam-se com a região, alguns até comprando casas em Albufeira, tornando o Algarve um destino ainda mais atraente e conhecido.
A partir de 1965, com a inauguração do aeroporto de Faro, o Algarve tornou-se um íman para dezenas de figuras públicas da música e do cinema, que se encantavam com locais como a Praia da Rocha, a costa de Lagos e a pitoresca praia dos pescadores em Albufeira. Na imprensa estrangeira, previa-se que Albufeira se tornaria a nova Saint Tropez de Portugal, e o Café Bailote era o epicentro internacional da arte e da cultura.
Quando Ingrid Bergman, aos 48 anos e ainda deslumbrante, desceu à praia de Monte Gordo, vestindo um biquíni provocante, não imaginava que estava em um país avesso a tais liberdades. O cabo do mar, munido com o seu livrinho de multas, aproximou-se dela e escreveu “indecência”. Entregou-lhe o papel e acompanhou-a até à receção do Hotel Vasco da Gama, onde, em inglês, explicaram-lhe que estava a ser multada por usar biquíni em público.
A multa, em si, era insignificante, apenas 2,5 escudos, o equivalente a vinte e cinco tostões, como se dizia na época. Na verdade, menos do que o preço de um bilhete de cinema. Mas não era o valor da multa que mais importava. Era o constrangimento de ser multada. E nisso, a atriz sentiu-se profundamente ofendida, especialmente pelo atraso de mentalidades e pela falta de liberdade sentida no país.
O biquíni pode remontar à Antiguidade Clássica
Há quem questione a origem do biquíni, sugerindo que já na Antiguidade as mulheres romanas usavam algo semelhante, baseando-se em mosaicos encontrados em Piazza Armerina, na Sicília. Estas representações mostram mulheres com trajes reduzidos em atividades como lutas e desfiles religiosos.
Essa indumentária, possivelmente usada em banhos públicos e práticas desportivas, pode ser considerada uma precursora do biquíni moderno. Ao longo da história, as termas romanas também desempenharam um papel importante na cultura de bem-estar, antecipando conceitos modernos de spa.
A evolução das praias como espaços terapêuticos e de lazer levou ao domínio contínuo do biquíni, apesar de outras tendências, como o naturalismo, não terem alcançado o mesmo sucesso.