O mar está a avançar e Portugal encontra-se na linha da frente desta ameaça silenciosa. De acordo com dados recentes da NASA, os oceanos subiram cerca de nove centímetros na última década, um aumento que não pode ser ignorado. Esta subida, diretamente ligada ao aquecimento global e ao degelo acelerado dos polos, está a colocar em risco cidades inteiras, comunidades costeiras e até tradições seculares que fazem parte da identidade nacional.
Entre as localidades mais expostas encontra-se Olhão, no Algarve, uma cidade intimamente ligada ao mar e à Ria Formosa. A organização internacional Climate Central, que estuda o impacto da subida do nível médio das águas, alerta que Olhão poderá ficar parcialmente submersa até 2100. E não está sozinha: Peniche e Aveiro surgem também como cidades vulneráveis ao avanço imparável do oceano.
O perigo que chega pela frente de mar
O jornal Expresso recorda que deltas, ilhas baixas e cidades costeiras são os territórios mais frágeis perante a subida do nível do mar. Em Portugal, as zonas planas próximas do litoral — onde se concentram atividades económicas fundamentais como a pesca, a restauração e o turismo — serão as primeiras a sentir o impacto.
Em Olhão, o risco é ainda mais grave. A cidade cresceu de frente para a Ria Formosa, um ecossistema frágil e precioso.
Mercados, habitações e estabelecimentos comerciais estão literalmente encostados ao estuário, o que significa que cada centímetro de subida representa um potencial de inundação mais frequente.
Consequências locais e globais
A subida do nível do mar não se resume à perda de território. Significa também tempestades mais intensas e destrutivas, já que as águas mais elevadas embatem com maior violência contra a costa.
Esse cenário poderá obrigar a deslocação de comunidades inteiras, forçadas a abandonar as suas casas e a procurar locais mais altos e seguros.
A Climate Central projeta ainda que, até ao final do século, Portugal e outros países costeiros possam perder zonas agrícolas férteis, fundamentais para a produção alimentar.
Acrescenta-se a isso a maior vulnerabilidade a cheias repentinas, a degradação de infraestruturas e a alteração radical do quotidiano de milhares de famílias que vivem em cidades costeiras.
Olhão: identidade e economia em risco
Se em termos ambientais o risco já é elevado, em Olhão junta-se um fator cultural e económico. A cidade respira mar. O Mercado Municipal, situado à beira-rio, é um dos símbolos locais, assim como os passeios de barco pelas ilhas da Armona, da Culatra e do Farol. Estes locais, tão procurados por turistas, estão igualmente na linha da frente da ameaça climática.
O Museu Municipal preserva a história da pesca e da tradição marítima, um legado que poderá ver-se comprometido caso parte da frente ribeirinha desapareça sob as águas. A ligação de Olhão à Ria Formosa não é apenas geográfica, é identitária — e o seu desaparecimento parcial seria um golpe profundo na memória coletiva da região.
O futuro depende das escolhas de hoje
A NASA adverte: não existe perspetiva de recuo do nível do mar enquanto persistirem emissões elevadas de gases com efeito de estufa. O desafio está lançado — adaptar, mitigar e resistir.
Entre as soluções em cima da mesa, destacam-se o reforço de barreiras costeiras, a relocalização de populações em maior risco, e a criação de estratégias urbanísticas adaptadas ao novo mapa geográfico que se avizinha. A adaptação das cidades costeiras será decisiva para a sobrevivência de comunidades como Olhão.
Uma luta pela sobrevivência da costa portuguesa
Olhão não é apenas um ponto no mapa, refere o Postal. É uma cidade viva, construída em torno da Ria Formosa, do seu mar e das suas gentes. É também um símbolo das cidades costeiras portuguesas, que enfrentam hoje um dos maiores desafios da sua história.
Se nada mudar, até ao final do século, parte do coração de Olhão poderá desaparecer sob as águas. A pergunta que fica é simples e urgente: estaremos dispostos a agir a tempo de proteger não só um território, mas também uma identidade e um modo de vida profundamente enraizado na relação com o mar?
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