Imagine este cenário: chega ao multibanco para levantar dinheiro, insere o cartão, digita o código e, de repente, nada acontece. O cartão não sai. Volta a tentar, olha em redor, e nesse instante surge alguém simpático que se oferece para ajudar: “Isso acontece muitas vezes, carregue novamente no PIN”. Ansioso e preocupado, segue o conselho. Minutos depois, sai do local convencido de que o cartão ficou preso e que o banco o irá devolver. Mas a verdade é outra: acabou de ser vítima da burla mais antiga e eficaz associada aos multibancos em Portugal — o infame truque do cartão preso.
Porque é que este esquema ainda faz tantas vítimas?
A resposta é clara: porque apanha as pessoas de surpresa, num momento de rotina e confiança. Quase ninguém espera ser enganado ao usar uma caixa multibanco, e é precisamente nesse instante de vulnerabilidade que os burlões atuam.
O esquema, conhecido internacionalmente como Lebanese Loop, baseia-se na instalação de um pequeno dispositivo metálico ou de plástico na ranhura do multibanco. Esse mecanismo impede a saída do cartão, mas permite que o utilizador insira o PIN. O resultado é uma situação aparentemente banal: o sistema parece “bloquear”.
É então que o burlão entra em ação. Muitas vezes disfarçado de pessoa solícita e prestável, aproxima-se para ajudar e observa ou induz a vítima a introduzir novamente o PIN. Assim que esta desiste, convencida de que o cartão ficou retido pela máquina, o criminoso remove o dispositivo e fica não só com o cartão, mas também com o código de acesso à conta.
Outras burlas frequentes em multibancos
Embora o truque do cartão preso seja o mais comum e eficaz, não é o único. Eis alguns exemplos que continuam a fazer vítimas em Portugal:
- O truque da distração: enquanto alguém chama a atenção da vítima, um cúmplice troca rapidamente o cartão por outro semelhante.
- Phishing físico: criminosos deixam mensagens falsas no multibanco, instruindo o utilizador a inserir novamente o PIN ou a ligar para números de “apoio ao cliente” que, na verdade, pertencem aos próprios burlões.
- Skimming: embora menos frequente atualmente devido à tecnologia do chip, ainda existem casos em que dispositivos copiam os dados da banda magnética, combinados com câmaras ocultas para captar o PIN.
Como reconhecer sinais de fraude no multibanco
Para não ser surpreendido, é essencial estar atento a detalhes que podem denunciar a presença de burlões:
- Ranhura do cartão com aspeto estranho, desalinhado ou com peças adicionais.
- Caixa multibanco demasiado lenta ou com erros repetidos.
- Pessoas excessivamente “prestáveis” que se aproximam sempre que o cartão parece ficar preso.
Um ponto crucial: os bancos nunca pedem para digitar o PIN mais do que uma vez em caso de falha. Se o cartão não sair automaticamente, a situação deve ser considerada suspeita.
O que fazer se o cartão ficar preso no multibanco
Se o cartão não sair, é fundamental manter a calma e agir rapidamente:
- Nunca introduza o PIN novamente.
- Não aceite ajuda de desconhecidos.
- Contacte de imediato a linha de apoio do banco (o número está no verso do cartão, sendo útil tê-lo também guardado no telemóvel).
- Permaneça junto ao multibanco até garantir que o cartão foi bloqueado.
- Se notar movimentos suspeitos, denuncie o caso à polícia.
Cada minuto é decisivo: quanto mais rápido o cartão for bloqueado, menor é a probabilidade de perder o saldo da conta.
A psicologia por trás da burla
O que torna este esquema tão eficaz não é apenas a técnica, mas sobretudo a psicologia. Quando algo corre mal no multibanco, a maioria das pessoas entra em modo de pânico: medo de perder o cartão, receio de parecer atrapalhada em público, pressa em resolver o problema. É exatamente nessa fração de segundos que o burlão encontra a sua oportunidade.
Mesmo pessoas informadas e cuidadosas podem ser enganadas. O multibanco é um dos sistemas mais seguros do mundo, mas isso não significa que esteja imune à manipulação e à criatividade criminosa.
Conclusão
A burla do cartão preso continua a ser uma das mais utilizadas em Portugal porque é simples, rápida e eficaz, refere a Leak. Explora não só a vulnerabilidade tecnológica do equipamento, mas também a vulnerabilidade emocional das pessoas.
Da próxima vez que utilizar o multibanco, esteja atento a cada detalhe. Se o cartão não sair, não entre em pânico, não aceite ajuda de estranhos e contacte de imediato o banco. Essa atitude pode ser a diferença entre perder alguns minutos ou perder as poupanças de uma vida inteira.