É muito importante estar preparado e informado sobre os riscos potenciais na colheita de cogumelos. Conheça 8 espécies de cogumelos venenosos em Portugal.
É verdadeiramente essencial ter o conhecimento necessário para se conhecer e reconhecer quais os cogumelos venenosos, ainda mais estando num país onde existe a tradição de colheita.
Em Portugal, apenas em Trás-os-Montes e na Beira Interior é que se pode encontrar a tradição e a prática da colheita de cogumelos. É onde também está mais entranhada as raízes destas populações, facilmente comprovável através da gastronomia destes locais.
A colheita de cogumelos silvestres exige muita experiência e a distinção dos cogumelos venenosos das variedades silvestres comestíveis é primordial. Felizmente, atualmente, podemos deslocar-nos a uma loja e encontrar as espécies mais exóticas e comestíveis, sem correr o risco de erro humano, erro esse que pode ser potencialmente fatal.
Aconselhamos que não faça a colheita de cogumelos sem acompanhamento especializado, mas se tiver mais curiosidade sobre o tema, continue a leitura do nosso artigo.
O que são cogumelos?
Os cogumelos são fungos pertencentes aos filos Ascomycota e Basidiomycota. Na verdade, tal como um fruto, o cogumelo produz, protege e dispersa os esporos, formado por várias hifas que crescem para o alto e que produzem esporos (basidiósporos que são como sementes) e espalham-se através do vento, com a água ou até mesmo agarrados ao corpo de animais. A frutificação pertencente a estes fungos é a estrutura de reprodução sexuada e possui variadas formas e cores.
Os cogumelos são essenciais no ecossistema florestal. Responsáveis por ajudar a decompor a matéria orgânica, combatem a erosão dos solos e até são capazes de decompor alguns poluentes.
Muitas espécies de cogumelos são comestíveis por serem ricas em conteúdo proteico, não sendo de estranhar que alguns entraram na dieta humana, sendo a espécie mais conhecida, o champignon, que é bastante nutritivo.
Os cogumelos são um excelente alimento. São abundantes em água, de baixo valor calórico e de gordura, com um alto valor proteico, possuindo também vitaminas, proteínas…
Quantas espécies de cogumelos existem em Portugal?
No nosso país, existem entre 3 e 5 mil espécies de cogumelos de características e aspetos diversos. Contudo, 52 destas espécies no território nacional estão identificadas como tóxicas.
O pior é que algumas destas espécies podem ser consumidas por engano, já que algumas delas têm um aspeto muito semelhante a espécies comestíveis. Daí que se recomende uma maior precaução e acompanhamento especializado aquando da colheita destes fungos.
8 espécies de cogumelos venenosos em Portugal
1 – Amanita phalloides
A Amanita phalloides, também conhecida como cicuta verde, chapéu-da-morte ou rebenta-bois, é uma espécie de cogumelo altamente venenosa. O seu aspeto torna-o perigoso e passível de confusão, por serem bastante semelhantes com espécies comestíveis.
Responsável por mais de 90% das fatalidades, a maioria resulta da ingestão por engano, devido às suas semelhanças com cogumelos inofensivos e comestíveis. Uma pequena mordida basta para se entrar em falência hepática e se não se tratar desta intoxicação atempadamente, pode criar danos irreversíveis no fígado, muitas vezes sendo até necessário realizar um transplante.
2 – Macrolepiota venenata
Macrolepiota venenata pode causar complicações gástricas e hepáticas muito graves.
É outro caso para se ter muita atenção, porque maioritariamente o seu consumo deriva do erro e da confusão, já que o seu aspeto é bastante semelhante a uma espécie comestível, a Macrolepiota procera, conhecido em Portugal por diversos nomes como guarda-sol, frade, agasalho, tortulho, púcara, entre outros.
Macrolepiota procera é uma espécie particularmente apreciada no centro de Portugal.
3 – Amanita verna
Amanita verna, também conhecido por “cogumelo do tolo”, é um fungo que pertence ao género de cogumelos Amanita e o seu nível de toxidade é semelhante ao do Amanita phalloides, já descrito acima.
Amanita verna é um cogumelo venenoso. A sua ingestão acidental causa insuficiência hepática.
4 – Lepiota helveola
Lepiota helveola é uma espécie de fungo da ordem Agaricales, tal como Amanita phalloides e Amanita verna. É um cogumelo venenoso e a sua ingestão acidental causa insuficiência hepática.
5 – Paxillus involutus
Paxillus involutus foi bastante usado até à Segunda Guerra Mundial, quando algumas questões se levantaram sobre este fungo, relativamente ao episódio que aconteceu com Julius Schäffer e a sua esposa, que prepararam uma refeição com cogumelos.
Após a refeição, Schäffer teve vómitos, diarreia e febre, foi internado no dia seguinte pela sua situação se ter agravado e faleceu 17 dias depois.
Schäffer é o único micologista dos tempos modernos conhecido por morrer por consumir cogumelos venenosos, neste caso, Paxillus involutus.
6 – Cortinarius
A maioria dos Cortinarius são tóxicos. Alguns cogumelos Cortinarius contêm a toxina letal orelanina, que se ingerida causa danos, muitas vezes irreversíveis ao rim e ao fígado. Por isso, fique longe deste cogumelo.
A ingestão desses cogumelos pode levar a insuficiência renal e alguns cogumelos do género Cortinarius podem até ser mortalmente tóxicos.
7 – Gyromytra esculenta
Gyromytra esculenta, se consumido cru, é altamente tóxico e potencialmente mortal. Quando preparado e cozinhado pode ser na mesma fatal, mas isso não é impeditivo de ser um petisco bastante apreciado na Escandinávia e no Leste Europeu.
Apesar de ser uma iguaria no Leste Europeu, Gyromytra esculenta, em Espanha é completamente proibida a sua comercialização. Já na Finlândia é permitida a venda se acompanhado com as devidas instruções para os cozinhar.
Como nos exemplos acima citados, a toxina deste cogumelo também afeta o fígado, o sistema nervoso central e, por vezes, os rins. Em casos mais graves, pode causar coma e, eventualmente, a morte.
8 – Amanita muscaria
Amanita muscaria, conhecido em Portugal também como mata-moscas, mata-bois ou frades-de-sapo, é caracterizado por ser um cogumelo vermelho salpicado com pintas brancas, tóxico, mas também com propriedades psicoativas e alucinogénicas nos seres humanos.
É possível encontrar estes fungos próximos de vidoeiros ou coníferas ou vivendo em associação com as plantas. É precisa bastante atenção, pois esta espécie de cogumelo Amanita muscaria é toxica e alucinogénica e é também bastante parecida com a espécie Amanita caesarea, inofensiva e comestível.
Casos em Portugal
Em 2011, efetuou-se um estudo em Portugal, em que se verificou que entre 1990 a 2008, foram identificados e registados 93 casos de intoxicação por cogumelos. Já em 2022 houve um total de 1,923 intoxicações reportadas aos centros de controlo de venenos. Mais de 92% correspondiam a cogumelos apanhados pelos próprios.
Só em agosto de 2023 foram registados mais de 250 casos de envenenamento por cogumelos, o dobro do número do ano passado no mesmo período.
O que fazer após a ingestão de cogumelos venenosos?
Os sintomas e o tempo que os mesmos demoram a surgir são bastante irregulares, o que dificulta o prognóstico.
Nos casos com menor gravidade, é sabido que os sintomas podem surgir 6 horas após a ingestão, como vómitos, ardor na boca e garganta, suores frios, mal-estar geral, entre outros.
Após as primeiras 24h ou mais, o risco aumenta consideravelmente, podendo até neste período sentir aparentes melhorias nos sintomas. Contudo, já o fígado e os rins estarão a sofrer os piores efeitos, sendo que nos casos mais graves pode haver mesmo a necessidade de se realizar um transplante.
Resumindo, não deve colher cogumelos sem o devido conhecimento, nem comprar cogumelos em locais que não lhe garantam a segurança do alimento.
Nota: No caso de dúvida sobre algum tipo de intoxicação, contacte de imediato o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), através da linha 800 250 250, com um atendimento 24 horas, durante os 7 dias da semana.