Os portugueses quando querem ser muito bons, são os melhores. Eis alguns portugueses que mudaram o mundo e foram personalidades extraordinárias do seu tempo.
O nosso país é pequeno na sua dimensão, mas a história de Portugal é enorme. São quase 900 anos de história. Ao longo da sucessão destes anos, muitos foram os portugueses que emergiram e se destacaram por feitos incríveis. Alguns deles foram reconhecidos internacionalmente.
Na época dos Descobrimentos, Portugal contava com uma população escassa. Cerca de 10% da atual. Eram apenas 1 milhão de habitantes. Muitos portugueses fizeram história, realizaram feitos extraordinários e conseguiram influenciar a sociedade e o mundo em que viveram com os seus êxitos.
A Era dos Descobrimentos pode ter sido a época mais dourada da história do nosso país, é inegável, mas os portugueses já tinha conseguido façanhas antes deste conjunto de feitos extraordinários. Também conseguiram evidenciar-se bem depois desse momento histórico.
Os portugueses, quando querem ser muito bons e esforçam-se por isso, são os melhores. Eis alguns exemplos de portugueses que foram personalidades extraordinárias do seu tempo.
10 ilustres portugueses que mudaram o mundo
1 – D. Afonso Henriques (1111-1185)
Foi no dia 25 de junho de 1111 que D. Afonso Henriques nasceu. O seu nascimento ocorreu numa cidade que mais tarde foi apelidada de “berço da nação”, Guimarães. D. Henrique de Borgonha e D. Teresa de Leão foram os pais de D. Afonso Henriques. O Conde D. Henrique, seu pai, era detentor do governo do Condado Portucalense.
Este Condado Portucalense estava integrado no Reino de Leão. O rei deste reino era D. Afonso VI. A esposa do Conde D. Henrique, D. Teresa de Leão (mãe de D. Afonso Henriques), era filha do D. Afonso VI. Por isso, quando o Conde D. Henrique faleceu e Teresa de Leão governou o Condado Portucalense, ela sentia-se na obrigação de seguir os interesses do Reino de Leão.
No entanto, D. Afonso Henriques tinha outros planos. Queria a independência e não iria prestar vassalagem ao Rei de Leão. Após vencer a batalha de São Mamede (1128), D. Afonso Henriques reivindicou o Condado Portucalense para si. Ele superou a sua mãe D. Teresa de Leão e todos os que a acompanhavam e apoiavam.
Após assumir as rédeas da governação, D. Afonso Henriques desejou conquistar mais território para o Condado Portucalense. No imediato, concentrou os seus esforços na conquista de territórios presentes a sul.
Após anos de vários litígios bélicos com Afonso VII de Castela e Leão (neto de Afonso VI), que era seu primo, D. Afonso Henriques conseguiu mais vitórias importantes. Em 1137, quase uma década depois da batalha de São Mamede, os primos colocaram um fim às hostilidades (só temporariamente) através do Tratado de Tui.
D. Afonso Henriques foi aclamado Rei de Portugal pela primeira vez no dia 26 de julho de 1139, após uma conquista importante contra os mouros, no dia seguinte à batalha de Ourique.
O Tratado de Zamora, que data de 5 de outubro de 1143, revela-se um documento importante, porque D. Afonso VII reconheceu oficialmente que D. Afonso Henriques era Rei. Mais tarde, apenas em 1179, surgiu o aval papal.
O Papa Alexandre III reconheceu a legalidade do reino através da bula Manifestis Probatum. A independência de Portugal foi reconhecida, em definitivo, e confirmou-se a legitimidade do reino de Portugal para o rei D. Afonso Henriques e também para os seus herdeiros.
D. Afonso Henriques tornou-se assim numa personalidade ilustre, merecedora de estar nesta lista. O fundador de Portugal mudou o mundo e colocou mais um país no planeta. Se não fosse ele, nenhum outro estaria presente nesta lista.
2 – Infante D. Henrique (1394-1460)
O infante D. Henrique nasceu no dia 4 de março de 1394. O seu nascimento ocorreu na cidade do Porto. O seu pai foi rei. Era filho de D. João I e D. Filipa de Lencastre. Além de ser filho do rei, foi irmão do 11º rei de Portugal, Duarte I.
Ele sabia que não teria muitas possibilidades de ser rei. Era o 5º filho de João I de Portugal (fundador da dinastia de Avis) e de D. Filipa de Lencastre. No entanto, também sabia que podia ficar na história por outros motivos.
Em 1414, D. Henrique conseguiu convencer o rei D. João I, seu pai, a montar uma campanha para a conquista da cidade de Ceuta. Esta cidade foi conquistada em agosto do ano seguinte, em 1415. Esta conquista foi importante por permitir a Portugal assegurar o controlo das rotas marítimas de comércio entre o Atlântico e Levante.
D. Henrique viu os seus méritos reconhecidos. Foi armado cavaleiro nesse contexto e também recebeu os títulos de Senhor da Covilhã e de Duque de Viseu. Esteve encarregue do governo de Ceuta durante dois anos, sensivelmente, entre 1416 e 1418, anos em que regressou.
O Infante D. Henrique teve a oportunidade de exercer diversos cargos ao longo da sua vida. Parte deles demonstrou o seu interesse pela descoberta. O interesse do Infante D. Henrique pela navegação era enorme, algo que fez com que patrocinasse uma escola de cartografia.
O grande objetivo deste homem era conhecer novos mundos. A importância que teve numa era em que o Atlântico era um oceano “virgem” de navegação foi crucial para as navegações posteriores.
O Infante D. Henrique incentivou a exploração deste vasto oceano e contribuiu dessa forma para as primeiras viagens expansionistas que resultariam na Era dos Descobrimentos. Por isso, o Infante D. Henrique ficou conhecido como o Navegador.
3 – Francisco de Almeida (1450-1510)
Apesar de não ter a mesma popularidade entre os portugueses que outras personalidades aqui apresentadas, as façanhas de Francisco de Almeida tornam-no merecedor da presença nesta lista de ilustres portugueses.
Francisco de Almeida foi uma pessoa extremamente importante no seu tempo. Ele tornou-se vice-rei da Índia. Este homem singular participou na Batalha de Diu. Esta batalha foi considerada por alguns estudiosos como uma das batalhas mais importantes. Os especialistas colocam essa batalha entre as mais emblemáticas da história da humanidade.
Francisco de Almeida ousou ir contra as ordens do rei português num contexto em que Portugal era um reino poderoso. O português atacou Diu e os seus aliados para vingar-se da morte do seu filho.
A sua personalidade intempestiva resultou numa vitória importante. Esse momento foi crucial para se estabelecer o domínio português no Oceano índico. A batalha em questão foi bem-sucedida e o seu sucesso resultou num proveito importante para os portugueses.
Na sequência do êxito obtido, o Oceano Índico passou a encontrar-se sob domínio português. Após Portugal ter perdido força como império, outros impérios europeus rapidamente quiseram ter esse domínio.
O sucesso de Francisco de Almeida resultou no êxito europeu. Se nos séculos seguintes
as grandes potências mundiais foram sempre nações europeias, deve-se a essa vitória. Francisco de Almeida impediu que o controlo do lucrativo comércio de especiarias caísse nas mãos dos asiáticos e dos muçulmanos, por isso ambos foram relegados para papéis secundários nessa parte da história da humanidade.
4 – Afonso de Albuquerque (1453-1515)
Este português demonstrou ser um génio militar. As suas estratégias militares eram brilhantes, tanto de expansão, como de defesa. Afonso de Albuquerque procurou fechar todas as passagens navais para o Índico e o seu sucesso permitiu engrandecer Portugal. Ao conseguiu criar uma cadeia de fortalezas colocadas em pontos estratégicos, Afonso de Albuquerque conseguiu tornar o Índico num mare clausum português, uma façanha proveitosa para Portugal.
Afonso de Albuquerque foi governador nos últimos seis anos da sua vida. Entre as suas façanhas está o facto de ter conseguido estabelecer a capital do Estado Português da Índia em Goa.
Afonso de Albuquerque conseguiu conquistar Malaca e também conseguiu chegar às ilhas Molucas. Afonso de Albuquerque conseguiu dominar Ormuz. Afonso de Albuquerque estabeleceu contactos diplomáticos com diversos reinos, nomeadamente com a Índia, a Etiópia, a Pérsia, o Sião e até mesmo a China.
Afonso de Albuquerque foi agraciado com o título de vice-rei pouco antes da sua morte. Foi o primeiro português a receber um título além-mar. Além disso, foi nomeado “Duque de Goa”.
Afonso de Albuquerque foi o primeiro duque nascido fora da família real. Este ilustre português tornou-se no segundo europeu a fundar uma cidade na Ásia. Apenas Alexandre, o Grande, já o tinha feito anteriormente.
5 – D. João II (1455-1495)
Este rei teve uma visão inovadora. Além de ter consolidado o poder real, D. João II visou a construção de um estado moderno. Este rei preparou uma estrutura que permitiu ter as bases de uma empresa colonial. No entanto, os frutos recolhidos dos seus feitos foram mais visíveis nos reinados dos reis que lhe sucederam.
D. João II fez com que D. Afonso, seu filho, casasse com a infanta Isabel, herdeira dos reis de Castela e Aragão. Esse casamento era a parte visível de um projeto de hegemonia peninsular que estava a ser alimentado por D. João II. Contudo, apesar do casamento se ter realizado em 1490, o seu projeto esfumou-se depois da morte do filho que aconteceu pouco depois do casamento.
6 – Pedro Álvares Cabral (1467-1520)
Pedro Álvares Cabral nasceu em 1467 (ou 1468) em Belmonte. A sua família nobre era oriunda da província interior. Ele recebeu uma boa educação formal. Este português foi um homem versátil. Além de fidalgo, foi comandante militar, navegador e explorador. Historicamente é-lhe atribuída a descoberta do Brasil.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral foi nomeado para chefiar uma expedição à Índia, que tinha como missão seguir a rota recém-criada por outro ilustre português, Vasco da Gama. A sua frota era constituída por 13 navios.
Apesar de ter desejado chegar à Índia, Pedro Álvares Cabral chegou a um destino distinto e chamou-lhe terras de Vera Cruz. Estas terras foram descobertas por acidente.
A sua verdadeira missão era chegar à Índia. Devia seguir uma rota que iria permitir a recuperação do comércio das especiarias. No entanto, ao longo do percurso, a armada de Pedro Álvares Cabral afastou-se bastante da costa africana (terá sido intencionalmente ou um mero acidente?) e foi ter à América do Sul.
O português aproveitou bem o desvio realizado. Ele explorou bem o litoral do que hoje conhecemos como América do Sul. Ao longo do percurso, Pedro Álvares Cabral foi reivindicando para o domínio da Coroa Portuguesa as várias terras que ia encontrando.
Como o território que encontrava estava localizado dentro do hemisfério português, segundo o Tratado de Tordesilhas, podia ser reivindicado para a Coroa Portuguesa. O português morreu em Santarém, por volta de 1520.
7 – Vasco da Gama (1469-1524)
Num contexto temporal em que o domínio de grande parte das rotas comerciais entre a Europa e a Ásia estava na posse da República de Veneza, os portugueses desejavam ardentemente chegar à Índia.
Esse sempre foi o objetivo principal dos portugueses, desde 1460. Eles pretendiam atravessar a extremidade sul do continente africano de forma a colocar as mãos nas riquezas da Índia.
Bartolomeu Dias conseguiu o feito de dobrar o Cabo da Boa Esperança, num momento histórico em que Vasco da Gama era apenas um menino de 10 anos. Esse momento emblemático tornou a concretização dos planos portugueses mais viável e com maior possibilidade de sucesso. As explorações realizadas por terra corroboravam esta hipótese.
Muitos desconhecem que essa tarefa foi atribuída inicialmente a Estevão, mas quem é esse Estevão? Trata-se de Estevão da Gama, presumidamente o pai de Vasco da Gama. Este navegador só conseguiu fazer a ligação marítima desejada após assumir o comando da expedição.
Vasco da Gama assumiu essa posição após a morte do pai. O ilustre português conseguiu chegar finalmente ao destino mais desejado, à Índia. Vasco da Gama chegou a ser vice-rei da Índia.
8 – Fernão de Magalhães (1480-1521)
Este português ilustre nasceu em 1480, no Porto. Fernão de Magalhães era membro de uma família fidalga de Ponte da Barca. Ele tinha apenas 12 anos quando se tornou pajem da Rainha D. Leonor. Fernão de Magalhães acompanhou D. Francisco de Almeida na ida para a Índia, em 1505, e por lá viveu ao longo de 8 anos.
O português tinha o objetivo de alcançar as ilhas Molucas. Este plano foi proposto primeiro a D. Manuel I, algo que o rei português recusou. Mais tarde, em 1517, mais precisamente, o português colocou-se ao serviço do rei espanhol Carlos V, que deu as condições a Fernão Magalhães para avançar.
O português partiu de Sevilha nesse ano. Tinha à sua responsabilidade 5 navios e 250 homens. O objetivo era navegar para Ocidente, procurando uma passagem a ser realizada entre os oceanos Atlântico e Pacífico, de forma a chegar às ilhas Molucas.
O percurso não foi nada fácil. Após ter lidado com revoltas, fome e sede, Fernão de Magalhães acabou por alcançar as ilhas Filipinas, em 1521. O português morreu nas Filipinas (em Mactan, mais precisamente), no dia 7 de abril de 1521.
Na sequência de uma emboscada, Fernão de Magalhães foi morto por indígenas. O espanhol Sebastião Delcano e mais 18 homens conseguiram escapar. A viagem foi terminada e estes homens conseguiram regressar a Sevilha em 1522, após terem conseguido dar a primeira volta ao mundo.
9 – António Vieira (1608-1697)
Segundo Fernando Pessoa, o padre António Vieira foi “o imperador da língua portuguesa”. Ele nasceu em Lisboa, em 1608. António Vieira era ainda uma criança de 7 anos de idade quando teve de partir com a família para o Brasil.
O pai da criança que viria a tornar-se no padre António Vieira era da baixa nobreza. Ao assumir o cargo de secretário da Governação, a família deslocou-se ao outro lado do Atlântico. Foi por isso que António Vieira estudou no colégio jesuíta da Baía.
Posteriormente, entrou para a Companhia de Jesus, em 1623, mais precisamente. Mais tarde, em 1634, foi ordenado padre. António Vieira tinha apenas 26 anos quando tal aconteceu.
O padre António Vieira era um comunicador nato, um verdadeiro especialista na arte de comunicar. O padre jesuíta integrou uma delegação que veio a Portugal em 1641, com o propósito de manifestar a D. João IV o apoio do Brasil à Restauração. Os sermões do padre António Vieira em Lisboa revelaram-se um êxito total.
Além de ser um comunicador exímio, este português era também um homem de causas. O padre António Vieira não se ficava pelo discurso polido. Mostrou ser um defensor acérrimo dos judeus e dos índios. O padre português foi missionário e entregou-se totalmente a causas que o apaixonavam.
O português convenceu o rei a terminar com a pena de confisco dos bens por delito de judaísmo, por exemplo. No Maranhão, o Padre António Vieira conviveu com os índios e colocou-se do lado dos índios em disputas com os colonos, que os escravizavam.
O padre António Vieira envolveu-se na política local, tendo defendido com a sua sagacidade natural (e singular…) a abolição da escravatura dos índios.
Apesar das suas posições que podiam colocar em causa a sua vida, o padre António Vieira morreu com quase 90 anos, no dia 17 de junho de 1697, na Baía.
10 – Aristides de Sousa Mendes
Foi no dia 19 de julho de 1885 que nasceu Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, em Cabanas de Viriato, Viseu. Aristides licenciou-se na Universidade de Coimbra (em Direito), em 1907.
Este português ilustre optou por seguir a carreira diplomática. Aristides de Sousa Mendes casou-se no ano seguinte com uma prima. Angelina foi sua companheira de vida e pessoa com quem teve 14 filhos.
Aristides era Cônsul em Bordéus e estava em França quando assistiu ao início da II Guerra Mundial. António de Oliveira Salazar (1889 -1970) queria que Portugal se mantivesse neutro no conflito. Essa era sua decisão estratégica, que tinha vantagens e desvantagens para o país. Salazar previa que com a guerra surgiria um afluxo de refugiados, por isso decidiu enviar ao corpo diplomático novas regras para a concessão de vistos.
Este documento (tratava-se da Circular nº 14, de novembro de 1939) indicava a proibição de todos os cônsules fornecerem passaportes ou vistos a “estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio”, apátridas e judeus. A proibição era para todos, “quer tenham sido expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos”.
Aristides de Sousa Mendes era um homem católico. Ele era monárquico e conservador. Esta ordem era clara e objetiva. No entanto, também foi considerada desumana por Aristides de Sousa Mendes. O ilustre português desobedeceu às ordens do ditador português.
O memorial Yad Vashem encontra-se em Jerusalém. Neste espaço dedicado às vítimas do Holocausto, é possível encontrar uma árvore com o nome Aristides de Sousa Mendes. Esta homenagem ao herói português é perfeitamente justificável. Ao passar os vistos ele salvou da morte cerca de 30 mil pessoas. Estas pessoas eram perseguidas pelos nazis quando Aristides de Sousa Mendes lhes deu uma oportunidade de fuga.
Ele sabia que a sua decisão hipotecava o seu futuro. Ele viveu e morreu na mais negra miséria. Ele mudou a sua vida e a de milhares de pessoas com a sua decisão e salvou milhares de vidas. Aristides de Sousa Mendes ousou desafiar o homem mais poderoso e temido de Portugal, por isso tornou-se num herói do mundo!
Excelente resumo da história de Portugal, indicando nomes e situações para quem se interessar por pespisas mais abrangentes.