Todos os países têm momentos caricatos na sua história e Portugal não é exceção. Entre os acontecimentos mais insólitos, encontramos decisões que hoje parecem absurdas e episódios que raramente são contados nos livros de história. Ao revisitar estas histórias, fica a curiosidade: em que estaria a pensar quem as protagonizou? Este artigo compila 10 episódios verídicos da história de Portugal que só podem ser lidos com humor.
1. Condecorações para os amantes da mulher
João VI foi um rei pacífico e tolerante, mas também conhecido pela sua indecisão. Casou-se com a sua prima D. Carlota Joaquina, mas o matrimónio foi tudo menos amoroso. D. Carlota era ambiciosa, autoritária e frequentemente infiel. Em vez de enfrentar as traições da rainha, o rei optou por uma solução peculiar: concedia aos seus amantes a comenda de Torre-e-Espada, uma das mais altas distinções do reino. Para justificar tal honraria, mencionava apenas “justos e particulares motivos” nos diplomas. Assim, muitos homens foram condecorados sem saberem que tal distinção era um reconhecimento à sua participação na cornitude do rei.
2. Os descendentes portugueses do Papa
O Papa Inocêncio XIII, eleito em 1721, deixou a sua marca na história de Portugal de forma inesperada. Antes de se tornar pontífice, foi núncio apostólico em Lisboa e envolveu-se amorosamente com mulheres portuguesas, gerando descendência ilegítima. Esses filhos, reconhecidos pelo pai, receberam apelidos nobres como Conti ou Contini e ascenderam a posições de destaque na sociedade portuguesa dos séculos XVIII e XIX.
3. Juízes analfabetos
No Portugal do século XVII, a taxa de analfabetismo era alarmante, afetando até mesmo as classes dirigentes. Era comum encontrar juízes que não sabiam ler nem escrever, baseando as suas decisões na tradição oral ou no apoio de escrivães.
A falta de competência literária facilitava a corrupção e a manipulação. Somente em 1642, um alvará real proibiu que pessoas analfabetas ocupassem cargos de juízes, marcando um passo importante rumo à modernização judicial.
4. Os vivas a Dona Carlota
Carlota Joaquina, odiada por muitos, esteve envolvida em diversas conspirações contra o marido D. João VI e o filho D. Pedro IV. Durante a guerra civil que opôs D. Pedro e D. Miguel, Carlota Joaquina foi presa na Torre de S. João da Barra.
Ali, guardas apoiantes de D. Pedro, em tom irónico, gritavam “vivas à Dona Carlota Joaquina” e insultavam o soberano com expressões vulgares, sem perceber que insultavam também a própria rainha.
5. O verdadeiro pai de D. Miguel
Rumores históricos sugerem que D. Miguel, filho de D. Carlota Joaquina, não seria filho biológico de D. João VI, mas sim do marquês de Marialva, D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho. O marquês, amante da rainha, destacava-se pela sua valentia e carisma, além de possuir uma semelhança física com D. Miguel. Tal ligação não passa de especulações, mas alimenta debates entre historiadores até aos dias de hoje.
6. A Inquisição e os mortos
A Inquisição portuguesa não perseguia apenas os vivos, mas também os mortos. Um dos casos mais insólitos foi o de Gabriel Malagrida, um jesuíta italiano executado em 1761 por heresia. Anos depois, o crânio de Malagrida foi exumado e queimado novamente em 1774, num segundo auto-de-fé, demonstrando a obsessão dos inquisidores em eliminar qualquer traço de heresia, mesmo pós-morte.
7. O padre que reclamava da falta de mortes
No século XVIII, o padre António José da Silva, da freguesia de São Pedro de Alcântara, queixou-se ao bispo de Lisboa pela falta de mortes entre os seus paroquianos, alegando que tal situação o prejudicava financeiramente. A carta causou indignação no bispo, que suspendeu o padre das suas funções, evidenciando a ganância e a falta de empatia que podiam dominar o clero da época.
8. Os marcos da Rainha D. Maria I
Durante o reinado de D. Maria I, foi lançado um ambicioso projeto de construção de estradas financiado por impostos sobre o sal e o tabaco. Contudo, a corrupção comprometeu o projeto, com desvios de fundos por parte de comerciantes e funcionários públicos. O esquema, conhecido como a “burla do dinheiro para as estradas”, exemplifica os desafios da administração pública na época.
9. Os sinos de D. João III
Em 1529, um carregamento de cobre enviado por D. João III à Dinamarca foi roubado por protestantes. Para compensar o rei, enviaram-lhe sinos de igrejas de Copenhaga, garantindo que seriam devolvidos assim que a Dinamarca voltasse ao catolicismo. Embora desconfiado, D. João III aceitou os sinos, que se tornaram um símbolo curioso das tensões religiosas da época.
10. Os bens dos cristãos-novos
Segundo a VortexMag, a Inquisição confiscava frequentemente os bens de cristãos-novos, judeus convertidos ao catolicismo. Embora o rei tivesse o direito de receber esses bens, muitas vezes recusava-os por acreditar que traziam má sorte. Os inquisidores, por outro lado, não tinham tais escrúpulos, enriquecendo à custa da desgraça alheia e perpetuando a injustiça.
Cada uma destas histórias é um lembrete de que a história é recheada de eventos tão bizarros quanto fascinantes. Conhecer o passado, mesmo nos seus momentos mais caricatos, ajuda-nos a compreender as peculiaridades de uma sociedade em constante evolução.