Na margem sul da Albufeira do Alto Rabagão encontra-se Vilarinho de Negrões, uma das aldeias mais pitorescas de toda a região, pelo seu casario ainda relativamente preservado e, acima de tudo, por se encontrar sobre uma estreita e bela península – um pedacinho de terra poupado à subida das águas.

Vilarinho de Negrões é assim uma terra que se vê diariamente ao espelho e se distingue à distância pela sua perfeita simetria, uma espécie de Jardim do Éden português. Perto, situa-se a freguesia de Negrões, alma gémea, que possui um forno todo em granito. É um monumento a contrastar com canastros esguios, onde o milho e o centeio se conservam. Prepare-se, a região do Barroso é diferente de tudo aquilo que alguma vez já viu!

Na calma da manhã é possível observar alguns mergulhões de crista e outras aves aquáticas que aqui costumam passar o Inverno, fugindo aos rigores das latitudes mais a norte; à medida que os primeiros raios de sol vão levantando, o nevoeiro e os vizinhos humanos começam a acordar, afastam-se para uma pequena ilhota deserta formada por u m enorme penedo.

Mais uma vez teço comparações um pouco descabidas mas inevitáveis, quando me vêem à memória imagens de lagos nas terras altas da Escócia – onde também nadam estas aves, onde também se erguem ilhas das águas quietas, onde também há montanhas frias, de contornos suaves. Mas não vale a pena cortar asas à imaginação; afinal, esta é também uma peculiar virtude das terras de Barroso: levar-nos para bem longe sem sairmos daqui tão perto.