Três falsos amigos galegos (para maiores de 18)
O galego e o português estão muito próximos mas a proximidade tem as suas armadilhas. Existem palavras que parecem iguais, mas querem dizer coisas muito diferentes. Conheça três falsos amigos galegos.

Como já tantas vezes discutimos por estas paragens, o galego e o português estão muito, mas muito próximos — ora, a proximidade tem as suas armadilhas.
Existem, de facto, algumas palavras que parecem iguais, mas querem dizer coisas muito diferentes… Pois, hoje, dou três exemplos de falsos amigos galego-portugueses.
Começo no «labrego», avanço pelo «grelo» e acabo nos perigos que se escondem na palavra «bico»…
«Labrego»

O primeiro falso amigo é muito inocente. Longe de ser para maiores de 18, é para todas as idades. A verdade é que é difícil encontrar portugueses que não se riam quando descobrem que, na Galiza, existe um Sindicato Labrego Galego.
Sim, um labrego, na Galiza, é apenas e só um lavrador. Já um labrego, em Portugal, até pode ser um lavrador — mas também há labregos fechados em escritórios ou vestidos de fato inteiro. Não consta que, por cá, se tenham organizado num sindicato.
«Grelo»

A história ficou famosa, pelo menos entre quem liga a estas coisas. O município galego de As Pontes promove anualmente um festival do grelo. Nada contra: comer verduras faz bem e um festival deste tipo só pode ser coisa boa.
O festival é coisa em grande, pois até tem um website — compreende-se que o município tenha decidido traduzir o tal website para espanhol a partir do original galego.
Abrande agora o leitor, como fazem tantos condutores ao passar por um acidente. Pois aquilo que aconteceu foi um autêntico acidente de tradução. Com feridos graves!
O nome do festival — ou da feira — era bastante claro em galego: «Feira do grelo».
Já a tradução para espanhol ficou, no website, com este lindo aspecto: «Feria clítoris». Não contente, o texto continuava: «El clítoris es uno de los productos típicos de la cocina gallega.» — o que, imagino, deve surpreender bastante os peregrinos que chegam a Santiago…
O que se passou?

Bem, o município decidiu poupar na tradução (ah, não façam isso!) e foi ao nosso amigo Google Translate. Ora, a Google usava o português para alimentar o motor de tradução de galego para espanhol. Resultado?

O inocente grelo galego deu uma guinada, transformou-se na palavra portuguesa e foi embater num muro a grande velocidade, deixando os responsáveis do município com as faces bem ruborizadas de vergonha.
Note-se, já agora, que o Google faz isto porque o galego e o português, enfim, estão muito próximos. Ora, lá está: a proximidade, por vezes, também nos prega umas rasteiras.
Algumas notícias sobre o caso saíram em jornais como La Voz de Galicia, JN ou The Guardian.
(Quem pela primeira vez me falou dessa particularidade do Google Translate no que toca ao galego foi o meu amigo José Ramom Pichel — convido o leitor, já agora, a conhecer o seu blogue, onde escreve sobre o galego e os seus labirintos: Quatro Estômagos.)
(cont.)
O problema é que o tradutor Google utiliza o português brasileiro e não o português PT. Aliás o acordo ortográfico também. .
Fico desiludido perante um artigo tão irrelevante e carente de rigor. Um tradutor de espanhol é o seu recurso de autoridade !