Sismos: A placa africana está a rachar o país
A falha de Arraiolos era desconhecida dos cientistas. Poderão existir outras provocadas pela pressão da placa africana, mas o número de sismos não parece estar a aumentar.
O sismo de Arraiolos foi uma surpresa. Não só porque não se pode prever um sismo, como porque este é o maior sismo originado em terra nos últimos anos, mas sobretudo porque esta falha não era conhecida.
Não existem evidências de que os sismos em Portugal estejam a aumentar de frequência, mas a pressão que a placa africana está a exercer sobre a microplaca ibérica onde está instalado o nosso país pode fazer com que apareçam mais falhas, ocorram mais sismos e que estes tenham uma magnitude maior.
Embora os sismos em terra não tragam consigo o problema dos tsunamis, Portugal não está livre de perigo de ser atingido por um maremoto. Estarão as autoridades de proteção civil preparadas para um sismo que ocorra em terra ou no mar? E os edifícios serão capazes de resistir a um grande sismo?
Descubra as respostas para estas e outras perguntas sobre sismos.
1 – Porque é que ocorreu um sismo em Arraiolos?

Porque há uma rutura na crosta terrestre que passa mesmo por baixo da aldeia de Santana do Campo, em Arraiolos, e que libertou a energia que havia acumulado nos últimos anos. O que é curioso é que não conhecemos a falha existe naquela região: é provável que esta ruptura seja o resultado de forças compressoras exercidas pela placa africana na zona da placa euroasiática onde Portugal fica assente.
Vamos por partes. Em termos sísmicos, Portugal está condicionado pela interação entre três placas tectónicas, peças que compõem a litosfera da Terra e que se movimentam entre si: a euroasiática, a norte-americana e a africana. A placa euroasiática e a placa norte-americana estão a afastar-se uma na outra, num movimento de divergência que é responsável pela intensa atividade sísmica registada nos arquipélago dos Açores.

Mas, para entender o que aconteceu em Arraiolos, devemos concentrar-nos na placa euroasiática e na placa africana, que roçam uma na outra num limite a que os geólogos chamam transformante porque não destrói nem cria nova crosta terrestre. Ora, Portugal fica assente numa região muito particular da placa euroasiática: é a microplaca ibérica, que se movimenta para leste e se vai soldando à placa asiática.
Essa microplaca, no entanto, é influenciada pela placa africana, que se está a mexer para noroeste. À medida que a placa africana se mexe, ela comprime a microplaca ibérica e cria as chamadas falhas intraplaca. É esta interação de compressão que está na origem da Cordilheira Bética, um conjunto de sistemas montanhosos com 600 quilómetros que rasga o sul da Península Ibérica desde o estreito de Gibraltar até Cabo da Nau (Alicante).
À medida que a placa africana vai investindo sobre a microplaca ibérica, Portugal Continental fica à mercê de cada vez mais falhas tectónicas que testemunham essas forças de compressão: a microplaca sofre um levantamento litosférica e racha-se em falhas onde se acumula muita energia.
O que Pedro Proença Cunha, geólogo da Universidade de Coimbra explicou, é que nos últimos milhares de anos, essa compressão tem aumentado cada vez mais. Isso resulta no aparecimento de mais falhas no país, que acumulam mais energia. E mais energia, neste caso, traduz-se não só num maior número de sismos como também na existência de sismos com maior magnitude.
Apesar de o Alentejo ser uma zona portuguesa de perigosidade sísmica conhecida — a atividade sísmica nesta região é comum –, os geólogos não conheciam bem a falha que passa mesmo por baixo desta aldeia. Supõe-se então que esta seja uma das falhas desconhecidas e pouco estudadas que tenham nascido desta compressão exercida pela placa africana na microplaca ibérica.
[Veja no vídeo o que se sabe sobre estes violentos choques que estão a rachar Portugal]
_
(cont.)