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A perigosidade sísmica, enquanto probabilidade de se atingirem determinadas intensidades sísmicas num local definido, nunca é igual a zero, diz Alfredo Campos Costa, chefe do Núcleo de Engenharia Sísmica e Dinâmica de Estruturas, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Estará sempre dependente da distância ao foco do sismo, da intensidade com que atingir um determinado local e do tipo de solos presentes.
Ondas sísmicas são amplificadas no Vale do Tejo
O Vale do Tejo é uma bacia sedimentar pouco consolidada, composta por areias e argilas soltas com cerca de 60 milhões de anos. Já os limites da bacia sedimentar são mais consolidados.
Quando as ondas sísmicas se propagam no solo, quase como as ondulações da água num copo, batem nas rochas mais consolidadas (o bordo do copo) e voltam para trás, amplificando as ondas e tornando o efeito do sismo maior.
É por isso que a região de Lisboa e Vale do Tejo se encontra numa situação frágil. As falhas que existem na região aumentam a proximidade ao foco do sismo que nelas ocorra. E, como já referimos, a energia libertada (medida na escala de magnitudes de Richter), logo a capacidade destruidora, pode ser elevada. Acresce ainda que os solos da região também não ajudam: os solos arenosos ou argilosos, pouco consolidados, amplificam os movimentos do solo. Já os calcários, granitos e basaltos vibram muito menos.
Mas nem toda a região tem exatamente a mesma perigosidade sísmica. Em Lisboa, a perigosidade é média a elevada na Baixa Pombalina, mas mais baixa na Ajuda, acrescenta Campos Costa. Além disso, os solos pouco consolidados, como os aluviões característicos das margens do Tejo, podem liquefazer-se com as vibrações provocadas pelo sismo, resultando no colapso dos edifícios. Daí que seja importante estudar o tipo de solo e adaptar a construção, e a respetiva resistência antissísmica, tendo em conta esta informação.

As falhas da região do Vale do Tejo podem ter um grande impacto nesta zona. Pensa-se que sejam responsáveis pelos grandes sismos de 1531, em Lisboa, e de 1909, em Benavente, mas não são as mais perigosas, em termos gerais, para o país. Uma falha produzirá um sismo tanto maior (com mais energia), quanto maior for o seu comprimento e profundidade, lembra João Carvalho.
E isso acontece ao largo do cabo de S. Vicente (150 quilómetros a sudoeste), onde as placas tectónicas euroasiática e africana se encontram. Esta falha transformante (em que as placas deslizam uma ao lado da outra) também é responsável pelos sismos frequentes nos Açores.
Foi um sismo com origem nesta falha que terá provocado o sismo de 1755 (de magnitude estimada 8,75) e também o de 1969 (com magnitude 7,9). E um sismo de elevada magnitude nesta zona pode acabar por influenciar as falhas na região do Vale do Tejo. “A rutura sísmica numa falha altera as tensões nas regiões da crosta envolventes, podendo aproximar da rutura as falhas vizinhas, que cedem mais cedo gerando assim sismos que são desencadeados pelo primeiro. Estes podem ocorrer minutos, horas ou dias após o primeiro sismo”, explica João Cabral.
(cont.)
O Terramoto de 1755 bem demonstrou que Lisboa está assente sobre placa tectónica muito activa e perigosa. Aproveito a oportunidade para, se for possível, reenviarem o artigo sobre a história de Coimbra, capital de Portugal cerca de 200 anos. Obrigado