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Um par de ténis e uma tareia
Paulo teve o seu primeiro par de Sanjo quando tinha cinco anos. Felizmente, a sua primeira história com a marca não teve o desfecho doloroso daquela que conta na terceira pessoa. “Quando estava à procura de ténis antigos, conheci um senhor que, em pequeno, levou uma grande tareia por causa de uns ténis Sanjo”, conta.
Resumindo a peripécia, parece que o pai tinha passado três ou quatro meses a fazer horas extra e a poupar dinheiro para comprar os ténis que o filho tanto desejava. Um dia, fez-lhe a surpresa. O delírio durou dias, mas menos de uma semana depois, por causa de travar a bicicleta com o pé na roda traseira, um dos ténis ficou com um buraco enorme. Conclusão: o pai descobriu e o drama familiar incluiu uma tareia daquelas (diz que com cinto e tudo).

25 de Abril: abrem-se as fronteiras, entram os All Star
Até 1974, a Sanjo detinha o monopólio dos ténis em Portugal e só com dois modelos diferentes. Com a abertura das fronteiras e a chegada das grandes marcas estrangeiras, ainda que mais caras, o cenário alterou-se.
Nike, Vans, Converse, –ilustres desconhecidas para os portugueses tornam-se rapidamente objetos de desejo, não só pela novidade e pelas influências culturais às quais o país se abriu (entre elas, a MTV e os seus artistas), mas acima de tudo pelo design, pelas cores. É no final dos anos 70 e início da década de 80 que a Sanjo tenta dar a volta à situação.

“Nessa altura, a marca tenta acompanhar as tendências. Começa a trabalhar borrachas diferentes, a ter lona de outras cores, chegou mesmo a fazer solas com uma risca como os All Star”, explica Paulo. Foi nessa altura que os preços começaram a descer. Os All Star, da Converse, eram adversários de peso, mas continuava a haver uma fatia da população que não conseguia comprar os novos ténis importados.
Ao mesmo tempo, usá-los representava um reduto de orgulho nacional, ainda assim, insuficiente. Paulo fala numa empresa que não sabia viver com concorrência e numa direção sem visão competitiva. No culminar de uma morte lenta, a Sanjo, bem como a Empresa Industrial de Chapelaria que a detinha, faliram em 1996.
(cont.)